Estamos mesmo atrasados no 5G
A chegada do 5G aos iPhones acelera uma corrida em que Portugal está formalmente atrasado. Doravante, não há desculpa: cada dia sem avanços ameaça severamente a competitividade tecnológica do país.
É comum dizer-se que uma tecnologia só é verdadeiramente massificada quando chega ao iPhone. E, esta semana, a Apple lançou os primeiros telemóveis da marca com suporte para 5G, a quinta geração de rede móvel. Não apenas para os modelos mais caros e robustos, mas para toda a nova gama de modelos, desde o iPhone 12 Mini ao iPhone 12 Pro Max.
A partir desta sexta-feira, é possível encomendar um smartphone com 5G da Apple por um preço a começar nos 829 euros. Não é a opção mais barata do mercado, até porque há bastante tempo que a Samsung e a Huawei têm apostado em modelos com esta tecnologia. Mas, a partir de agora, todas as três principais marcas de smartphones têm gama de terminais 5G.
“Apesar de chegar tarde ao jogo do 5G, a Apple entra em grande, introduzindo quatro novos modelos com diferentes preços. Os novos iPhones 5G vão ser um catalisador da adoção do 5G em todo o mundo, particularmente nos EUA, na Europa e na China. O novo iPhone 12 Mini da Apple vai estar entre os smartphones 5G mais baratos no segmento premium”, comenta o analista Francisco Jerónimo, da consultora IDC.
Mas Portugal ainda não tem 5G. E é por isso que, no rescaldo da apresentação da Apple, importa fazer um balanço de onde estamos no desenvolvimento da quinta geração no país.
Primeiro, se há alguns meses havia dúvidas sobre o atraso ou não atraso português nesta área, agora é tudo muito claro: a Anacom está oficialmente atrasada. E porquê? Porquê o regulador não aparenta estar a cumprir o seu próprio calendário, já atualizado às circunstâncias da pandemia.
Dou um exemplo. Há uns dias, perguntaram-me “quando é que a Anacom decide, afinal, o 5G”. A resposta é: devia ter sido em setembro. Sim, o calendário do regulador aponta para a “aprovação do regulamento do leilão” de frequências em setembro deste ano, com início do leilão agora em outubro. Estamos a 15 de outubro, e não há novidades nem do regulamento, quanto mais do leilão, embora a Anacom prometa que está “tudo a correr normalmente”.
Segundo ponto: a Altice Portugal, que tem sido mais vocal nesta matéria, “aproveitou” a pandemia para recuperar o discurso que tinha há dois anos. Para o presidente executivo da empresa, o 5G já não é tão urgente porque o 4G cumpre o objetivo de ligar a generalidade do país. É uma fuga para a frente, que assenta apenas na reticência das operadoras em executar investimentos avultados neste período de incerteza e de crise.
Mais havia para escalpelizar, desde o relatório secreto do 5G que ninguém sabe exatamente o que tem, à pendência das decisões judiciais em torno das frequências 5G já detidas por uma empresa chamada Dense Air. E não esquecer o facto de não irmos ter, numa primeira fase, o 5G mmWave, que é a tecnologia de topo, como já explicámos no ECO.
É possível que as novidades do 5G comecem a surgir agora que a proposta do Orçamento do Estado foi entregue no Parlamento. Mas também é possível que o Governo esteja agora preocupado com outros assuntos bem mais importantes do que o 5G (desde logo, a grave crise que enfrentamos).
Uma eventual crise política com o chumbo ao Orçamento iria, naturalmente, atrasar muito este processo, com claros prejuízos para os consumidores e para a competitividade das empresas.
Para já, o ponto é que a Apple carregou e bem no acelerador do 5G. A Verizon, por exemplo, aproveitou o lançamento dos novos iPhones para anunciar a expansão da sua rede 5G a todo o território norte-americano.
É certo que não será um game changer do ponto de vista da velocidade de acesso para os utilizadores comuns, o que também já aqui admiti. Mas, doravante, não há desculpa. Cada dia sem avanços no 5G soma-se ao atraso no processo em Portugal, ameaçando severamente a competitividade tecnológica do país.
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