O terceiro anel do PSD

Como um Rio que escorrega acéfalo para o Mar, o PSD encontrou na República Atlântica a âncora política para a nova República em Portugal.

A agitação política a propósito da nova Coligação nos Açores avançou como uma vibração erótica pela virtude nacional. As Ilhas no Atlântico são agora o laboratório político de todas as correntes e ondulações, de todas as virgens e de todos os devassos. Em Portugal somos assim, sensíveis até à medula, puritanos no limite da pornografia política.

O líder do PSD tem na sua brilhante mente a ideia de uma República do Norte, um misto de instituições e práticas políticas que não precisam de ser descritas porque todo o bom português percebe. A República do Norte não é de Esquerda nem é de Direita, mas tanto vota à Esquerda como vota à Direita. A esta incerta identidade o líder do PSD chama de centro-direita no Norte e de centro-esquerda no Sul. No entanto, a nova República do Norte não pode existir no deprimente circuito das Distritais, nem na profusão pedestre de um Grupo Parlamentar que todos os dias espanta a Nação. A República do Norte desespera pelo Poder. O Poder sempre animou a ala oportunista do PSD, as longas filas de carreiristas invertebrados, as pequenas cliques de caciques locais que têm a ambição de governar Portugal e ser exemplo para o Mundo. Como um Rio que escorrega acéfalo para o Mar, o PSD encontrou na República Atlântica a âncora política para a nova República em Portugal.

Há qualquer coisa de utópico na solidão das ilhas, o vento que excita as ideias políticas inexistentes mas que ganham corpo, respiração, realidade. O PS não ganhou, o PSD não perdeu. E depois segue-se um rol inexplicável de grupos e de grupúsculos com uma fastidiosa fixação política, monomaníaca, pós-menopausa. Surge então a Gloriosa Coligação que não é uma Coligação, mas talvez uma espécie de litografia em papel rasgado para regozijo e exaltação de todas as forças à Direita. Perante as críticas, o CDS vem afirmar que viabiliza uma Coligação ao estilo da AD, não percebendo que excluindo o CHEGA a nova maioria é afinal uma minoria. É a pequena contabilidade de um grande calculista.

O hidrogénio da Coligação, aquilo que a faz voar no Céu como uma Passarola sobre Lisboa, é o Chega. O dito partido é o discurso de um homem só, um manipulador da propaganda que diz o que é necessário para garantir a vitória das suas cores. Sectário, oportunista, tendo como princípio não ter princípios, reproduz na linguagem e no estilo de um vendedor a conversa de café que resolve todos os problemas. A política do Chega é tudo aquilo que pode causar o caos, a agitação, a confusão, a degradação da linguagem, a linha ultramarina de uma Nova República. Em bom rigor, o ideário do partido é a versão fato e gravata de um skinhead de secretária, ao estilo de quem toma possa das bancadas de um estádio ao som dos cânticos “Esta Merda é Toda Nossa!”. A matriz política do Chega é uma visão do Mundo inspirada pelos NO NAME BOYS.

A Esquerda através do PS e na sua hipocrisia desmembrada agita a conta no corredor da mercearia, depois de ter feito o seu empréstimo com juros especulativos junto do BE e do PCP. Nada de equivalências morais, a Esquerda é a representação na Terra da Justiça, da Paz, da Prosperidade – os novos Deuses da Humanidade. Aliás, a Esquerda do PS guarda a senha para o atendimento no guichet do Orçamento, repartição das quimeras políticas, junto ao balcão do BE e do PCP.

Uma certa Direita diz que está tudo muito bem, que a Coligação PSD/Chega é a forma pós-moderna de “federar” a Direita perante a ascensão e o triunfo das Esquerdas, pós-comunistas, pós-democráticas, recicladas, cínicas, soberbas na sua arrogância vergonhosa e ausência de memória histórica. Quando se entra na equação da vergonha, ou na inequação das pulsões suicidas, toco à campainha saio do Eléctrico 28 e desço a Calçada da Estrela em direcção ao Parlamento onde fico na contemplação do dogma das pedras e da degradação da política.

O PSD é em Portugal o grande projecto de uma Direita civilizada, democrática, urbana, liberal, conservadora. O PSD está na matriz da constituição do Regime Democrático, tem uma identidade própria e tem os recursos políticos para se reinventar para além da multidão de analfabetos políticos. Surge imediatamente no discurso da própria Direita a dicotomia entre uma posição Popular e uma atitude Elitista, surge mecanicamente a oposição entre o Bairro Classe Média e a Torre de Marfim. Na recusa de uma fábrica de capital humano e de uma linha de produção de ideias, o que se revela é uma Direita medíocre, inferiorizada, tomada pelo sentimento de um atraso existencial e que tem de incorporar os fantasistas dos lugares-comuns e da ambição pessoal. Há certas proximidades que degradam; há certas associações que envergonham.

Desta forma, o “centro vital” afunda-se numa lagoa vulcânica. A política migra para os Extremos. Os portugueses ficam suspensos entre dois Abismos – a Revolução e a Reacção. Recuso-me a admitir que não possamos conciliar a ordem com a liberdade, o progresso com a segurança, o desenvolvimento com a justiça. Esta “inocência” nada tem de inocente, porque encerra todo um Programa Político, porque afirma a maior de todas as acusações aos homens do meu País – a acusação da cobardia política.

Nota: O autor escreve ao abrigo do antigo acordo ortográfico.

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