Editorial

Costa a fazer o que sabe fazer melhor

António Costa sabe fazer uma coisa acima de todas as outras, distribuir. Distribuir o que o Estado recebeu a mais, muito mais, à boleia da inflação.

António Costa comporta-se como um pecador que encontra uma nota de quinhentos na rua e vai a correr para uma igreja para fazer um donativo e assim expiar os seus pecados. A distribuição de um cheque de 240 euros na antevéspera de Natal é muito importante para o milhão de famílias de baixos salários depois de um ano de perda de rendimentos por causa da inflação acelerada, mas este presente de natal tem uma origem, e uma razão de ser. E nenhuma é bonita de ver.

Primeiro, uma nota prévia: António Costa dá uma entrevista à revista Visão em que mostra arrogância em todo o seu esplendor. Perante tudo e todos (e até na forma como volta a tentar humilhar o seu ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, quando diz que o mais greve que aconteceu nestes nove meses de legislatura foi a crise que quase levou à sua demissão, e não o caos nas urgências ou a demissão forçada de Miguel Alves, entre outros…).

Habituem-se, diz o primeiro-ministro. É mesmo isso, habituem-se à sobranceria de quem, com a maioria absoluta, não é capaz de tirar o pais deste empobrecimento contínuo, habituem-se a ver os cidadãos de outros países do euro a enriquecerem mais depressa, habituem-se a depender mais e mais do Estado com serviços públicos a menos, habituem-se a pagar seguros de saúde privados porque o SNS está em degradação crescente, habituem-se ao poder absoluto que impede que sucessivos ministros sejam fiscalizados no Parlamento, habituem-se às interferências políticos em negócios privados. Habituem-se.

Assim, de repente, António Costa anuncia a boa nova. Há um novo cheque de 240 euros para um milhão de famílias, mas isto só é possível porque os malefícios da inflação, quando chegam, não são para todos. O Governo encaixou muito mais impostos do que os que esperava, dinheiro tirado à economia privada, beneficiou diretamente da perda de rendimentos dos portugueses, e isso permitiu o que Costa mais sabe fazer: Distribuir. “Este primeiro-ministro e este Governo não estão preparados para para tempos de dificuldade e de austeridade“, afirmou Luís Marques Mendes ao ECO a propósito de uma notícia sobre os casos que marcaram esta legislatura. “O padrão [de António Costa] é distribuir, foi isso que fez no primeiro mandato, mas o paradigma mudou“, acrescenta. Na verdade, o comentador da SIC precipitou-se, isto é, enquanto houver inflação para andar, e os portugueses aguentarem, Costa vai continuar a distribuir.

Para aquelas famílias, é mesmo um presente tão inesperado como necessário. Infelizmente, não vai mudar nada, porque, como referia Pedro Santos Guerreiro em opinião na CNN, distribuir não é política. No caso de Costa, é mesmo outra coisa, é o perpetuar de uma dependência crescente de muitos portugueses a apoios públicos, porque não há a outra política, aquela que lhes poderia permitir o chamado elevador social. Em Portugal, está parado… no Rés-do-Chão. Habituem-se.

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