Com os chineses não se brinca

A submissão do líder da Alibaba e o controlo da sua tecnologia é só mais um ato repressivo da ditadura chinesa, que acabou de assinar um vantajoso acordo com a União Europeia.

Na China, não há negócios intocáveis. E isto não significa uma defesa do interesse público. Significa, antes, uma defesa intransigente daquilo que a ditadura chinesa considera ser o melhor para os seus próprios interesses. Durante quase duas décadas os gigantes tecnológicos chineses foram incessantemente promovidos por Pequim – e apoiados pelas suas estruturas políticas, financeiras e securitárias.

Quando, em Outubro, o líder da Alibaba Jack Ma se atreveu a criticar o governo chinês e a sua política regulatório, a ação foi rápida: Ma desapareceu durante quase três meses e a nacionalização da sua empresa gigante tornou-se iminente. Isso levou a uma queda em bolsa que o Financial Times estimou em 12.8 mil milhões de dólares – por minuto – do tal discurso feito em Outubro.

Bem ao estilo dos filmes de espionagem, o líder da AliBaba voltou a aparecer em público três meses depois, falando paulatinamente sobre o seu interesse em dedicar-se à beneficência. A verdade é que tudo na China existe para servir a ditadura repressiva: os interesses económicos, a tecnologia, a sociedade, o exército e os cidadãos são meros adereços num esforço conjugado de manutenção de poder para a clique vigente.

E foi com estes simpáticos senhores que a União Europeia, pelas mão de Angela Merkel, se apressou a fazer um acordo económico aprofundado. Merkel sabe bem que a sobrevivência da indústria alemã depende da China, não tendo sequer hesitado em comprometer toda a UE num esforço que garante a expansão do poderio económico chinês sobre o continente, incluindo a espionagem industrial que tem sido a imagem de marca do regime.

Como de costume, os líderes europeus pensam a curto prazo, enquanto a ditadura de Pequim pensa a muito longo alcance. As consequências não serão boas. A nacionalização da Alibaba, Meituan e Tencent, a par do controlo efetivo da Huawei, da Baidu e dos outros gigantes tecnológicos, significa que Pequim tem na mão os recursos-chave para a economia do século XXI: controla a robótica (graças a um presente alemão) que será necessária para a reconversão industrial de curto prazo; assume o avanço tecnológico nas tecnologias de comunicação; detém diretamente os dados essenciais de um sexto da humanidade e acede aos dados de outros tantos; domina globalmente a inteligência artificial, não se detendo com considerações éticas ou democráticas na sua aplicação.

E é este monstro que agora terá acesso simplificado aos mercados europeus, alienando os esforços diplomáticos americanos pelo caminho. E já nem vale a pena referir aquele incómodo detalhe chamado Direitos Humanos, que é supostamente um dos valores basilares da União. Ainda falta muito para que o acordo seja assinado e o Parlamento Europeu terá certamente uma palavra a dizer. A ver vamos se a pressão chinesa e os poderes maiores da UE que fecharam o acordo falam mais alto.

Ler mais: O excelente livro de Amy Webb, The Big Nine, cobre precisamente aquilo a que autora chama de “Dinastia de Inteligência Artifical” que pode ser gerada na China. Vale a pena ler e pensar o que será ter esse poder regulado não por acionistas em mercado livre mas sim por um estado ditatorial. E os riscos que todos os cidadãos do mundo correm nesse cenário.

 

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