Editorial

PSD e CDS unidos contra a democracia

Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos estão a cavar a sepultura do PSD e CDS nas eleições antecipadas que se aproximam. António Costa agradece a ajuda.

Francisco Rodrigues dos Santos impôs um adiamento das eleições internas do CDS para depois das eleições, Rui Rio ainda não chegou aí mas quer exatamente o mesmo. No momento em que a esquerda está dividida e o Governo sofre o desgaste de seis anos de governação, os dois ‘chefes’ — ‘líderes’ é outra coisa — querem evitar eleições internas e com isso estão a criar as condições perfeitas para se apresentarem às legislativas antecipadas sem qualquer capacidade de mobilização, ou mesmo legitimidade política. António Costa agradece e enviará um cartão personalizado a cada um.

Alguma coisa está mal quando Costa, Rio e Rodrigues dos Santos querem exatamente a mesma data para as eleições legislativas antecipadas, isto é, quanto mais cedo melhor. Percebe-se o que quer Costa, para apostar tudo na maioria absoluta, percebe-se Rio e Rodrigues dos Santos, que querem segurar-se ao lugar e sonham com um qualquer milagre que os leve, em AD pré-eleitoral, a uma situação que no mínimo impeça a maioria absoluta do PS e, com isso, leve à saída do atual primeiro-ministro. São muitos ‘ses’ à direita. E pouca democracia.

Rio e Rodrigues dos Santos terminaram os seus mandatos e os resultados estão longe de serem satisfatórios, para não dizer outra coisa. Teriam eleições internas agora e o bom senso aconselharia que as legislativas antecipadas fossem mais uma razão para a votação interna. Já havia opositores internos previsíveis há meses, e com capacidade de mobilização interna. Paulo Rangel e Nuno Melo estavam a preparar-se para este embate, embora ambos com um comportamento público irrepreensível em relação aos respetivos presidentes.

Se Rodrigues dos Santos impôs um cancelamento do congresso, coisa estranha num partido democrático, Rio estará ainda a fazer pior. Quer também ir a votos no país sem sem aprovado pelo seu próprio partido e, não vá haver mesmo eleições internas, acena com o poder de nomeação de deputados mesmo que venha a perder essa eleição para pressionar o voto dos militantes. É pouco menos do que uma vergonha.

Rio e Rodrigues dos Santos deveriam fazer exatamente o contrário do que estão a fazer, deveriam antecipar as eleições internas e clarificar que caminho quer seguir cada partido. Não é um problema jurídico, como diz o presidente do CDS, é um problema político. Não há outra forma de o dizer: Rio e Rodrigues dos Santos estão com medo do confronto e não vale a pena repetirem à exaustão que são muito corajosos. Quem assiste a estas jogadas, a estes golpes de estado, só pode concluir que não querem o debate interno. E sem isso, como é que podem aspirar a ganhar o confronto externo?

Como escreveu Nuno Garoupa na sua página de Facebook, estes tristes espetáculos (no caso do CDS, parece mesmo uma associação de estudantes) só pode levar a uma grandiosa maioria absoluta de direita… Os militantes, simpatizantes e eleitores flutuantes que podem votar no PSD e CDS estarão seguramente muito mobilizados, como é fácil de ver. Rio e Rodrigues dos Santos estão a cavar a sepultura do PSD e CDS, pensando nos seus interesses pessoais. E não me venham com a conversa de que Rio é honesto… honestos somos todos. O que está em causa é política, ou melhor, legitimidade política.

A defesa de eleições antecipadas já a 9 de janeiro ou até a 16 de janeiro insere-se nesta estratégia. Para Rio e Francisco Rodrigues dos Santos, uma pré-campanha eleitoral ou mesmo campanha em período natalício é um pormenor, irrelevante. Os eleitores até já conhecem os presidentes do PSD e CDS, não é? Não, não é, porque Rio e Rodrigues dos Santos deveriam querer tempo e ‘share’ de atenção dos portugueses para apresentarem os seus planos, as suas propostas políticas. Pelos vistos, não querem…

Marcelo anuncia na quinta-feira a data das eleições. Fica aqui uma aposta: 30 de janeiro, que permite uma pré-campanha eleitoral e uma campanha com o tempo e o espaço adequados, para os atuais presidentes ou para novas lideranças. A democracia agradece.

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