O valor económico da neutralidade geopolítica

A decisão da Suécia de se juntar à NATO reflete uma realidade global cada vez mais volátil, onde a ameaça de agressores como a Rússia redefiniu o cálculo de risco sobre a neutralidade geopolítica.

O Tratado do Atlântico Norte, que deu origem à NATO, foi assinado há 75 anos. A NATO hoje continua a crescer. Desde 7 de Março de 2024, a Suécia tornou-se o membro mais recente desta aliança, depois da adesão da Finlândia no ano anterior. A decisão da Suécia marca o fim de mais de 200 anos de não-alinhamento e neutralidade geopolítica, ou seja, de não envolvimento ou alinhamento em conflitos internacionais, alianças ou lutas de poder.

Durante dois séculos, a Suécia-neutral (bom, por vezes a Suécia-não-beligerante) evitou a guerra. Isto incluiu as duas guerras mundiais. Claro que muitos outros países “neutrais” não tiveram tanta sorte. Por exemplo, a Alemanha invadiu a Bélgica, o Luxemburgo, a Noruega, a Dinamarca e a Holanda, países neutrais (alguns duas vezes). A Finlândia era neutral antes de ser invadida pela União Soviética. Há outros exemplos. Mas a Suécia em larga medida ganhou a lotaria da neutralidade e conseguiu escapar à guerra.

Ser neutral traz benefícios além da paz. Permite fazer trocas comerciais com as duas partes do conflito e permite a um país ser um porto seguro para movimentos de capital e pessoas. Portugal, por exemplo, foi neutral na Segunda Guerra Mundial. Isto permitiu que a economia portuguesa vendesse volfrâmio à Alemanha e aos Aliados, crescendo significativamente entre 1940 e 1944.

No entanto, nem sempre é possível ser neutral. Muitos países supostamente neutros não o são de fato, mesmo sem serem invadidos por uma das partes da guerra. Portugal começou a Primeira Guerra Mundial como neutral, apesar de alguns combates com tropas alemãs na África, antes de se juntar aos Aliados. E na Segunda Guerra Mundial, embora formalmente neutral, Portugal estava mais alinhado financeiramente com os Aliados.

Mais, as consequências económicas da guerra não se fazem sentir apenas nos países em guerra. Apesar do crescimento económico português elevado durante a segunda guerra mundial, o racionamento e outras restrições relacionadas com a guerra fizeram com que este crescimento não se refletisse necessariamente no bem-estar das pessoas.

A decisão da Suécia de se juntar à NATO reflete uma realidade global cada vez mais volátil, onde a ameaça de agressores como a Rússia e talvez a China redefiniu o cálculo do risco. A transição da opinião pública na Suécia, de 56% contra a adesão à NATO em abril de 2014 para 63% a favor em janeiro de 2024, sugere que este país prefere estar na NATO para evitar ou combater uma guerra.

A investigação em Economia sobre o custo-benefício da neutralidade ainda é escassa, mas o que sabemos sobre o custo da guerra é assustador. O “Calculador do Preço da Guerra” do Kiel Institute for the World Economy baseia-se no artigo “The Price of War” de Jonathan Federle, Andre Meier, Gernot J. Muller, Willi Mutschler, e Moritz Schularick, que estima os efeitos macroeconómicos médios de grandes guerras entre 1870 e 2022. Este estudo fornece um cálculo sobre o que aconteceria com a economia mundial se uma guerra típica ocorresse num local específico, tendo em conta efeitos no comércio internacional relacionados com a proximidade geográfica. Uma guerra de magnitude “média” na Suécia, reduziria o PIB real deste país em 31% após cinco anos. Uma guerra de magnitude “média” na Finlândia, na Federação Russa, nos Países Bálticos e na Polónia, reduziria o PIB real da Suécia em 4% após cinco anos. Este trabalho ainda é bastante recente e tem muitas limitações, mas mostra o impacto da guerra nas economias em conflito, mas também nos países vizinhos.

Não conheço estudos que mostrem que a adesão à NATO torna um país ou o mundo mais seguro. É uma questão difícil de responder. Teoricamente faz sentido que haja um preço a pagar pela paz, seja dissuasão ou apaziguamento. Um projecto recente de David K. Levine e Lee E. Ohanian, “When to Appease and When to Punish: Hitler, Putin, and Hamas”, estuda isto no contexto da teoria dos jogos. Igualmente, é preciso mais investigação sobre o valor económico da neutralidade geopolítica. No entanto, estas questões precisam de ser vistas à luz dos custos elevados da guerra.

  • Professor de Economia Internacional na ESCP Business School

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