Dissonância cognitiva na Economia (II)

Portugal precisa de ter uma visão verdadeira da sociedade, em que empresas e empresários sejam valorizados pelo contributo que dão em vez de serem manipulados por activistas e “justiceiros”.

A dissonância cognitiva em Portugal está também presente na área económica. Na sua essência, a dissonância ocorre em duas dimensões que resultam da divisão entre os portugueses que olham para o futuro do país com esperança numa vida melhor, mas que se retraem no seu comportamento público, e activistas obcecados que procuram impor a sua visão do mundo sem olhar a meios e com o maior espalhafato possível.

Vergonha na criação

A dissonância existe, por um lado, nos que procuram cumprir a sua função de empresários e contribuir para o desenvolvimento do bem comum. São os que empreendem, inovam e querem desenvolver os seus produtos e serviços para responderem às necessidades das pessoas e obterem os lucros que são a recompensa pelo seu esforço e dedicação.

Iniciam cada novo investimento com o fito de criar algo de novo que em si mesmo é uma riqueza que será usufruída por todos, não só os que nele colaboram, mas também os que passam a ter acesso a cada novidade. E com isso cresce a sua esperança pela instalação de uma nova máquina ou robot, pelo crescimento das suas empresas e pela criação de melhores empregos, mais qualificados. Alargam os horizontes das suas empresas procurando novos mercados, desenvolvendo novos produtos e serviços, investindo na criação de riqueza de que todos precisamos e usufruímos.

Fazem-no para defender a sustentabilidade das suas empresas e para que possam continuar a empregar pessoas e a pagar salários, assumindo uma responsabilidade que quase não tem paralelo na sociedade. Cada final de mês é uma preocupação, pois são muitas as famílias – na realidade são todas – que deles dependem.

O seu contributo para o desenvolvimento presente e futuro de Portugal e para o nosso nível de vida é, por isso, único e inestimável. Criam condições para que a vida das pessoas que empregam sejam cada vez melhores, pois sabem que necessitam delas para o futuro das suas empresas, e por isso têm a preocupação de lhes garantir um salário digno de acordo com as suas possibilidades.

Infelizmente, a sua quase totalidade retrai-se quando assistem a conferências em que lhes é dito que a robotização vai destruir empregos e por isso os robots devem pagar impostos ou, assusta-se perante protestos contra o capital e o empresário de charuto na boca. Não têm medo de investir nem de arriscar, mas, infelizmente, têm muitas vezes vergonha em admitir que querem ser justamente recompensados pelo desenvolvimento que geram e que as famílias que deles directamente dependem também merecem essa recompensa.

Esta dimensão da dissonância económica existe porque os que investem e criam riqueza quase que o escondem, inibindo-se de o valorizar perante a sociedade e demonstrando recear as ditaduras informais que diariamente censuram a sua actividade. A sua timidez leva-os a terem de apresentar os bons resultados que obtêm com uma série de ressalvas que soam a um pedido de desculpas pelo contributo que dão para uma sociedade melhor.

Orgulho na destruição

A segunda dimensão da dissonância económica está presente nos que privilegiam a politização das empresas, impregnando o tecido empresarial que garante o desenvolvimento e a nossa qualidade de vida com as suas visões “puristas” da sociedade. Para estes, só há um caminho, só há uma “justiça”, só eles sabem, com certeza absoluta, o que os outros podem e devem fazer independentemente dos custos no presente e no futuro.

Estes activistas incluem empresários e trabalhadores, mas também artistas, “free-lancers”, ambientalistas, jornalistas e outros profissionais das “causas”, que usam as empresas como objecto da sua missão “justicialista”. Para isso adoptam modelos que fingem ser de “parceria”, mas que não só secundarizam os mais interessados – trabalhadores, clientes ou fornecedores – como privilegiam comissários da “justiça social” que se auto-nomeiam como “stakeholders”.

A dissonância acontece porque este novo negócio da pseudo-justiça social é apresentado como sendo para o bem de todos, mas a atitude e as acções dos que o defendem a todos prejudica. O seu purismo ideológico é danoso para os trabalhadores pela riqueza que destrói, para os empresários porque desincentiva a sua actividade, e para todos nós porque limita a iniciativa e a escolha na sociedade. Por cada novo cheque recebido do Estado para esta envangelização é mais um pouco da liberdade e da riqueza que as empresas proporcionam que se perde.

A preocupação principal destes “missionários” é a obtenção de mais subsídios para promover a nova “justiça social”. Para isso apoiam entusiasticamente impostos sobre as empresas cada vez mais altos para que os lucros sejam dados ao Estado e reconvertidos em novos subsídios que apoiem as causas do histerismo “climático”, do paraíso na Terra, da paz mundial, do “desastre” energético, dos veículos “verdes” ou do igualitarismo pacóvio baseado numa visão desumanizada do género humano que o reduz ao absolutismo igualitário, ao sexo ou à raça.

Esta visão “redentora” manipula as vontades exercendo uma forte pressão pública e privada sobre as empresas para que cedam ao fanatismo das causas. Promovem acções de formação, seminários e conferências em ambiente empresarial onde se auto-elogiam e fazem a apologia da natureza inclusiva da “justiça social”, impondo a sua concepção ideológica. Nas suas mentes obsessivas está uma perspectiva inclusiva que é compatível com a chantagem do «ou estás connosco ou contra nós», que é a única escolha que o activismo nas empresas autoriza.

Nem sempre é fácil distinguir entre os empresários que realmente acreditam nesta pseudo-justiça e os que o fazem por mero oportunismo de marketing, mas não há dúvidas de que são muitos os que abraçaram esta visão por “moda”, por seguidismo e comportamento “em rebanho”, para captar subsídios ou então por mero cinismo empresarial.

Talvez uma forma de os identificar seja pelo grau de entusiasmo com que apoiam o ESG, cujo acrónimo inglês “Environmental, Social and Governance” se traduz em português por “Economia Subjugada pelo Governo”. A ESG é uma forma usada com sucesso para manipular empresas e subjugar a economia de mercado aos objectivos ideológicos da “justiça social”. E continua a prosperar ante a indiferença ou o receio dos que por ela são mais afectados.

Portugal precisa de ter uma visão verdadeira da sociedade, em que empresas e empresários sejam valorizados pelo contributo que dão em vez de serem manipulados por activistas e “justiceiros”. Para isso é necessário distinguir os que recusaram ou os que já se arrependeram de criar riqueza para alimentar esta loucura ideológica que a todos prejudica. Só assim poderemos corrigir a dissonância económica e canalizar todos os esforços para o bem comum.

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