Revitalizar o empreendedorismo português

  • José Sacadura
  • 18 Novembro 2024

É essencial que o aparelho do Estado esteja também focado na captação de investimentos, além da gestão fiscal e tributária.

O ecossistema empreendedor global tem evoluído a um ritmo acelerado, impulsionado por uma dinâmica vibrante de inovação e tecnologia. Neste cenário, Portugal emerge como um dos protagonistas com um crescimento expressivo no número de startups e inovações em múltiplos setores. No entanto, por trás deste entusiasmo, persistem desafios que continuam a restringir o pleno potencial do país.

A recente promulgação da Lei das Startups e Scaleups representou um avanço para o fortalecimento do ecossistema nacional. Contudo, a sua eficácia tem sido limitada por obstáculos duradouros, como a escassez de financiamento adequado e uma burocracia crónica, extremamente morosa, que carece de ação imediata. O acesso ao capital permanece um dos maiores entraves para os empreendedores em Portugal.

Portugal encontra-se numa posição estratégica para aproveitar as oportunidades oferecidas pelo ecossistema europeu de inovação. A sua localização geográfica, o histórico de relações comerciais com economias fora da União Europeia e a língua portuguesa, falada em grandes mercados como Brasil e Angola, fazem de Portugal um ponto de entrada atrativo para startups que pretendem expandir-se para a Europa.

É essencial que o aparelho do Estado esteja também focado na captação de investimentos, além da gestão fiscal e tributária. No debate público há uma ênfase frequente em temas como despesa pública e coleta de impostos, mas são raras as discussões sobre atração de investimentos.

Um exemplo interessante é o que ocorre na França. O evento “Choose France” é uma iniciativa criada para apresentar às grandes empresas internacionais todas as ações e políticas adotadas pelo governo francês para aumentar a atratividade económica do país.

Portugal encontra-se numa posição estratégica para aproveitar as oportunidades oferecidas pelo ecossistema europeu de inovação. A sua localização geográfica, o histórico de relações comerciais com economias fora da União Europeia e a língua portuguesa, falada em grandes mercados como Brasil e Angola, fazem de Portugal um ponto de entrada atrativo para startups que pretendem expandir-se para a Europa. Contudo, os desafios enfrentados pelos empreendedores em Portugal não são exclusivos do país.

No contexto europeu, o relatório de Mario Draghi, publicado em setembro deste ano, sublinha a urgência de uma “mudança radical” na economia da União Europeia. Draghi enfatiza a importância de uma colaboração mais estreita entre os Estados-Membros e um investimento significativo, estimado em 800 mil milhões de euros, para revitalizar a produtividade e o crescimento. Um dos pontos críticos identificados pelo relatório é a escassez de um ambiente de investimento robusto. Atualmente, a Europa representa apenas 5% dos fundos globais de capital de risco, em contraste com os EUA e a China que dominam a esse respeito. Para que o ecossistema de startups na Europa prospere, é fundamental estabelecer uma União dos Mercados de Capitais que elimine as barreiras ao fluxo de capital e facilite o investimento em inovação.

As propostas de Draghi, como a criação de uma estrutura coordenada de competitividade a nível europeu, podem beneficiar diretamente Portugal. Uma estrutura deste tipo facilitaria a atração de investimentos estrangeiros e criaria sinergias entre os Estados-Membros, tornando mais simples para as startups operarem em diferentes mercados europeus.

As propostas de Draghi, como a criação de uma estrutura coordenada de competitividade a nível europeu, podem beneficiar diretamente Portugal. Uma estrutura deste tipo facilitaria a atração de investimentos estrangeiros e criaria sinergias entre os Estados-Membros, tornando mais simples para as startups operarem em diferentes mercados europeus. Para Portugal, estas medidas podem representar uma oportunidade única de se posicionar como um líder regional no setor de inovação.

Podemos ir mais a fundo ainda. Por que não começar a integrar no sistema educativo português, desde o ensino básico, matérias relacionadas com empreendedorismo, marketing, inteligência artificial, análise de dados e programação?

Acredito que permitirá que as crianças desenvolvam habilidades empresariais e criativas desde cedo, não descurando as essenciais ciências naturais, físicas ou sociais, mas complementando-as e criando uma mentalidade de “criação de valor”. Não apenas relacionada com o lucro, mas também por um impacto positivo em toda a sociedade. Um médico que saiba programar pode automatizar tarefas mais repetitivas e analisar vários dados de pacientes de forma rápida. Um pintor que tenha tido aulas de marketing pode criar a sua identidade artística e utilizar de forma eficaz as redes sociais.

O futuro do empreendedorismo em Portugal dependerá das escolhas estratégicas que forem feitas hoje.

  • José Sacadura
  • Cofundador e general manager da Powerdot em Portugal

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