Editorial

Galamba já tem candidata à sucessão

A presidente da Comissão que está a estudar a localização do novo aeroporto considerou pertinente afirmar que nem vale a pena avançar com o plano se a Iberia comprar a TAP. E ninguém reagiu.

Maria do Rosário Partidário é presidente de uma Comissão Técnica Independente (CTI) para estudar as soluções para o novo aeroporto, mas já estará a trabalhar para substituir João Galamba no Ministério das Infraestruturas (aviso para ler com ironia, ou talvez não..). Só isso pode explicar a sua inadmissível tentativa de condicionamento da reprivatização da TAP para travar um eventual negócio com o consórcio que inclui a BA e a Ibéria. E o silêncio do Governo perante esta afirmação é uma evidência de que está politicamente diminuído e a pensar apenas na sobrevivência.

O que disse a presidente desta comissão que acaba de anunciar nove alternativas que vão passar a uma última fase para escolha do novo aeroporto. Em entrevista ao Observador, Maria Partidário afirmou: “Claro que estamos muito conscientes que, se for uma Iberia a comprar a TAP se calhar o melhor é a gente fechar a mala, arrumar as botas, e fechar”. Importa-se de repetir? A presidente da CTI não se ficou: “Não é preciso um novo aeroporto? Se calhar não é preciso. Para quê?” E reforçou que o comprador da TAP “pode condicionar aquilo que seja a solução que venha a ser indicada” pela comissão, especialmente se for a IAG, o consórcio que tem a Ibéria.

Maria do Rosário Partidário é Professora Catedrática do Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos do Instituto Superior Técnico, e foi escolhida para liderar a Comissão Técnica Independente. Com que objetivo? Avaliar as opções estratégicas para aumentar a capacidade aeroportuária da região de Lisboa e coordenar e realizar a avaliação ambiental estratégica (AAE). E lida a resolução que serviu para criar este modelo de escolha do novo aeroporto, não se encontra uma linha sobre a exigência desta comissão decidir uma localização em função do futuro acionista da TAP.

Além da CTI não ter competências para analisar o novo aeroporto à luz da venda da TAP, a coordenador da comissão, que se saiba, não é especialista na gestão de companhias de aviação, provavelmente nem conhece sequer o que é a realidade do setor em termos globais, nem está em funções políticas. É por isso no mínimo estranho, para não dizer outra coisa, que Maria Partidário tenha revelado que o trabalho que a equipa está a desenvolver pode ficar pelo caminho ou até ser condicionado pelo que vier a suceder na reprivatização da TAP.

Maria do Rosário Partidário tem obviamente direito à sua opinião, mas esqueceu-se da função que exerce, e não tem direito a condicionar o que é um processo que ainda nem começou. Quais serão as condições oferecidas pelos candidatos que vierem a apresentar-se, financeiras e operacionais? Ninguém sabe, mas pelos vistos a coordenadora do CTI já tem a informação confidencial de que o hub de Lisboa desaparecerá se foi a IAG a comprar a TAP.

O que a afirmação de Maria do Rosário Partidário demonstra, além da ausência de bom senso e de um estranho silêncio do Governo, só explicado porque, como se sabe, João Galamba e Fernando Medina têm outras preocupações, é uma enorme confusão entre um objetivo estratégico do país, uma infraestrutura aeroportuária capaz de responder às necessidades e com potencial de expansão a 50 anos, e o que é a chamada companhia de aviação de bandeira.

A CTI tem uma missão: Escolher e propor ao poder político uma localização para o novo aeroporto de Lisboa, com base em critérios diversos, como a proximidade (distância ao centro de Lisboa) tendo em conta a média europeia de 22 kms,
a infraestrutura rodo e ferroviária existente ou planeada (sim/não) ou a aérea de expansão (mínimo 1000 hectares) e a
capacidade de movimentos/hora. E não tem outra missão: Conduzir a reprivatização da TAP, escolher e propor um vencedor do concurso.

Como o país anda entretido com a novela em que o Governo é o principal, único até, protagonista desde há mais de um ano, a afirmação de Maria do Rosário Partidário passou sem qualquer reparo, como se fosse normal uma coordenadora técnica de uma comissão independente dar palpites sobre a venda de uma empresa pública. É o que temos, um país sem rei nem roque.

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