Montenegro, Moedas, PNS, Medina ou Centeno? Escolham

Não se sabe muito sobre a investigação que levou à demissão de António Costa, apenas que surgiu (…) o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do primeiro-ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos nos negócios do lítio, hidrogénio e data center.

Não sabemos ainda, portanto, se houve irregularidades ou em que pé estará a investigação. Sabemos, no entanto, algumas coisas importantes.

Primeiro, que António Costa fez “obviamente” o que tinha de fazer, demitir-se, numa comunicação clara e sem espinhas. Sublinhou que a dignidade das funções de primeiro-ministro não é compatível com qualquer suspeição sobre a sua integridade e boa conduta e menos ainda com a suspeita de qualquer ato criminal. Foi claro sobre não estar disponível para se recandidatar.

Apesar de ferido, o animal político Costa teve o sangue frio de não dramatizar em excesso, de racionalizar e manter em aberto o futuro. O projeto de ir para uma liderança europeia pode ter ficado mais difícil, mas não impossível. Não faltam exemplos de líderes com passados que não são impolutos, vide a atual presidente do Banco Central Europeu. E António Costa tem kudos de esquerda, foi o único a ganhar eleições seguidas numa Europa a virar à direita.

Segundo, que esta queda inesperada vai obviamente acelerar a ambição de alguns socialistas com olhos postos no Largo do Rato. À cabeça, Pedro Nuno Santos (PNS). O ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação já estava há algumas semanas a fazer oposição interna a Costa no seu espaço de ‘comentário’ na SIC. É um político que representa a esquerda do partido, que geriu a geringonça, que já se manifestou contra a venda de uma participação maioritária do Estado na TAP.

PNS tem alguns problemas pela frente. António Costa ganhou uma maioria absoluta depois de ter sido rompido pela esquerda. O chumbo do OE de 2022 foi o trigger da vitória eleitoral em janeiro de 2022. Vender uma nova geringonça será, certamente, difícil.

Poderão, portanto, surgir opções dentro do PS mais ao centro. Fernando Medina saiu de uma derrota eleitoral para ser respeitado como um ministro das Finanças (vamos deixar o ‘nonsense’ do IUC de lado, por enquanto), com as ideias certas, ou pelo menos, as contas certas. O problema é que não é ‘likeable‘ e nunca vai vencer umas legislativas.

Já outro candidato de fundo até poderia. Um dos antecessores de Medina no Terreiro do Paço, o ministro que ajudou Costa a derrotar a imagem da troika.

No restaurante Gina, no Parque Mayer, Mário Centeno, alegadamente, reuniu em julho cerca de 130 pessoas para assinalar três anos desde que deixou o Governo e assumiu funções de governador do Banco de Portugal. Depois disso, a 4 de setembro, fez uma coisa inédita para um central banker, criou a sua própria publicação anual. Podemos ler o que quisermos destes eventos, mas o que fica claro é um Centeno mais político.

Terceiro, se calhar o pêndulo poderá virar para a direita. A queda do primeiro-ministro caiu no colo de Montenegro. Mas o líder do PSD também não tem appeal. Portanto deve vir aí Carlos Moedas tentar captar esse espaço.

Mais importante vai ser como qualquer deles vai falar sobre o Chega. O óbvio é o seguinte: vocês são uns monstros e não queremos ter nada a ver convosco. Vai ser a única forma de vencer.