O tudo ou nada de Zuckerberg

O Facebook tem um ativo valiosíssimo, que é o seu algoritmo. Mas isso já não chega e a aposta no "metaverso" é tudo menos segura. Zuckerberg pode ter o controlo, só que o mercado não perdoa.

Inicio este texto com uma pequena experiência – abrir o Facebook.

O ícone da sineta mostra que tenho 16 notificações por ler. Seis referem-se a “gostos” em imagens inspiradoras por um familiar distante. Outras seis são de publicações em grupos que não frequento, nem sequer me inscrevi. Há ainda um pedido de um desconhecido para que “goste” de uma página com um nome esquisito, e um aviso sobre outra página qualquer que mudou de nome. O último diz apenas que alguém “partilhou um link”.

Tudo isto é absolutamente irrelevante para mim.

Há muito tempo que não uso ativamente o Facebook e faz anos que tirei a aplicação do telemóvel. Ainda assim, continuo a aceder à minha conta, esporadicamente, via browser. E há sempre algo que me intriga.

100% das notificações – sem exagero – dizem respeito a coisas sobre as quais não tenho o menor interesse. Mas há algo de diferente no Feed de Notícias. Viveria perfeitamente sem o que lá vejo, é certo, mas a verdade é que, se me distraio por instante que seja, dou por mim, cinco minutos depois, preso a um vídeo qualquer. É o poder do algoritmo.

Os dias não têm corrido bem lá para os lados de Menlo Park. Esta quinta-feira, por exemplo, Mark Zuckerberg acordou milhares de milhões de dólares mais pobre – ou melhor, menos rico. Não que isso tenha impacto relevante na sua vida financeira. Mais milhão, menos milhão, pouco ou nada muda. Mas terá, certamente, um efeito psicológico no CEO do Facebook.

É que a forma como os investidores avaliam a empresa está a mudar. Só assim se explica que as ações tenham afundado quase 25% esta quinta-feira, mesmo depois de o grupo ter apresentado um lucro de 10,3 mil milhões de dólares nos três últimos meses do ano. A expectativa dos analistas era de lucros de… 10,9 mil milhões. Mais milhão, menos milhão…

Isto é o mercado a castigar Mark Zuckerberg. Primeiro, porque a decisão da Apple de reforçar a privacidade nos iPhones está a pesar mesmo nas receitas (dando a provar ao Facebook o mesmo remédio que milhares de negócios têm de engolir sempre que o grupo decide ajustar o seu algoritmo). Depois, porque tem saltitado de escândalo em escândalo. Em terceiro lugar, porque a estratégia do Facebook para mudar a narrativa, numa altura em que era acusado de estar por detrás do aumento dos suicídios de adolescentes, teve o seu sucesso, mas só vai até certo nível.

Refiro-me à mudança de nome da holding para Meta e a “aposta” na criação do “metaverso” – uma decisão tão vazia que até o nome do Facebook, enquanto rede social, permaneceu o mesmo. De repente, temos a Microsoft a anunciar um investimento de 70 mil milhões de dólares no “metaverso” e todo um hype em torno de um conceito a que alguém chamou de Web 3.0.

Tudo isto é muito bonito, mas o facto é que estratégia do “metaverso” está a gerar desconforto internamente no Facebook, contava esta semana o The New York Times. Ao que parece, nem os próprios trabalhadores entendem muito bem a visão de “metaverso” que tem sido promovida pelo patrão.

Apesar de todo este caos, o Facebook ainda tem um ativo valiosíssimo – o seu algoritmo. O problema é que isso já não chega, sobretudo numa altura em que os bancos centrais começam a subir os juros, tornando menos atrativos os ganhos futuros das empresas de tecnologia, e a base de utilizadores dá sinais de estar a estagnar.

O “metaverso” é o tudo ou nada de Mark Zuckerberg. Pode estar no lado certo da História, ou a cometer um erro fatal.

O futuro o dirá.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

O tudo ou nada de Zuckerberg

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião