O povo falou e disse “Direita”

O povo disse que queria um governo de direita. Mas não só. As pessoas querem mudar a sua vida para melhor e estão fartas do paternalismo da esquerda socialista.

Nas eleições de 10 de Março os portugueses transmitiram duas mensagens muito importantes:

1 – O povo disse que queria um governo de direita. O resultado mais relevante foi a grande vitória da direita, uma das maiores em eleições democráticas e concretizada com uma das maiores votações de sempre. A direita elegeu 60% dos representantes e ganhou mais de 900 mil votos face a 2022, o que representa uma mudança muito significativa num país que é apresentado como sendo sociologicamente de esquerda, por influência do 25 de Abril e da muita propaganda que lhe está associado.

Esta mensagem fundamental foi pouco referida nos dias a seguir à eleição, mas o seu significado é claro: Portugal voltou a ser um país de direita no aniversário dos 50 anos da mudança de regime e os portugueses escolheram a direita para gerir os destinos do país nos próximos 4 anos. O que os factos mostram é que desde as maiorias do Professor Cavaco Silva, há mais de 30 anos, nunca a direita tinha alcançado uma vitória tão grande.

O resultado tem sido ignorado e substituído pelas discussões à volta do Chega, que a “bolha” do comentário adora. Mas a grande maioria do país vive alheada dessas discussões. É verdade que a direita não é única, há várias direitas. Pelo que a questão de interesse é agora o nível de entendimento que ocorrerá entre essas várias direitas. Houve duas que já se entenderam antes das eleições, a social-democrata – liberal e a democrata-cristã – conservadora. Falta saber se o outro partido também o vai fazer.

2 – As pessoas querem mudar a sua vida para melhor e estão fartas do paternalismo da esquerda socialista. Os portugueses querem um governo que deixe as ideias de esquerda que governaram nos últimos 30 anos e que nos condenaram ao empobrecimento relativo, e este afastar da esquerda do governo é uma oportunidade para mudar Portugal para melhor.

O povo português está cansado de que lhe digam o que fazer e como fazer. Está cansado do mau funcionamento do Estado, da excessiva carga fiscal, da espera para aceder aos serviços de saúde, da subida dos preços, da falta de professores, da maior insegurança nas ruas, da dificuldade em obter bens de que necessita, da chantagem permanente justificada pelas alterações climáticas, das tentativas consecutivas para destruir os valores da família e de ver os filhos irem para longe por não terem condições de vida em Portugal.

Durante anos, os portugueses suportaram uma esquerda que pretendeu conciliar a imposição de alterações radicais aos costumes com o imobilismo dos que estão na idade de nada querer mudar (chamando-lhe “estabilidade”) e que, muitas vezes, parece que nem com o futuro dos filhos estão preocupados. A demonstrá-lo está o reduzido número de votos que o PS recebeu dos jovens (10% do total, menos ainda do que o PCP), sinal de um partido envelhecido, com uma juventude socialista sem ideias e mais inócua do que a sua congénere comunista.

Apesar do aumento da taxa de participação eleitoral em 750 mil votantes, só o PS perdeu quase meio milhão de votos. A esquerda radical ganhou um deputado, mas também a concorrência de um PS muito mais radicalizado, liderado por quem se julga um predestinado. No total, toda a esquerda socialista teve uma enorme derrota e perdeu algumas centenas de milhar de eleitores, ficando apenas com 39% dos votos e dos representantes eleitos.

Perante estas duas mensagens, o problema que o novo governo tem para resolver é como implementar o seu programa de mudança que os portugueses sufragaram. Um primeiro passo será montar uma estrutura de negociação permanente para que possa fazer acordos com o outro partido de direita, o Chega, e com o PS.

Com a “viragem” à direita, a AD passou a ser o centro do sistema político português, o fiel da balança por quem passam todas as decisões. Luís Montenegro comprometeu-se com os portugueses a governar com maioria relativa e a não incluir o Chega no governo. Deve cumprir o que prometeu porque a boa política requer credibilidade e a inclusão do Chega quebraria a promessa e traria para o governo um partido que até agora não demonstrou ser credível.

Com a “viragem” à direita, a AD passou a ser o centro do sistema político português, o fiel da balança por quem passam todas as decisões. Luís Montenegro comprometeu-se com os portugueses a governar com maioria relativa e a não incluir o Chega no governo. Deve cumprir o que prometeu porque a boa política requer credibilidade e a inclusão do Chega quebraria a promessa e traria para o governo um partido que até agora não demonstrou ser credível.

Mas isso não impede que não faça acordos em determinadas matérias com o Chega e em outras com o PS. E estes acordos com Chega e PS não são impossíveis, pois há pontos em que pode haver algum consenso e que poderão ser desbloqueados ao longo dos próximos meses. Mesmo sendo possíveis, serão acordos difíceis de alcançar.

No caso do Chega há um problema de credibilidade de um partido que numa semana se vitimiza e na outra agride verbalmente os aliados que deseja ter. Seria bom para a democracia que o Chega crescesse em maturidade como cresceu em votos, e assumisse uma atitude mais responsável perante os desafios difíceis com que se defronta Portugal. Se o partido quiser ser governo no futuro e não continuar a ser apenas um agregador temporário de protestos, tem de demonstrar responsabilidade e apresentar soluções razoáveis e implementáveis.

O problema do PS é a degradação política que provocou em Portugal através do “activismo” partidário permanente e da corrupção e instabilidade nos seus governos. Esta perda de credibilidade é reforçada pela tentativa de usar o Chega para chantagear os eleitores e pelas alianças com uma esquerda muito radical, que é contra a democracia liberal. Os socialistas não sabem viver sem tricas políticas e ficam com falta de ar se as não incluírem nos assuntos de interesse nacional. A agravar a situação está ainda a imponderabilidade do seu líder, que afirmou publicamente recusar o programa da AD porque não quer mudar Portugal, preferindo o imobilismo da sua envelhecida base eleitoral.

Apesar desta falta de credibilidade, os acordos serão necessários para mudar Portugal. Há áreas de possível acordo entre AD e PS e entre AD e Chega. Exemplos são, no primeiro caso, a reforma da justiça sem que se caia na tentação de querer a partidarização das nomeações, reforçar as forças de segurança, coordenar a política externa, aprofundar a participação na NATO e apoiar a Ucrânia, e, no segundo, regular a imigração, combater a insegurança e a corrupção, e eliminar a ideologia das escolas e a politização de todas as áreas do Estado.

Esses pontos, conjuntamente com o mau funcionamento da saúde, da educação e das políticas de apoio social, explicam o descontentamento que terá levado muitos abstencionistas a votar para manifestar o seu protesto contra a evolução do país. A AD propõe soluções para os desafios de Portugal e para eliminar esse descontentamento de muitos eleitores. Precisa agora de que outros partidos apoiem essas medidas.

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