Bolsonaro e Ventura são deste mundo
Não se admirem com o potentado e crescimento destas bizarrias. Bolsonaro e Ventura são deste mundo novo que não é nada bom
O mundo evolui, muda, mas a grande interrogação é se para melhor. Se fizessem uma sondagem – das credíveis – perguntando se tudo piorou, iriam ver que a esmagadora maioria diria que os tempos mudaram para pior. São os políticos que perderam densidade, jornalismo que perdeu força e independência, Justiça que não pune os poderosos, militares que perderam os galões e até perdem armamentos, Igreja que está cheia de casos de pedofilia, o euro que elevou o custo de vida mas não duplicou os salários e até o pão que comemos de manhã perdeu sabor. E, acima de tudo, o mundo de hoje perdeu equilíbrio e racionalidade, ganhando dimensão as franjas mais extremistas e populistas que durante décadas estiveram silenciadas por um sistema que nunca as soube domar ou matar.
São muitos os que se preocupam com a ascensão do furacão tropical Jair Bolsonaro, provavelmente os mesmos que não souberam lidar com as vitórias de Trump, Salvini ou Orban. E o problema é que quanto mais se fala num populista, quanto mais as manifestações ou senhoras a agarrar em cartazes contra eles se intensificam maior é o combustível e publicidade que estão a dar a verdadeiras nulidades, que a comunicação social é obrigada a noticiar pelo interesse público, contribuindo assim, indirectamente, para o fulgor da vacuidade de ideias de tais almas. Claro que custa a quem ama o Brasil ver um país fabuloso, rico, um vulcão de criatividade com personalidades interessantes e carismáticas a cair nas mãos de alguém de quinta categoria. Porém, temos de ser justos e dizer que também ninguém gosta de ver o mesmo país atolado na corrupção e num “Mecanismo”, como na série de José Padilha, em que a classe política se vende pelas propinas pagas por construtoras e empresas concupiscentes. E a guerra que agora aconteceu entre Bolsonaro e Haddad não foi de esquerda vs. direita, mas sim de Anti-PT contra PT, esta é a história real desta eleição e daí o enorme índice de rejeição de ambos os candidatos. E se quiserem conhecer a mais poderosa metáfora sobre o abismo em que o Brasil pode tornar a cair, revisitem um dos melhores filmes brasileiros de sempre, “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, de 1967, três anos depois da ditadura dos generais.
Por cá, logo surgiu um indivíduo a anunciar a criação de um novo partido. Parece que se chama, “Chega” e tem como ideário fundamental o fim do casamento gay, a prisão perpétua e a castração química de pedófilos. Neste cocktail de ausência de bom senso, só falta a pena de morte e o direito de porte de arma para o faroeste ser completo. Ora, Portugal não pode nem vai ser um paraíso para trogloditas porque a sociedade civil não é tão estúpida assim e Portugal tem brandos costumes que não podem passar para o domínio da “vox populi” à porta dos tribunais que pede a mesma pena de morte porque, ouvi eu, «não podemos andar a pagar para comerem à conta das pessoas nas prisões». O irresponsável que quer criar este partido chama-se André Ventura e para lá de comentar tudo nas televisões, até um Bacalhau à Gomes de Sá se lhe perguntarem, parece que é professor universitário. Pobre universidade, pobres alunos e pobres pais que pagam mensalidades que sustentam tal docente.
Um dos males das democracias e dos politicamente correctos é os jornais autorizarem todo o tipo de comentários de chanfrados com ofensas, má-fé, insinuações graves nas caixas de comentários on-line que são autênticos esgotos a céu aberto. São redes sociais que permitem tudo e figuras públicas que têm medo de denunciar ou bloquear cretinos por terem receio de perder popularidade. É neste caldo de porcaria e de nojo que grassam estas perigosas criaturas e que danificam inexoravelmente as instituições e a calma que deve consubstanciar a vivência em sociedade. Não se admirem portanto com o potentado e crescimento destas bizarrias medíocres. Bolsonaro e Ventura são deste mundo novo que não é nada bom.
O autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
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