Gestão de pessoas: “adapt or die”
Para os gestores, o desafio é claro: não basta gerir pessoas da forma tradicional: é preciso inovar, empoderar e construir um ambiente de trabalho que seja tanto flexível quanto inclusivo.
O futuro da gestão de pessoas está a ser moldado por desafios e transformações rápidas, resultantes da crise atual (relacionada com as mudanças no mundo, por exemplo no clima, com os conflitos armados e os “tremeliques económicos”), das mudanças tecnológicas e das novas exigências de sociedades cada vez mais polarizadas e complexas. As organizações que ainda se agarram a sistemas de gestão antiquados, baseadas em regras rígidas, hierarquias estritas e controlo excessivo estarão a caminhar para algum lugar que não seja a garantia da sua sustentabilidade. Num cenário pós-pandemia, as empresas precisam de se adaptar a um modelo mais flexível e responsivo, mais adaptativo e dinâmico. Mas qual será o caminho? Estar a par e compreender as tendências emergentes nas áreas de tecnologia, bem-estar e liderança são essenciais para perspetivar a forma como a gestão de pessoas acompanhará a transformação dos negócios e das empresas. Neste artigo, exploro algumas dessas tendências, focados na evolução da gestão de pessoas, visando sugerir alguns alertas.
Mudanças demográficas e a gestão de pessoas é uma relação que inevitavelmente teremos de considerar. Um fator importante que vai moldar a gestão de pessoas nos próximos anos são as mudanças demográficas, que vão desde a reposição geracional, ao envelhecimento que nos leva hoje a considerar uma “4ª idade”. O envelhecimento da população e a diversificação das forças de trabalho exigem que as organizações se ajustem a novas realidades. Além disso, o aumento do número de freelancers e trabalhadores independentes está a alterar o panorama do emprego, exigindo novas formas de contratação e gestão de talento. As organizações terão de ser mais flexíveis, ajustando-se rapidamente às novas realidades e, ao mesmo tempo, criando políticas inclusivas que atendam a diferentes perfis de trabalhadores.
A transformação tecnológica na gestão de pessoas será, mas já é, uma inevitabilidade. O impacto da tecnologia no campo da gestão de pessoas tem sido, sem dúvida, um dos maiores motores de mudança nos últimos anos. A automação sem precedentes está a permitir a simplificação e eficácia de processos como recrutamento, gestão de desempenho e engagement dos colaboradores. Ferramentas baseadas em inteligência artificial (IA) para seleção de candidatos e algoritmos para movimentação de pessoas são já uma realidade, e estão a redefinir a forma como as organizações gerem e desenvolvem os seus talentos. A gestão de pessoas tornou-se mais ágil, com sistemas que permitem uma análise mais detalhada e eficiente do perfil de cada colaborador, otimizando, assim, os processos de recrutamento e a avaliação de competências. Não é uma tendência porque é uma constatação do que se faz em muitas empresas.
A ascensão das formas flexíveis de trabalho, em particular do remoto e híbrido, bem como de novas formas de organização. O trabalho remoto já não uma tendência, mas uma necessidade/realidade que se tornou evidente na pandemia e que, nos próximos anos, continuará a moldar a maneira como as empresas trabalham. A flexibilidade e a autonomia oferecidas pelo trabalho remoto estão a forçar as empresas a reconsiderar a forma como estruturam as suas operações. Além disso, a conectividade em tempo real, com reuniões virtuais e entrevistas de emprego online, está a criar um ambiente global de trabalho, em que as barreiras geográficas deixam de ser um obstáculo. As organizações precisam de repensar o design organizacional para apoiar esta mudança, assegurando que as equipas estão bem integradas, motivadas e envolvidas, mesmo à distância. E que os líderes estão preparados para, neste objetivo, cumprir o seu papel.
O papel crescente do bem-estar e empoderamento dos colaboradores. A ênfase crescente no bem-estar dos colaboradores reflete uma mudança na maneira como as organizações veem a força de trabalho, numa linguagem mais economicista, ainda que o certo seja, como veem cada pessoa. Já não basta atrair os melhores talentos; é preciso garantir que os mesmos se sintam valorizados, apoiados e engaged. O empoderamento dos colaboradores, através da capacitação e do desenvolvimento de competências, é essencial para fortalecer o comprometimento e a lealdade à organização. Quanto mais competitivo for o setor, o negócio ou o mercado, onde a fuga de talentos possa ser mais ameaçadora, mais fulcral será as pessoas sentirem-se “estimadas” – empregadores que não invistam em práticas de bem-estar e em lideranças participativas, correm o risco de perder pessoas.
A evolução da liderança nas organizações há muito que se considera um fator crítico, mas no futuro, sê-lo-á mais ainda. A mentalidade de “chefe” há muito que está a dar lugar à criticidade do “líder”. A liderança, especialmente no contexto da gestão de pessoas, exige um modelo de gestão mais horizontal e participativo, onde os gestores se tornam facilitadores do sucesso da equipa, ao invés de detentores do poder. Essa transformação é impulsionada pela necessidade de mais colaboração, inovação e autonomia no local de trabalho, assim como de mais empowerment às pessoas. Os líderes precisam de ser capazes de entender as mudanças tecnológicas, gerir a diversidade das suas equipas e criar ambientes em que as pessoas possam expressar todo o seu potencial. Nesse cenário, o apoio à aprendizagem contínua e à adaptação às novas formas de trabalho é uma competência essencial para os líderes de amanhã. Acrescente-se que, a par disto, será necessário que as competências das pessoas, acompanhem estas mudanças e inovação – criatividade e resolução de problemas, são competências que terão de “lá estar” – em líderes e em liderados.
O cenário da gestão de pessoas para os próximos anos será marcado por uma maior integração tecnológica, novas formas de liderança e um foco renovado nas condições de trabalho, satisfação e bem-estar dos colaboradores. A verdadeira vantagem competitiva das empresas não estará apenas no desempenho financeiro ou nas inovações tecnológicas, mas sua na capacidade de compreender, envolver e desenvolver as suas pessoas. Num contexto de constante mudança, as organizações que conseguirem adaptar-se a estas novas dinâmicas de trabalho terão uma vantagem significativa. Para os gestores, o desafio é claro: não basta gerir pessoas da forma tradicional: é preciso inovar, empoderar e construir um ambiente de trabalho que seja tanto flexível quanto inclusivo. O futuro das organizações depende da sua capacidade de se adaptar, de utilizar a tecnologia a seu favor e de cuidar verdadeiramente das pessoas que as compõem. Ou morrerão.
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