O Compromisso de Equilíbrio no combate ao Quiet Quitting

  • Suzel Caldas
  • 10 Fevereiro 2023

É importante que os colaboradores marquem reuniões internas dentro do horário de trabalho, bem como limitar as mensagens/emails e promover a desconexão real durante as férias.

A pandemia teve impactos sociais, económicos e psicológicos significativos que afetaram transversalmente a nossa sociedade e que influenciaram e continuam a influenciar o dia a dia das empresas e dos seus colaboradores. Um dos aspetos mais evidentes e que tem sido amplamente debatido está relacionado com a “diluição” das fronteiras entre a vida profissional e pessoal que volta a ter de ser repensada à luz dos novos modelos de trabalho flexível. Em muitos casos, o que para uns é uma flexibilidade bem-vinda, para outros tem vindo a ser um fator de maior pressão, estando já em alguns estudos associado a maior possibilidade de isolamento e burnout.

Os efeitos na saúde mental resultantes das mudanças sociais e económicas, bem como a instabilidade e vulnerabilidade agravada no decorrer do período pandémico têm vindo a ser cada vez mais evidentes e a necessidade de equilíbrio e reposicionamento dos colaboradores no âmbito pessoal e profissional, tem dado origem a diferentes fenómenos ou tendências que vão surgindo nas organizações um pouco por todo o mundo, aceleradas pelas redes sociais.

Recentemente temos vindo a ouvir falar de mais um fenómeno, que teve a sua origem nos EUA, conhecido como “quiet quitting”. Não sendo novo na sua essência, o que muda é a dimensão que atinge e a manifestação clara de que é um estado motivacional assumido pelos próprios colaboradores. O “quiet quitting” é genericamente entendido como um sentimento de afastamento da empresa por parte do colaborador que cumpre o seu trabalho, sem que daí advenha o tão conhecido “extra mile”.

Um artigo da Harvard Business Review faz uma reflexão interessante sobre as variáveis que podem estar subjacentes a este novo fenómeno. Ao que parece a “demissão silenciosa” coloca em evidencia a preparação dos gestores, nomeadamente a sua capacidade de liderança, de fomentar relações e também a sua abordagem ao reposicionamento da importância do equilíbrio entre a esfera pessoal e profissional. Os colaboradores valorizaram a capacidade do gestor equilibrar a obtenção de resultados com uma preocupação sobre as necessidades da equipa. Neste sentido, não é surpreendente que os líderes com classificação mais baixa apresentem até quatro vezes mais pessoas com comportamentos de “quiet quitting” do que os gestores com a classificação mais alta.

Apesar do termo “quiet quitting” nos Estados Unidos, após vários estudos realizados sobre o tema, a preocupação e o debate em torno do mesmo está também a crescer no nosso país desde que o termo se tornou viral no Tik Tok. De acordo com o Índice de Tendências do Local de Trabalho da Microsoft, realizado em setembro de 2022 – no qual são consultados 30.000 colaboradores em 31 países – este fenómeno afeta mais os jovens, considerando que 54% dos colaboradores da Geração Z e 41% da força de trabalho global consideram abandonar os seus empregos.

Os sintomas da “demissão silenciosa” são cada vez mais evidentes para os colaboradores e gestores que se deparam com colegas nesta situação, de uma forma lenta ou mais rapidamente.  Este fenómeno, que é cada vez mais comum, tem graves consequências para as empresas e para os colaboradores, agravados pelo facto de não disporem das ferramentas necessárias para lidar de forma proativa com este problema.

O Compromisso de Equilíbrio como uma forma de aliviar o “quiet quitting”

Nesta situação, as empresas que lideram o mercado e marcam o ritmo em várias indústrias e nos setores mais dinâmicos, devem tomar a iniciativa e ir mais além dos métodos clássicos de retenção de talento. A procura de soluções para combater o “quiet quitting” está a levar as empresas a tomarem medidas como o Compromisso de Equilíbrio, que consiste em estabelecer limites em torno dos objetivos que queremos alcançar durante o dia de trabalho e o tempo que queremos gastar em atividades de lazer.

O Compromisso de Equilíbrio abrange muitos aspetos, e pode começar por criar hábitos de trabalho tão simples e aparentemente intuitivos como seja: marcar reuniões internas dentro do horário de trabalho, com respeito pelos diferentes fusos horários. É também importante limitar as mensagens/emails às horas de trabalho e incutir nos colaboradores a necessidade de uma desconexão real durante as férias.

Em última análise, o compromisso de uma organização e das suas equipas com o Compromisso de Equilíbrio ajuda os colaboradores a definir prioridades. O compromisso é uma orientação, com a consciência de que o equilíbrio é diferente para cada pessoa. Mas é imperativo que os colaboradores sejam encorajados a pedir o apoio de que necessitam muito antes de chegarem a uma situação de burnout. Este tipo de compromisso começa necessariamente pelo topo, o que significa que devemos estar dispostos a ouvir os nossos colaboradores para partilhar – de forma transparente – para onde vamos e acionar o que resulte desse mesmo feedback, sermos portanto mais interventivos.

Em última análise, o Compromisso de Equilíbrio será o que, em muitos casos, fará a diferença para que um colaborador se sinta parte da organização, se sinta respeitado e valorizado. A consequência é evidente, uma vez que fomenta uma maior confiança entre gestores e colaboradores, permite tomar decisões que contribuem para o sucesso dos seus clientes e contribui para o seu desenvolvimento e crescimento na organização.

  • Suzel Caldas
  • Diretora de RH da Kyndryl Portugal

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