O prémio do Euromilhões pode acabar com o seu casamento
A sorte nem sempre se mostra como o esperado e a vitória de prémio num jogo de sorte e azar tem a virtude de potenciar o amor ou desbloquear tensões há muito enraizadas no casamento.
O dinheiro pode terminar com um casamento. E não é apenas pelo lado do provérbio popular “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”.
Vários trabalhos em redor das finanças comportamentais apontam para que a perspetiva de perder dinheiro tem um efeito emocional nas pessoas mais forte do que o de ganhar uma quantia semelhante.
Foi isso que demonstrou o prémio Nobel da Economia Daniel Kahneman e Amos Tversky, num trabalho publicado em 1979, e outros que os seguiram, como Kai Ruggeri num paper publicado em 2020.
Mas quando o princípio da “aversão a perdas” se aplica ao universo dos casamentos, as conclusões são no mínimo curiosas.
Segundo um trabalho académico de quatro investigadores da National Bureau of Economic Research publicado recentemente, grandes oscilações financeiras na riqueza dos casais, em qualquer direção (ganhar ou perder), podem abalar muito o matrimónio. O estudo teve como foco o mercado sueco e a vida dos vencedores da lotaria nacional durante 10 anos.
De acordo com a análise realizada, o “felizardo” que ficou com o bilhete vencedor mudou significativamente o troço do casamento. “Constatamos que o prémio da lotaria aumenta as probabilidades de [longevidade] de curto e médio prazo do casamento”, escrevem David Cesarini, Erik Lindqvist, Robert Östling e Anastasia Terskaya em “Famílias afortunadas? Os efeitos da riqueza sobre o casamento e a fertilidade“.
No entanto, os quatro investigadores notam particulares assimetrias no resultado desta situação consoante se o vencedor for a mulher ou o homem, notando, por exemplo, que “o efeito global da riqueza na formação do casamento é impulsionado pelos vencedores masculinos” e que “as mulheres dão mais peso às características económicas dos potenciais parceiros do que os homens.”
Mas os investigadores vão mais longe. Concluem que, no longo prazo, nas situações que tiveram vencedores masculinos assistiu-se a uma redução do risco de divórcio e a uma maior fertilidade, levando a casamentos estáveis e à formação de família. “O risco de ocorrer um divórcio nos dez anos seguintes a [um homem] ganhar um prémio da lotaria cai 40%“, lê-se no estudo.
Em contraposição, os investigadores referem que quando o prémio da lotaria foi ganho por uma mulher, a probabilidade de divórcio aumentou, especialmente para as mulheres de baixos rendimentos e para aquelas que auferiam salários muito abaixo dos salários dos seus maridos.
Segundo as contas dos autores do estudo, “um ganho inesperado de 1 milhão de coroas suecas [cerca de 90 mil euros aos preços de hoje] quase que duplica a taxa de divórcio no curto prazo.”
As conclusões do estudo apontam para que um choque positivo da riqueza de um casal acaba por acelerar o término de um casamento cuja dissolução já estava em curso. Em contraste, o risco de divórcio a longo prazo diminui quando os maridos ganham o jackpot.
“Estes resultados são compatíveis com as provas empíricas anteriores que mostram que um maior rendimento ou um emprego do marido estabiliza os casamentos, enquanto um aumento no rendimento ou do emprego das mulheres tem o efeito oposto”, concluem os investigadores, destacando trabalhos como “Lacunas de género na informalidade laboral: O efeito de maternidade“, de Inés Berniell.
O dinheiro está longe de determinar o sucesso ou insucesso de uma relação amorosa. Mas da mesma forma que o dinheiro não traz felicidade, acaba por ajudar.
E o que o estudo de Cesarini e dos seus colegas acaba por mostrar é que o dinheiro, quer seja através do prémio de uma lotaria ou do jackpot do Euromilhões, mais do que um presente envenenado para o casamento, é um importante impulsionador para desbloquear receios que, com o passar dos anos, acabam por ganhar raízes quando as pessoas não têm liberdade financeira. Quando não têm capacidade de tomar decisões por questões financeiras.
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