Imigração, crime e os temas em debate

Temos vários exemplos na história de Portugal em que o nativismo correu mal. Não devíamos cometer os mesmos erros.

A imigração não aumenta o crime. Este é um resultado claro da investigação recente sobre este tema. No artigo “Immigration and Crime: An International Perspective”, publicado este janeiro no Journal of Economic Perspectives (acesso livre), Olivier Marie e Paolo Pinotti mostram que não há qualquer relação de correlação ou causalidade entre a imigração e a criminalidade. Isto é verdade olhando para a relação entre crime e imigração entre vários países (em que Portugal está incluído) e também para estudos de caso mais aprofundados, como em Itália, Reino Unido, Estados Unidos, ou Chile.

Não só a imigração não aumenta o crime, como é um assunto particularmente pouco importante para os portugueses, especialmente comparando com outros países da OCDE. Usando dados do European Values Study, os mesmos autores mostram que a percepção pública em Portugal sobre a imigração é muito menos alarmista do que noutros países. Por exemplo, a preocupação com o efeito da imigração no crime ou no desemprego em Portugal é muito menor do que na Alemanha, na Dinamarca, Itália, na Grécia, ou na Hungria. Olhando para o Eurobarómetro da Comissão Europeia, os portugueses estão muito menos preocupados com a imigração do que a média europeia, e muito mais preocupados com outras questões socioeconómicas, por exemplo, a inflação, a situação económica, a saúde, a habitação, e a tributação.

Apesar de Portugal se destacar por uma abordagem relativamente aberta em relação à imigração, isto nem sempre é refletido no discurso político e mediático. A imigração e outros temas culturais frequentemente ganham um destaque desproporcional, em detrimento de questões que afetam diretamente a vida das pessoas.

Temos assistido a isto nos debates para as eleições legislativas de 2024.

Por um lado, é normal que os partidos foquem a sua atenção nos assuntos mais capazes de influenciar as decisões de voto, ou seja, nos interesses do votante mais indeciso (entre partidos ou entre votar ou não), em detrimento dos interesses do votante médio.

Por outro lado, os partidos e a comunicação social têm um impacto direto na perceção pública, independentemente da sua relevância objetiva. Algumas coisas são de interesse público porque os media as tratam como tal. As preferências dos eleitores são maleáveis a médio-longo prazo (Podem procurar por The Political Legacy of Entertainment TV de Ruben Durante, Paolo Pinotti, e Andrea Tesei para um exemplo). Seria bom que os temas de maior relevância nas decisões eleitorais refletissem as verdadeiras preocupações da população.

Infelizmente, a postura anti-imigração pode sair especialmente cara para Portugal. Apesar de não ser uma preocupação da população, poderá levar a políticas públicas que reduzam a imigração ou que piorem a integração dos imigrantes.

As projeções para o crescimento populacional para Portugal são preocupantes. Isso não só cria problemas ao nível da sustentabilidade da segurança social como tem um efeito negativo no crescimento económico esperado.

O argumento vem da literatura sobre o crescimento económico e foi testado por Michael Kremer em “Population Growth and Technological Change: One Million B.C. to 1990”. As inovações tecnológicas beneficiam todos. Como ninguém sabe de onde vêm as inovações com maior impacto, com maior crescimento populacional e mais integração de imigrantes, é mais provável termos ideias que gerem crescimento económico.

Temos vários exemplos na história de Portugal em que o nativismo correu mal. Não devíamos cometer os mesmos erros.

  • Professor de Economia Internacional na ESCP Business School

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