Os números dos unicórnios

A cultura tecnológica está a mudar e os votos sopram a favor da Europa, facilitando o aparecimento de mais unicórnios.

O mítico animal é a designação escolhida para as empresas que atingem a valorização de 1B, algo que costuma ser entendido como um sinal da vitalidade do setor tecnológico – e que tem servido para demonstrar a superioridade americana face ao velho continente.

É verdade que a Europa tem muito menos unicórnios que os Estados Unidos ou a China. Mas os unicórnios europeus são muito mais baratos, no sentido em que chegam a custar metade do capital para chegar à mítica valorização. Claro que a condicionante de não ter tanto dinheiro disponível acaba por obrigar a maior eficiência, mas também questões culturais como a responsabilidade social, muito mais enraízadas na Europa do que nos Estados Unidos, desempenham um fator relevante.

É sabido que “os nossos” unicórnios ultrapassam muito mais dificuldades, porque não têm um mercado gigante a falar a mesma língua e as mesmas condições laborais (como nos EUA) e nem um estado central anti-democrático que dita as políticas de investimento (como na China).

Na Europa há muito menos capital de risco disponível e há uma mentalidade dominante que se opõe à especulação financeira, para além da falta de recursos humanos qualificados e de barreiras sociais entre países. Mas as coisas tendem a melhorar para o lado de cá do Atlântico. Desde logo porque a tendência nos últimos vinte anos tem sido para uma redução do défice de investimento tecnológico na Europa. Aliás, se olharmos apenas para as empresas que foram com sucesso ao mercado nos últimos dez anos, a diferença entre a Europa e os EUA é bastante menor. Depois, porque os novos quadros regulatórios em que a União Europeia foi pioneira e que estão agora a ser adotados até na Califórnia dão uma vantagem estratégica aos europeus – isto aplica-se a questões como a privacidade mas também à regulação nas empresas que exploram a economia da partilha (como a Uber e a AirBnB).

Também a mudança cultural face aos investimentos ajuda: mais de 500 empresas tecnológicas sediadas na Europa estão a trabalhar em objetivos sustentáveis, o que tem sido apoiado pelos investidores que alinham cada vez mais as suas prioridades com o desenvolvimento social. Isto, junto com a aposta continental do New Green Deal, vai abrir muitas oportunidades de investimento que colocarão as empresas europeias na liderança de um setor em crescimento.

Outro aspeto indesmentível é que a livre movimentação de pessoas está a funcionar, visto que mais de 25% dos fundadores de empresas tecnológicas optam por fazê-lo noutro país que não aquele onde nasceram. E há sinais de que a sangria de cérebros baixou, porque os salários europeus na tecnologia estão a aproximar-se dos americanos e porque a cultura das empresas tecnológicas americanas tem uma conotação cada vez mais negativa.

Por tudo isto, há já vinte países europeus com empresas apoiadas com capital de risco que atingiram a mítica valorização que faz delas unicórnios – com o Reino Unido, a Alemanha e a França na liderança, mas Portugal, Estónia e Ucrânia também estão na lista. Entre a primeira metade da década e a segunda, a Europa multiplicou por quatro o número de unicórnios, comprovando que a nova cultura associada às opções tecnológicas está a virar a favor das escolhas europeias. É aproveitar.

Ler mais: todos os dados deste texto foram retirados do relatório mais abrangente sobre o meio tecnológico europeu, publicado pouco antes do final do ano. É uma leitura essencial para entender o crescimento do setor.

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