Editorial

O elefante no meio da sala (da CGD)

Há uma auditoria da EY à gestão da CGD entre 2000 e 2015 nas mãos do Ministério Público que põe em suspenso dezenas de gestores e alguns políticos. Quando é que vamos saber a verdade?

Há uma auditoria às contas e aos empréstimos da Caixa Geral de Depósitos (CGD) no período entre 2000 e 2015, realizada pela EY a pedido do Ministério das Finanças, que é uma espécie de “elefante na sala” da política e da economia portuguesa. Um relatório que está nas mãos do Ministério Público e cujos desenvolvimentos são essenciais para a salubridade do pais e para o fim (ou confirmação) de suspeitas de dezenas de gestores bancários e de uns quantos políticos.

O pedido de relatório surgiu no contexto de uma comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos e de um enorme aumento de capital que custou mais de quatro mil milhões de euros aos portugueses. Era necessário, e bem, avaliar o que justificou tais necessidades, que negócios foram feitos, que créditos foram realizados. E já aqui no ECO Login defendi a divulgação pública dos contornos destas operações, algumas delas, como a de Vale do Lobo, sob investigação judicial.

O relatório da EY é tão bom ou tão mau que o governo não o quer ter nas suas mãos. Queima. E por isso a administração da Caixa Geral de Depósitos enviou-o diretamente para a avaliação do Ministério Público, para se saber se há indícios de crime, se há motivos para abertura de inquéritos e até de processos de acusação. Marques Mendes balizou, no seu comentário na SIC, o período negro da CGD, entre 2005 e 2008.

A EY terá avaliado mais de 180 operações de crédito entre 2000 e 2015 e, dessas, terá feito uma análise fina de 50 operações, as mais relevantes do ponto de vista financeiro, as que foram feitas sem a aprovação formal do departamento de risco – e elas existem – e as que resultaram em perdas e em crédito malparado para o banco público. Ora, chegados aqui, são urgentes duas consequências:

  1. Conclusões do Ministério Público e eventual abertura de inquéritos.
  2. Divulgação pública do relatório da EY

Quais as razões? O país precisa de fechar este dossiê, o tema CGD tem de sair do debate público, ou melhor, os créditos passados têm de sair do debate público, e isso só se fará quando tudo for relevado, e não por meter o lixo debaixo do tapete. Esta é uma razão suficientemente relevante para se exigir transparência. Mas há outra. A espada sobre a cabeça sobre dezenas de gestores que passaram pela CGD naqueles 15 anos e que, agora, estão sob suspeita, desde logo pública.

Neste momento, o Banco de Portugal e o BCE dificilmente aprovarão qualquer candidato a administrador de um banco que tenha uma passagem pela administração da CGD entre 2000 e 2015 e, especialmente entre 2005 e 2008, período que terá sido o mais ‘negro’ em termos de créditos. Foi o que aconteceu a Norberto Rosa, que esperava desde maio para entrar na administração do BCP e, perante ‘um veto de gaveta’, acabou por desistir, E Norberto Rosa não foi sequer administrador com o pelouro comercial ou de crédito. Portanto, é cadastro, não é curriculum? Não é possível manter estes gestores em ‘stand by’ profissional e sob suspeita generalizada. Aliás, um desses gestores na lista de administradores da CGD entre 2000 e 2015, ironia, foi precisamente Carlos Costa, governador do Banco de Portugal e que tem agora, ele próprio, de passar o atestado de idoneidade aos candidatos a administradores bancários que estão sob supervisão nacional. Em que ficamos?

O assunto é demasiado sério para continuar escondido numa gaveta, qualquer que ela seja. Da CGD, do Governo, do Ministério Público ou do BCE. Os contribuintes merecem saber o que pagaram.

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