Portugal destrói a educação e o futuro dos seus filhos

Uma boa política educativa poderia mudar alguma coisa no nosso país se a anunciada descentralização e reforço da autonomia das escolas fosse uma realidade.

A educação das pessoas é a “rocha” onde assenta o presente e o futuro de uma sociedade. A sua importância é ainda maior quando um país segue uma trajectória de perda económica face aos seus principais aliados e parceiros, como é o caso de Portugal. Nestes casos, os países deverão ter a preocupação de compreender quais são as causas para o seu mau desempenho.

Portugal é um exemplo “mau” de país que se atrasa e onde os jovens emigram cada vez mais. O diagnóstico do que está mal na sociedade portuguesa está feito há muito, mas continua a ser ignorado por quem está no poder e pela maioria dos portugueses.

A educação é uma das áreas onde há muito de errado, mas por ser uma das fundações de todo o desenvolvimento deveria ser encarada como demasiado importante para ser ignorada. Infelizmente, ao fim de 7 anos de poder, a preocupação demonstrada pelo actual ministro não é que a educação funcione bem ou que os portugueses qualificados estejam a procurar trabalho noutros países.

A sua maior preocupação parece ser passar mensagens aos alunos sobre como se devem comportar, que os alunos aprendam a fazer manifestações de rua e que fiquem embrenhados na ideologia do “género” e nas posições anti-racistas, anti-xenófobas, anti-homofóbicas e “anti-tudo” o que o desgosta e aos seus assessores, e que não é inclusivo.

Não é relevante estimular os alunos para serem os melhores ou para quererem ganhar mais porque o mérito é pouco inclusivo. Valorizar o mérito ou o esforço individual dos alunos é pouco inclusivo, porque uns têm e outros não. A filosofia do ministério é que se uns não têm, então os outros também não devem ter muito mais. É preferível que todos tenham pouco do que alguns poderem ter muito e os outros pouco.

Foi com estas ideias que o actual ministro trouxe um novo paradigma para a política educativa em Portugal. É uma política educativa original, porque em vez de promover o conhecimento, promove a ignorância quando ela é necessária para o seu (da política) sucesso, e para isso tenta apagar tudo o que se desvie da linha que a sua imaginação e a sua ideologia concebem.

Os exemplos desta política educativa promotora da mediocridade e da inclusão são numerosos. O mais evidente é a evolução dos alunos portugueses durante a pandemia, quando estiveram fechados e impossibilitados de assistir presencialmente às aulas. As escolas e colégios tiveram de fazer um esforço enorme para conseguir colocar as aulas virtuais a funcionar e ultrapassarem as promessas ocas do ministro sobre a entrega de computadores.

Mesmo alguns agrupamentos como o de Alvide, no concelho de Cascais, que se estavam a preparar para a formação “on-line” ainda antes da pandemia, referem ter tido enormes dificuldades e limitações para se conseguirem adaptar à nova realidade dos confinamentos. O que será das escolas que nem sequer tinham começado a pensar no assunto e se viram perante uma situação em que professores e alunos foram forçados a ficar em casa?

O caso de Portugal não foi único, evidentemente. Mas em países preocupados com a evolução da aprendizagem dos alunos, e que por isso fizeram uma avaliação dos efeitos da pandemia, as conclusões foram muito negativas.

Numa conferência recente sobre autonomia educativa das escolas, organizada pelo CDS-PP de Cascais e onde estiveram presentes diversos directores de agrupamentos escolares e de escolas privadas, Alexandre Homem Cristo exemplificou alguns custos significativos do “lockdown” quando avaliados a nível internacional:

  • Os alunos na Holanda perderam o equivalente a 8 semanas de aprendizagem, que correspondem ao período de confinamento forçado analisado.
  • Os alunos de 9 anos nos EUA registaram um retrocesso de 20 anos no nível de aprendizagem. O que estes alunos aprenderam em 2020, durante a pandemia, foi o mesmo que tinham aprendido os que em 2000 tinham a mesma idade, havendo um retrocesso significativo da evolução registada até 2019.

Apesar do entendimento consensual na comunidade escolar sobre os problemas de adaptação à escola virtual e apesar dos danos muito relevantes e da necessidade de compreender os seus efeitos, não foi até agora publicada qualquer avaliação pública séria dedicada ao assunto em Portugal.

O Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) produziu um relatório limitado em 2021 (“Estudo Diagnóstico das Aprendizagens – Apresentação de Resultados”) que, na sua introdução não deixa dúvidas de que a preocupação não são os atrasos na aprendizagem causados pela pandemia, mas as possíveis diferenças entre os alunos pelo facto de o “processo de ensino e de aprendizagem, … se confrontou com situações desconhecidas e inovadoras que poderão ter causado algumas disparidades entre os alunos de diferentes escolas”. O problema para o IAVE não é que os alunos tenham ficados atrasados na aprendizagem. O grande problema é que não estejam todos na mesma situação. Se estiverem todos igualmente atrasados não há qualquer motivo para preocupação, na óptica da nova política educativa do ministro.

Os seus autores demonstram iliteracia quando somam percentagens de respostas relativas a questões diferentes, o que é estatisticamente incorrecto (ver páginas 10, 12 e 14 na apresentação dos resultados). Se o IAVE realiza as suas avaliações por quem não domina conceitos estatísticos simples, podemos ficar descansados sobre a fiabilidade das suas análises?

