Editorial

O que quer o Chega? E os eleitores?

Os eleitores, esse corpo heterogéneo, apostaram em maior estabilidade e em mudança, dois objetivos que podem ser atingidos por Luís Montenegro.

O Chega… chegou, e André Ventura já definiu as duas prioridades para os próximos quatro anos, para chegar a São Bento: O Chega não poderá ser um partido de poder se for ‘apenas’ o ponto de encontro do ressentimento, e vai querer ser a alternativa ao bloco central. E tal como as coisas estão hoje, Ventura tem o vento a favor.

Depois dos resultados históricos de domingo, o sistema político mudou mesmo, porque o Chega passou a fazer parte dele, e da parte que influencia a governação, com aspiração a ser mesmo o que manda. As reações mediáticas que se leram e ouviram nos últimos dias mostram que há muitos participantes na palco mediático que ainda não perceberam o que se passou. Políticos, comentadores, jornalistas, a repetirem os erros que nos trouxeram até aqui. Os quase 1.4 milhões de eleitores do Chega não votaram apenas por protesto, fizeram uma escolha por uma mudança, e esta motivação é substantivamente diferente. Ventura já percebeu o que tem na mão e na entrevista à TVI/CNN, deixou isso claro.

Um partido de ressentimento serve apenas como lebre ou ameaça para os partidos de poder, do arco da governação. E o que Ventura nos disse é que quer um partido de alternativa, não de protesto, e de alternativa à AD e ao PS, colando-os umbilicalmente. É mais fácil dizer do que fazer, e basta olhar para aquela espécie de programa eleitoral para percebermos a fragilidade do projeto político de Ventura para além das bandeiras da imigração e da corrução, populares. O Chega não mudou na sua essência, continua a ser um partido estatizante, conservador, populista e justicialista, sem quadros que se apresentem. André Ventura vale mais sozinho do que o Chega somado.

A ideia de um governo sombra tem caminho para fazer. Regra geral, é um modelo que resulta nos sistemas bipartidários, como o inglês, mas é a fórmula é engenhosa para trazer quadros que estarão agora mais disponíveis para dar a cara e para contribuírem para um programa político que não se esgote em duas ou três afirmações. Mas a capacidade de afirmação do Chega também depende (ou ainda…) do que o próximo Governo for capaz de fazer.

Os eleitores, esse corpo heterogéneo, apostaram em maior estabilidade e em mudança, dois objetivos que podem ser atingidos por Luís Montenegro. Como disse Pedro Passos Coelho, uma maioria, ou condições de estabilidade, não é um fim em si mesmo, tem de servir para alguma coisa. Para mudar.

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