Lifelong Learning: a chave para a escassez de competências

  • Beatriz Duarte
  • 8 Novembro 2024

O futuro do trabalho pertence àqueles que estão dispostos a aprender continuamente e a adaptar-se às novas realidades.

A falta de competências dos profissionais não é uma questão recente. Já em 2020, num ciclo de conversas digitais da APDC sobre “O Futuro das Qualificações Digitais”, destacava-se a necessidade urgente de uma maior aposta na formação e requalificação. O reforço da cooperação entre o sistema de ensino e as empresas foi identificado como um fator crucial para uma transformação digital bem-sucedida.

Vale a pena recordar as principais conclusões desta discussão (bastantes atuais), entre representantes da Axians Portugal, da Comissão Europeia para o Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão, da Microsoft Portugal, do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos e da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações: a necessidade de proatividade no investimento em formação contínua para acompanhar as rápidas mudanças no mundo laboral; a importância de uma formação ajustada às necessidades reais das empresas; a previsão de que 800 milhões de pessoas em todo o mundo precisarão de adquirir novas competências na próxima década; e a urgência de uma cooperação mais estreita entre o sistema educativo e o mundo do trabalho, de forma a proporcionar aos alunos uma experiência prática mais sólida.

Não há muito tempo (em junho de 2024), um estudo da QSP – Marketing Management & Research concluiu que os modelos de educação e formação atuais continuam desajustados às necessidades das empresas. A situação não parece ter mudado entre 2020 e 2024. A divergência entre o que se ensina nas salas de aula e o que é exigido no mercado de trabalho é evidente. Existe um foco excessivo em teorias desatualizadas e uma escassa preparação prática.

Segundo o mesmo inquérito, o problema vai além da mera falta de competências técnicas; a escassez de soft skills e de aptidões comportamentais também é uma preocupação significativa. Estas áreas são fundamentais para uma integração bem-sucedida no mercado de trabalho.

As empresas procuram profissionais com capacidade de adaptação, habilidades de resolução de problemas, comunicação eficaz e liderança, além das competências técnicas nas áreas emergentes. Neste contexto, uma formação contínua, desenhada em colaboração com os players do mercado de trabalho, torna-se extremamente benéfica. O reskilling e o upskilling emergem como soluções vitais para preparar os trabalhadores para estas exigências.

O conceito de reskilling refere-se à requalificação de profissionais, fornecendo-lhes novas competências que lhes permitem transitar para novas funções. Por outro lado, o upskilling implica a atualização das competências já adquiridas, ajustando-as às inovações tecnológicas e às novas exigências do mercado. Ambos os processos são essenciais num cenário em que o conhecimento e as capacidades técnicas evoluem constantemente.

Enquanto professora de Data Analyst, tenho testemunhado de perto o impacto positivo que uma formação adequada pode ter na carreira de jovens talentos. Através de programas práticos, desenvolvidos em parceria com empresas e ajustados às necessidades emergentes do mercado, preparamos os profissionais não apenas para as vagas de hoje, mas também para os desafios do futuro.

Esta abordagem permite-lhes desenvolver competências técnicas avançadas, bem como habilidades de trabalho em equipa, pensamento crítico e adaptabilidade – elementos-chave para qualquer carreira na era digital, e tão abrangentes que poderão ser aplicados em qualquer outra área, caso exista uma necessidade de mudança.

Há sinais encorajadores de que podemos estar a melhorar em termos de competências. No ranking de talento mundial da escola de negócios suíça IMD de setembro deste ano – que também revelou que Portugal se tornou menos atrativo para profissionais qualificados em comparação com 2023 – o país registou uma melhoria significativa de seis lugares em relação ao ano anterior no indicador que avalia a disponibilidade de habilitações e competências no talento. As melhorias foram particularmente notórias nas áreas de educação em gestão e competências linguísticas.

Portugal enfrenta uma feroz concorrência global para atrair e reter talentos, e uma educação desajustada agrava ainda mais esta realidade. É fundamental que os sistemas de ensino e formação se tornem mais ágeis e ajustados às tendências tecnológicas.

A formação deve ser um processo dinâmico e interativo, permitindo que os alunos apliquem os seus conhecimentos de imediato em projetos reais. Esta metodologia não só melhora a aprendizagem, como também assegura que os profissionais estejam preparados para o mercado de trabalho, com as competências necessárias para prosperar num mundo em constante mudança.

A formação e requalificação de profissionais, a jornada lifelong learning, não é apenas uma oportunidade, mas uma necessidade urgente para garantir que as empresas continuem a inovar e a crescer. O futuro do trabalho pertence àqueles que estão dispostos a aprender continuamente e a adaptar-se às novas realidades.

  • Beatriz Duarte
  • Tech lead data analyst e professora da TechOf

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