Editorial

O fim do BES, dez anos depois

No dia 11 de junho de 2014, o BES conseguiu fechar um aumento de capital de mais de mil milhões de euros, dois meses antes da derrocada. Há dias, Pinho e Salgado foram condenados a prisão efetiva.

Foi exatamente no dia 11 de junho de 2014, faz hoje dez anos, que o Banco Espírito Santos concluía um aumento de capital de mais de mil milhões de euros para, dizia-se, reforçar a sua solidez de capital. A história é conhecida: Milhares de investidores enganados, e o banco viria a cair no dia 3 de agosto, com uma inédita resolução. Foram menos de dois meses absolutamente de luta contra o tempo, e contra a descoberta de uma verdade que, já se sabe-se, escondia um lado negro com anos, de utilização de um banco em proveito próprio, para alimentar uma rede de poder e negócios.

O ECO inicia, com este Especial Podcast, uma série de cinco trabalhos sobre as últimas semanas do BES, sobre cinco dias chave que culminaram com o fim do maior grupo financeiro português e, mais do que isso, com uma rede de poder instalada que se desfez como um baralho de cartas. Caiu um grupo, caiu o DDT (acrónimo de Dono Disto Tudo), caiu uma estrutura de poder que misturava política e negócios, bancos, grupos empresariais e o coração de um governo de má memória.

  • O FIM DO BES, DEZ ANOS DEPOIS

Passaram, assim, dez anos sobre o colapso do maior grupo financeiro português. São cinco episódios com os cinco dias decisivos do fim do BES.

#1. Como perder mil milhões em dois meses 11 de junho
#2. O fim da Era Salgado 20 de junho
#3. Rei morto, rei posto 14 de julho
#4. O buraco de 3,5 mil milhões 30 de julho
#5. O dia da capitulação 3 de agosto

A cada um destes dias, em todas as plataformas, o ECO vai publicar um Especial, e um podcast, com os detalhes, os sons, as frases ditas, e as que não foram ditas. Já se sabe muito do que agora é publicado, mas a escolha destes dias, a sua leitura integrada, com dez anos de distância, dão-nos outro olhar, sobre uma história que mudou o país.

Aprendeu-se alguma coisa? Há coincidências do diabo. Ricardo Salgado já tinha sido condenado, em primeira instância, num dos processos que saiu da Operação Marquês e agora, há dias, foi condenado a seis anos e três meses de prisão efetiva, ainda passível de recurso, por corrupção e branqueamento de capitais. Dez anos…

Neste processo, Manuel Pinho foi também condenado a dez ano de prisão efetiva corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais, no que foi a primeira vez que um governante foi condenado por atos no exercício de funções. Há dias, João Miguel Tavares revelava a sua indignação por não ler, nos vários jornais, incluindo o ECO, nem um artigo de opinião sobre este facto. Escreveram-se muitas notícias, sim, como o próprio nota num artigo no Público, mas não se lerem artigos de opinião. Tem razão. O facto é demasiado grave, e aparentemente o próprio continua a considerar normal ter recebido 15 mil euros por mês de Ricardo Salgado, fundos escondidos num ‘offshore’ e só declarados quando houve regimes especiais de repatriamento de capitais que limpavam a fraude fiscal. Não é uma notícia como qualquer outra, mas estaremos todos anestesiados pelo tempo, pela convicção, de há muito, da culpabilidade de Pinho e Salgado, nestes e noutros processos. A condenação por um tribunal só agora chegou. Seria mais ou menos como andar semanas a escrever sobre a probabilidade de Portugal pode vir a ser campeão europeu outra vez e, no dia seguinte ao jogo decisivo, não se ler qualquer opinião sobre a vitória.

Esta condenação de Pinho e de Salgado é também a condenação do nosso sistema politico-institucional, que falhou, que foi tantas vezes cúmplice de um modelo de rede tentacular, extrativo, que capturou o país. Já se sabia, dirão. Mas esta condenação é tão grave que nos deve fazer olhar outra vez para o modelo institucional, de pesos e contra-pesos, que deve desde logo garantir que não voltámos a ter um Dono Disto Tudo. Seria trágico.

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