O estágio profissionaliza a aprendizagem
Dignificar o estágio é, sem dúvida, uma prioridade. Mas a verdade é que o estágio continua a ser um momento decisivo para uma boa entrada no mundo profissional.
Recentemente, deparei-me com uma partilha no LinkedIn que me chamou a atenção: uma jovem tinha começado o seu primeiro dia de trabalho, mas, no primeiro dia, percebeu que as condições não eram o que esperava. Quer fosse por falta de clareza inicial ou por um desalinhamento de expectativas, o que estava planeado não correspondia à realidade que encontrou.
Este episódio fez-me refletir sobre algo que considero fundamental no mundo do trabalho: o papel do estágio na transição entre a formação académica e a vida profissional. Antes de ter o meu primeiro vínculo contratual, passei por dois estágios. Na altura, era visto como algo natural, quase obrigatório. Afinal, o que aprendemos academicamente pouco ou nada tem a ver com a realidade do dia a dia profissional.
As universidades ensinam-nos uma disciplina técnica, uma base teórica que pode ou não ser aplicada numa profissão concreta. Mas a exigência dos resultados no ambiente de trabalho é algo bem diferente, e essa diferença só pode ser verdadeiramente compreendida através da prática.
É precisamente aqui que reside o valor do estágio. Ele oferece a oportunidade de transformar o conhecimento técnico em habilidades práticas. Um estágio é, em essência, uma profissionalização da aprendizagem. É um período crucial em que os jovens adultos podem testar o seu caminho, aprender com os erros e visualizar-se num ambiente dinâmico e organizado, com regras e objetivos claros. É também um espaço onde podem começar a distanciar-se das avaliações teóricas e mergulhar em objetivos práticos e mensuráveis.
No entanto, existe uma diabolização histórica do estágio, justificada em grande parte pelo abuso que durante muito tempo se fez dos estagiários. Muitos foram, injustamente, tratados como mão de obra barata – ou até gratuita – e relegados a tarefas pouco significativas, como tirar fotocópias ou servir cafés. Esta situação gerou uma perceção negativa sobre a experiência do estágio, e com razão. No entanto, é importante não confundir os maus exemplos com a verdadeira essência do estágio.
Dignificar o estágio é, sem dúvida, uma prioridade. Mas a verdade é que o estágio continua a ser um momento decisivo para uma boa entrada no mundo profissional. É um período em que um jovem pode, com maior margem para o erro, experimentar a prática da sua futura profissão. Pode aprender com a dinâmica de uma organização, compreender o valor das suas tarefas diárias e, mais importante ainda, perceber se aquela área é, de facto, a que quer seguir.
Para as organizações, o estágio não deve ser visto como um compromisso definitivo, mas, sim, como uma extensão natural da formação académica. É uma fase de teste, tanto para o estagiário como para a empresa. As organizações querem, legitimamente, contratar profissionais que já foram testados no terreno, que demonstram capacidade de adaptação e resultados. E a forma mais justa e eficaz de preparar um jovem para uma posição profissional é, precisamente, através de um estágio.
Um estágio é, em última análise, uma preparação e uma validação para o passo seguinte – seja dentro da própria organização de estágio, seja numa outra que faça mais sentido para o jovem. Não é apenas uma aprendizagem técnica; É uma aprendizagem humana, onde a capacidade de trabalhar em equipa, de gerir pressões e de lidar com os desafios do dia a dia se desenvolvem e consolidam.
Em vez de demonizarmos a ideia de estágio, devemos repensá-la e elevá-la ao seu verdadeiro valor. Um estágio digno, com objetivos claros e acompanhamento adequado, é uma das formas mais eficazes de preparar os jovens para o mercado de trabalho e para o sucesso nas suas futuras carreiras. É através dele que a ponte entre a academia e o mundo real se constrói, e é nele que se solidifica o alicerce de uma carreira bem-sucedida.
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