Liberdade e igualdade

Liberdade ou Igualdade? Não existe na realidade escolha se quisermos viver numa sociedade justa e com paz social.

Lendo “Free and Equal” de Daniel Chandler (Allen Lane, 2023), recordei-me de um almoço na Gôndola, há talvez mais de 25 anos, com um líder partidário da direita parlamentar em que ele, para vencer a minhas resistências a colaborar com o seu partido, me propôs o seguinte teste: você prefere a liberdade ou a igualdade? A liberdade, respondi; então você é de direita, concluiu ele. O teste é obviamente imperfeito e manipulativo. Igualdade sem liberdade é opressão (como a bondade sem o livre arbítrio); a liberdade sem (alguma medida) igualdade não pode realizar.

Os termos da pretensa antinomia não são univocamente definidos. A liberdade contém muitas “liberdades” designadamente, a pessoal, a política e a económica. Liberais de diferentes matizes atribuem pesos diferentes a cada um desses “direitos”. As duas primeiras liberdades – a pessoal e a política – definem o âmago das democracias liberais e são, obviamente, compatíveis com atitudes e práticas variadas perante a “igualdade”. A ênfase na terceira, assente na valorização da eficiência e crescimento económicos, é característica no neoliberalismo. Só aqui a igualdade surge mais distante da liberdade.

A igualdade ainda é mais complicada. À partida porque alguma desigualdade é sempre inerente a um sistema de incentivos que encoraje o dinamismo económico e que gere riqueza de que todos possam beneficiar. Depois, porque a unanimemente aceite “igualdade de oportunidades” é muitas vezes apenas formal e com pouca tração prática. Como dar a todos um ponto de partida justa na “corrida da vida”? Assegurar acesso à educação obviamente não basta. Todos sabemos que as crianças de famílias mais educadas e abastadas têm melhores desempenhos escolares e melhores oportunidades para desenvolver as aptidões socias e culturais necessárias a chegarem à frente na “corrida”. A meritocracia é uma história contada pelos vencedores para apaziguar os vencidos.

Liberdade ou Igualdade? Não existe na realidade escolha se quisermos viver numa sociedade justa e com paz social.

Apontamentos

JMJ. Acabaram! Apesar de ser não-crente não pude deixar de ficar impressionado com as multidões e o seu entusiasmo. Oxalá tenha sido para muitos uma jornada transformadora, no espírito do Papa Francisco. Mas, sem qualquer jacobinismo, existem dois aspetos que continuam a incomodar-me. O primeiro foi o envolvimento, a múltiplos níveis, do Estado Português. É paupérrimo (e provavelmente falso) o argumento de que isto “não foi despesa, foi investimento”. Depois foi a saturação informativa dos meios de comunicação, todos eles, a que fomos sujeitos – horas a fio de emissão e incontáveis artigos – como se no mundo nada mais se passasse. E nunca ninguém se perguntou se o mundo se preocupava com o que se passava em Lisboa.

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