Faltam oportunidades e “soft skills” à geração mais qualificada

  • António Carvalho
  • 25 Outubro 2024

Afinal de contas, o paradoxo é grande: o que acontece quando a geração mais preparada de sempre se depara com um mercado de trabalho que não reconhece o seu potencial?

A geração Z, composta por jovens que entram no mercado de trabalho, é muitas vezes rotulada como a mais qualificada da história. Nativos tecnológicos, cresceram durante a quarta revolução industrial, rodeados de inovações como a inteligência artificial, machine learning e big data. Contudo, a evolução digital rápida trouxe consigo um paradoxo: enquanto possuem habilidades técnicas impressionantes, carecem de competências essenciais no mundo profissional e comprometem-se pouco.

Uma pesquisa da Forbes apontou as principais habilidades fundamentais que as empresas lutam para encontrar nas novas gerações: comunicação, gestão de conflitos, responsabilidade e resiliência. Com a taxa de desemprego jovem a ser uma preocupação crescente, a realidade é alarmante e é preciso olhar para ela com atenção e definir caminhos para tirar os jovens da caixa digital. Afinal de contas, o paradoxo é grande: o que acontece quando a geração mais preparada de sempre se depara com um mercado de trabalho que não reconhece o seu potencial?

Os jovens de hoje têm uma relação única com o emprego. Ao contrário das gerações anteriores, que valorizavam a estabilidade, a geração Z é conhecida por mudar frequentemente de trabalho. Procuram sentido de pertença, querem ser ouvidos e aspiram trabalhar em ambientes que promovem o desenvolvimento pessoal.

O work-life balance e a flexibilidade são tão importantes para eles como a remuneração financeira – não querem ser workaholics mas sim worklovers. Cada vez mais, são o que se pode chamar de nómadas de carreira, que anseiam viver múltiplas experiências, inclusive internacionais, que lhes permitam adquirir novas skills que, quando bem canalizadas, podem representar um claro added value para as organizações.

Mas isso leva-nos a outro paradoxo: estão as empresas dispostas a acompanhar esta mudança de paradigma?

Não há como fugir. É imperativo que os gestores reavaliem suas estratégias de recrutamento e retenção de talento, entendendo as motivações profundas que levam os jovens a permanecer ou a abandonar um emprego. A meu ver, as empresas que estão a criar ambientes que incentivam a inovação e a criatividade, valorizando não apenas as hard skills, mas também as soft skills são as que vão conseguir reter mais talento e construir uma cultura organizacional mais sólida face às que forçam os modelos tradicionais.

Com a taxa de desemprego jovem em Portugal a ser a quarta mais alta da Europa, urge a necessidade de uma reflexão coletiva. Estamos a escutar adequadamente as novas gerações?

Conquistar, motivar e inspirar os jovens talentos não é apenas uma opção, mas uma necessidade crítica para assegurar a prosperidade das empresas e o crescimento sustentável. Diria que a verdadeira transformação já começou e é urgente fazer uma coisa – agir!

  • António Carvalho
  • Temp & perm business manager da Gi Group Portugal

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