Networking: uma ferramenta ao alcance de todos

  • Mafalda Rebordão e Sara Aguiar
  • 17 Janeiro 2024

Construir relações que nos podem trazer mais contactos é essencial para progredir na carreira. Sabe como acioná-las? Mafalda Rebordão e Sara Aguiar explicam-nos no livro "O Acelerador de Carreiras".

Networking. Aquele «músculo» que sabemos que existe algures no nosso corpo, mais ou menos desenvolvido, muitas vezes como consequência da nossa personalidade, mas que, em vários momentos, é tão difícil de exercitar. Novamente, uma prova de que o «senso comum não é prática comum». Sabemos as vantagens, até sabemos algumas das estratégias, mas isso não implica que as consigamos pôr em prática. Um ótimo exemplo é o de um médico que sabe em que consiste uma dieta saudável e que o exercício físico é essencial para a sua saúde, mas não aplica este conhecimento no seu dia a dia. O mesmo acontece com o networking. De acordo com dados da plataforma mais reconhecida como um facilitador desta prática – o LinkedIn –, «apesar de 80% dos profissionais considerarem o networking essencial para o seu sucesso de carreira, 38% têm dificuldade em manter‑se em contacto com a sua network».

Muito se escreve sobre o assunto e a sua importância (sobretudo em publicações do LinkedIn), mas continuamos a ouvir, (talvez) demasiadas vezes, a expressão «odeio fazer networking». Assim, começamos este hack por partilhar o que consideramos serem as maiores vantagens de o fazer e de o fazer bem. A Harvard Business Review, por perceber que este desconforto era tão comum tanto entre executivos como entre estudantes de MBA, estudou mais de 165 advogados numa sociedade de advocacia na América do Norte e percebeu que o seu sucesso, interno e externo, dependia, inevitavelmente, da sua capacidade de construir uma network sólida. Internamente, para serem escolhidos para determinados projetos, e externamente, para trazerem e aumentarem a carteira de negócios.

Quando começámos a fazer networking, não sabíamos muito bem o que estávamos a fazer – proporcionou‑se, como resultado da nossa curiosidade. Queríamos conhecer pessoas que nos inspiravam, perguntar como tinham feito para chegar até ali, como geriam a vida profissional e pessoal, como fariam se estivessem no nosso lugar, como era trabalhar em Portugal versus trabalhar fora. E quando se começa cria‑se um efeito multiplicador. Se demonstrarmos interesse genuíno pela pessoa (que deve ser sempre, na nossa opinião, a principal razão pela qual começamos uma relação), mais relacionamentos serão criados. Essa pessoa conecta‑nos a outra e a rede cresce. Este elemento de curiosidade advém de uma outra ideia em que acreditamos inquestionavelmente: a de que toda a gente tem algo para nos ensinar.

Dale Carnegie, talvez uma das primeiras pessoas a compilar de forma simples os princípios para melhor gerir relações e
influenciar pessoas, dizia: «Para ser interessante, sê interessado», uma frase que repetimos, porque é um princípio basilar para o hack do networking, até porque, se mantivermos a alegoria do desporto, o aquecimento é essencial para o colocar em prática. Fazer muitas e valiosas perguntas (como percebeste no hack da aprendizagem), ter curiosidade genuína pelas pessoas que conhecemos (porque queremos aprender mais com as suas experiências), ouvir, não necessariamente para responder, mas para absorver e compreender. E por isso, mais ou menos intencional, esta é a base que não pode faltar.

Na prática, existem muitas formas de encarar o networking, em especial no que diz respeito à estrutura. No começo, nenhuma de nós tinha uma ideia muito clara sobre como definir uma estratégia para exercitar e fortalecer este músculo. O networking era mais operacional (e até pessoal) do que estratégico. Evoluiu, entretanto, para algo mais estratégico quando percebemos que seria mais interessante conectarmo‑nos com pessoas dentro das nossas áreas de interesse, por exemplo. Na nossa primeira estratégia, falaremos sobre como podemos, antes de mais, planear e pensar o networking. No contexto empresarial, podemos pensar no networking operacional como o que fazemos dentro das nossas equipas e organizações. Naturalmente, quando nos juntamos a uma empresa, conhecer os nossos pares e a pessoa a quem reportamos faz parte do processo. Mas podemos e devemos fazer mais do que isso. Quantas vezes pensamos em conhecer a pessoa a quem reportamos? Quantas vezes pensamos em olhar para a estrutura horizontal da nossa organização e expandir as nossas melhores práticas? Seja qual for a fase em que te encontras, vamos partilhar como fazemos para que as nossas interações sejam benéficas para ambas as partes, seja numa troca de ideias, de informação ou de oportunidades, dentro e fora das nossas
organizações.

