Chegaram os REIT. Agora vamos todos jogar ao Monopólio?
Demoraram, mas chegaram. Décadas depois de terem sido criados, os REIT vão ser uma realidade. Vêm facilitar o acesso ao investimento imobiliário. É o Monopólio da vida real.
Todo o mundo os conhece como Real Estate Investment Trusts (REIT). Em Espanha, as SOCIMI há muito que entraram no léxico dos investidores, mas em Portugal só agora é que esta vai ser uma realidade no mundo dos investimentos imobiliários. Não são REIT, nem SOCIMI, mas sim Sociedades de Investimento e Gestão Imobiliária, ou SIGI. Nomes diferentes mas que, no fundo, querem dizer exatamente o mesmo, tendo como objetivo último facilitar o acesso ao investimento em imóveis.
Até agora, quem queria investir neste setor tinha poucas soluções. Podia fazê-lo através dos fundos de investimento imobiliário ou, em alternativa, comprar mesmo imóveis. Os fundos poderiam ser opção, mas a fraca oferta destes produtos, bem como a reduzida liquidez que oferecem — um problema em tempos de crise, tornando muito difícil o resgate das poupanças –, puseram a aposta nestes fundos fora do tabuleiro de jogo.
Comprar casas não é para todos os investidores, já que exige um elevado esforço financeiro, só ao alcance de alguns, daí que há muito que muitos pediam a chegada das SIGI. A promessa foi feita por Pedro Siza Vieira, o ministro Adjunto e da Economia. E, com um ligeiro atraso, foi mesmo cumprida. Legislação está pronta, falta chegar ao terreno. E não demorará muito até que surjam as primeiras. A indústria está só à espera para que se façam rolar os dados.
A ideia é democratizar o investimento imobiliário. Com um regime específico, o país espera a chegada de muitos milhares de milhões de euros para investir no setor. E que os portugueses queiram fazer parte dessa aposta, tendo em conta que o acesso ao investimento nestes ativos torna-se muito mais simples. E, principalmente, mais transparente. Será tão fácil quanto comprar uma ação de uma qualquer empresa em bolsa, obtendo o mesmo nível de informação que se obtém habitualmente por parte de uma cotada.
A taxa de poupança dos portugueses é baixa. E não descola nem por nada, mas as poucas poupanças que as famílias têm estão estacionadas nos bancos à procura de melhores oportunidades. Muito do dinheiro em depósitos está à ordem. Entre não render nada e muito pouco, prefere-se a disponibilidade do dinheiro para ser fácil mobilizá-lo para qualquer solução que apresente promessas de rendimento atrativas.
Neste ponto, as SIGI têm tudo para ter sucesso. O país quer, a indústria também, e os investidores terão maior apetência para investirem num mercado que conhecem bem — ou não fosse Portugal dos países europeus com as mais elevadas taxas de casa própria por parte das famílias –, ao contrário do que acontece com o tradicional mercado acionista. Prova disso são todas as operações falhadas nos últimos meses na bolsa de Lisboa.
O Monopólio — o jogo, não a prática anticoncorrencial lesiva do mercado — passa do tabuleiro para a vida real. O jogo começa. E tal como acontece no jogo, de cada vez que rolam os dados vai poder comprar-se apartamentos nas ruas mais atrativas. Além disso, em jogo entram também escritórios e shoppings. O leque é manifestamente alargado, ao contrário do que se temia — e só assim se garante o sucesso das SIGI. Não vão investir só em apartamentos para arrendamentos de longo prazo.
As SIGI surgem após anos de forte valorização dos preços do imobiliário, mas num contexto em que apesar de se continuar a prever que o mercado continue a encarecer, as estimativas são de algum travão à subida. Esse travão pode ser bom. Pode evitar que se criem, mais à frente, bolhas especulativas. Mas a especulação continuará, com ou sem SIGI.
Ao mesmo tempo que muitos procurarão estes novos veículos para serem donos de uma pequena parte de muitos imóveis, muitos mais, principalmente os mais jovens, continuarão a olhar para o imobiliário como um luxo. Comprar? Nem pensar. Arrendar? Só com muito custo.
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