Apesar da ausência de um diagnóstico adequado sobre os problemas causados pela pandemia no ensino e de as escolas não terem acesso a uma avaliação cuidada sobre os seus efeitos, o ministério resolveu implementar um plano de recuperação da aprendizagem com o nome pomposo de “Plano 21|23 Escola+”.

Em 2022, em Abril e Junho, o ministério publicou dois relatórios de monitorização desse plano que simplesmente ignoram os efeitos nas aprendizagens. São apenas mais dois relatórios burocráticos sobre a implementação das medidas, o tipo de análise que é de especial agrado do ministro pois em nada contribui para o conhecimento sobre os problemas da educação. Apenas considera se as escolas estão a obedecer às suas ordens.

Posteriormente, o IAVE publicou um segundo relatório com base nas provas de aferição realizadas neste ano (“Provas de Aferição do Ensino Básico 2022 Resultados Nacionais”). Neste relatório a conclusão é que houve uma melhoria face a 2019, pelo que os efeitos da pandemia seriam negligenciáveis e ter-se-iam perdido no tempo. Na prática, o relatório assume que o plano de recuperação de aprendizagem foi suficiente e que o problema está resolvido.

No entanto, as provas de aferição têm um valor reduzido e um relatório que nelas se baseie também. Os alunos sabem que estas provas não contam para a sua avaliação e por isso não as valorizam. Eu próprio aconselhei os meus filhos a não ligarem muito ao assunto, uma vez que não lhes servia para nada, dizendo-lhes para se concentrarem nas provas que são importantes.

Mais preocupante ainda, um plano de recuperação que assente na premissa de que houve efeitos negativos na aprendizagem dos alunos e procure resolvê-los é encarado de forma muito diferente de um plano assente na ilusão de que Portugal evoluiu durante a pandemia. O primeiro é um caso sério que tenta avaliar e resolver as consequências nefastas dos sucessivos confinamentos. O segundo serve apenas para promover a ignorância sobre o assunto e confirmar uma ideia pré-concebida.

Os relatórios PISA, publicados pela OCDE, são consensualmente aceites como um bom referencial para avaliar a evolução das aprendizagens. Portugal registou um progresso notável nos resultados obtidos pelos seus alunos entre 2000 e 2015 a Leitura, Matemática e Ciências.

O que se observa é que planos e relatórios não faltam. O que falta é conhecimento sobre a realidade. A consequência de não haver uma avaliação cuidada é que continuamos sem saber quais os efeitos da pandemia na aprendizagem dos alunos portugueses. O ministro já referiu publicamente que houve progresso durante a pandemia (ao contrário dos problemas reconhecidos em outros países), mas não apresenta qualquer evidência desse facto. A ignorância é uma garantia para o sucesso da sua política educativa.

Existem sempre avaliações internacionais que nos protegem da incapacidade dos avaliadores nacionais e da manipulação política, e aqui surge o segundo exemplo da política original educativa promovida por este ministro.

Os relatórios PISA, publicados pela OCDE, são consensualmente aceites como um bom referencial para avaliar a evolução das aprendizagens. Portugal registou um progresso notável nos resultados obtidos pelos seus alunos entre 2000 e 2015 a Leitura, Matemática e Ciências.

Os resultados dos testes realizados em 2018 mostraram os resultados do novo paradigma para a política educativa trazida pelo actual ministro. As pontuações dos alunos portugueses baixaram significativamente a Leitura e Ciências, e no segundo caso para um nível inferior a 2009, e mantiveram-se em Matemática. O Ministério da Educação optou por ignorar os resultados e preferiu desvalorizar os testes PISA. Esta posição “inovadora”, em que os resultados que não agradam ou não são manipuláveis são “apagados”, marca toda uma nova abordagem educativa para a promoção da ignorância. Vamos ver que novidades trazem os próximos resultados do PISA.

Outros exemplos desta “excelência” educativa são a perseguição feita aos melhores alunos de Famalicão por recusarem a intoxicação ideológica do “género”, a discriminação dos alunos do ensino privado no acesso aos livros escolares gratuitos, ou a novidade pedagógica de se ensinar obras como “Os Maias” sem que os alunos tenham de ler o livro, podendo cingir-se a resumos.

Infelizmente, a maioria dos pais não liga ao que se passa nas escolas, pois está mais preocupada com os seus afazeres diários e já aceita como uma fatalidade, e alguns até com alívio, ver os filhos irem viver para o estrangeiro.

Uma boa política educativa poderia mudar alguma coisa no nosso país se a anunciada descentralização e reforço da autonomia das escolas fosse uma realidade. Portugal é dos países da Europa em que as escolas têm menos autonomia e em que decisões tão simples como a contratação de um docente são feitas para responder aos “lobbies” corporativos de alguns professores e não pelo interesse na melhor aprendizagem dos alunos e no melhor funcionamento das escolas. Já vimos que isso não está entre as preocupações principais da política educativa do actual ministro. Enquanto assim for, Portugal continuará a destruir a educação e o futuro dos seus filhos, e os custos económicos e o atraso do país serão as únicas coisas a singrar.

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