Estratégias

Mapear a network

Mapear a network poderá ser uma estratégia que vais começar do zero ou apenas continuar a trabalhar/expandir. Em qualquer dos casos, é importante perceber se o objetivo deste exercício é apenas o de construir a tua rede de networking, sem outro objetivo específico definido ainda, ou ter sponsors, procurar mentoria ou uma nova oportunidade de trabalho/crescer no cargo (por exemplo: obter uma promoção). Tirar algum tempo para refletir sobre o objetivo (falaremos mais à frente como definir objetivos no hack dos objetivos, mas se quiseres, como este livro não tem uma ordem obrigatória, podes ir aprender como fazê‑lo já) é crucial.

Construir uma network só é possível se o fizermos de forma intencional. Assim sendo, tentar perceber em que fase nos encontramos e o que procuramos são os primeiros passos. Pode ajudar pensarmos a médio‑longo prazo, escrever quais as nossas prioridades ou responder a questões como:

  • Que oportunidades procuro no mercado de trabalho?
  • O que gostaria de alcançar no meu cargo atual?
  • Que skills gostava de desenvolver?
  • Que relações gostava de nutrir e com que objetivo?

Depois deste primeiro passo concluído, sendo importante referir que talvez seja o mais difícil, podemos começar a traçar uma direção. Se não conseguires responder a todas as questões anteriores (ou a outras que definas), não estás sozinha/o. Algu‑ mas destas respostas também ainda não são claras para nós, mas é importante definir objetivos dentro da nossa organização e áreas de interesse fora da nossa organização para começar a explorar opções. Na explicação que se segue encontras esta mesma ideia. Podes pensar em áreas que gostarias de conhecer melhor ou que consideras estarem relacionadas com a tua paixão. O mesmo raciocínio pode ajudar‑te em relação às pessoas que gostarias de conhecer.

Como todo este processo pode parecer confuso, utilizar um mapa e criares o teu próprio esquema pode ser uma forma de simplificar e de dar alguma perspetiva.

Para realizar este exercício vamos pensar nas duas esferas: dentro da nossa organização (universidade, empresa, instituição ou até grupo) e fora da nossa organização. Para simplificar o processo: pensamos em áreas de interesse ou paixões, competências que gostaríamos de desenvolver, indústrias sobre as quais gostaríamos de aprender ou organizações onde gostaríamos de trabalhar ou com as quais estaríamos interessados/as em colaborar. A partir daqui, mapeamos os stakeholders – algo tão simples como procurar pessoas que estejam relacionadas com estas indústrias ou organizações, perguntar e pedir referências a pessoas que já conhecemos e escrever os seus nomes e informações de contacto.

No que diz respeito à nossa organização, devemos também pensar em como podemos alargar o nosso conhecimento, visão de negócio, cumprir os nossos objetivos de performance ou ainda como ligar este exercício à construção da nossa marca profissional. Nesta parte é importante desmistificar a ideia de que as organizações só funcionam de forma vertical. É tão essencial trabalhar a network verticalmente (os pares da pessoa a quem reportamos, o skip level, elementos seniores das nossas equipas) como horizontalmente (os nossos pares, os nossos homólogos noutras equipas, elementos de áreas completamente diferentes). Alargar a nossa network de forma horizontal permite‑nos aprender melhores práticas, perceber o que outras equipas fazem no dia a dia e como operam e quais os processos fora do nosso núcleo.

  • Mafalda Rebordão
  • Autora do livro "O Acelerador de Carreiras"
  • Sara Aguiar
  • Autora do livro "O Acelerador de Carreiras"

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