
IFRS 17: Mais Evidência, Menos Intuição
Nuno Oliveira Matos faz notar que a IFRS 17 não exige apenas novos relatórios, exige uma nova mentalidade substituindo operar com base em confiança subjetiva para decisão baseada em evidência.
A implementação da norma IFRS 17 “Contratos de Seguro” obrigou o setor segurador a fazer algo que sempre evitou: olhar de frente para as suposições em que assenta. Afinal, quantos dos nossos modelos estão ancorados em evidência e quantos estão ancorados em expert judgement?
As empresas de seguros regularmente recalibram os parâmetros críticos, que resultam nas melhores estimativas e nos ajustamentos ao risco não financeiro. Mas a pergunta que raramente se faz é simples: Como sabemos que essas recalibrações são mesmo necessárias? E mais, quem garante que não estamos apenas a materializar o nosso próprio viés?
Se um piloto ignorasse os instrumentos e voasse apenas com base no instinto, embarcaríamos nesse voo?!
Não raras vezes, o setor ajusta modelos com base em “sensações” ou na experiência acumulada, a fazer mudanças pontuais que muitas vezes carecem de consistência entre si, e a explicar decisões complexas com racionalizações frágeis, difíceis de sustentar perante investidores, reguladores, auditores ou até no diálogo interno entre equipas. Num contexto onde milhões de euros estão em jogo, esta prática é, no mínimo, inquietante.
Se um piloto ignorasse os instrumentos e voasse apenas com base no instinto, embarcaríamos nesse voo?!
A resposta esquecida: Testes de hipóteses!
Os testes de hipóteses não são complicados; são apenas ignorados. E, no entanto, são ferramentas poderosíssimas para distinguir entre mudança real e ruído. Entre decisão fundamentada e palpite. Não se trata de técnica. Trata-se de maturidade e de governação. Trata-se de reconhecer que decisões com impacto financeiro e reputacional devem ser sustentadas por mais do que meras opiniões.
Reforça-se a governança, ao oferecer bases objetivas para investidores, auditores e reguladores. Facilita-se a comparabilidade, com métricas validadas e replicáveis. E aumenta-se a confiança dos stakeholders, porque menos surpresas traduzem-se em mais credibilidade.
Análise em tempo real conjugada com machine learning estão a tornar possível aquilo que antes era impraticável: recalibrar modelos de forma contínua, com validação estatística imediata. Ou seja, tomar decisões mais rápidas e com rigor.
A IFRS 17 não exige apenas novos relatórios. Exige uma nova mentalidade. Mais do que uma norma, é um convite: Queremos continuar a operar com base em confiança subjetiva ou evoluir para uma cultura de decisão baseada em evidência?
Se queremos que o setor segurador continue a ser um pilar de estabilidade económico-social, temos de começar por exigir a mesma estabilidade nas decisões internas. E isso começa por uma pergunta simples: O que estamos a assumir e porquê?
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