Riscos em Alta: O Desafio das Seguradoras

  • António Rito Batalha
  • 27 Maio 2025

Os grandes riscos estão a mudar e António Rito Batalha, especialista em resseguro e seguradoras, aproveita para ilustrar uma nova forma exigível à indústria para enfrentar uma realidade alterada.

Estamos a entrar numa nova era de riscos – mais frequentes, mais imprevisíveis e mais interligados. O recente estudo da Moody’s, que identifica os 10 principais riscos que hoje moldam o setor segurador global, confirma uma perceção crescente entre profissionais da área. Por sua vez o Barómetro de Risco da Allianz 2025 (baseado na resposta de 3.778 especialistas em gestão de riscos de 106 países) identifica igualmente alguns desses principais riscos.

São 10 os riscos que colocam à prova os modelos de negócio e as estruturas técnicas das seguradoras e resseguradoras:

  • Ciberataques: Com a crescente dependência da internet, os ataques cibernéticos tornaram-se uma ameaça constante, exigindo que as seguradoras desenvolvam estruturas eficazes para gerir este risco em evolução. Este risco ficou em 1º lugar no Barómetro de Risco da Allianz (BRA), com 38% das respostas;
  • Alterações Climáticas: Os desastres relacionados com o clima são um dos principais fatores que estão a transformar o setor segurador, exigindo uma compreensão profunda das interações que aceleram o aquecimento global. Este risco ficou em 5º lugar no BRA (19%), mas em 2º lugar se relacionado com interrupção de negócio / perdas de exploração (31%);
  • Objetivo de Emissões Líquidas Zero: A transição para uma economia de emissões líquidas zero apresenta desafios científicos e sociopolíticos, afetando a avaliação de riscos e a tomada de decisões pelas seguradoras. Este risco ficou em 4º lugar no BRA (25%) ao relacionar-se com alterações de normas ambientais e regulatórias;
  • Choques Económicos: As perturbações nas cadeias de abastecimento, os efeitos persistentes da pandemia e os riscos geopolíticos intensificaram as questões económicas, levando ao aumento da inflação, dos salários e dos custos das matérias-primas. Este risco ficou em 7º lugar no BRA, com 15% das respostas relativas a desenvolvimentos macroeconómicos;
  • Segurabilidade de Riscos Catastróficos: A frequência e gravidade crescentes de eventos climáticos extremos colocam desafios significativos à segurabilidade, com as seguradoras a enfrentarem dificuldades em oferecer cobertura adequada. Este risco ficou em 3º lugar no BRA, com 29% das respostas;
  • Cadeias de Abastecimento Globais: As interrupções nas cadeias de abastecimento globais, como as causadas pela pandemia de COVID-19 e conflitos geopolíticos, destacam a necessidade de resiliência e estratégias de mitigação de riscos;
  • Conflitos Perpétuos: A intensificação de conflitos geopolíticos e guerras prolongadas afeta a estabilidade económica e apresenta riscos significativos para as operações seguradoras em diversas regiões;
  • Infraestruturas Degradadas: A infraestrutura envelhecida em países desenvolvidos e a nova infraestrutura em países em desenvolvimento apresentam desafios, com riscos acrescidos de falhas sob condições extremas;
  • Responsabilidades de Longo Prazo: As seguradoras enfrentam um aumento nas responsabilidades de longo prazo devido a fatores como a inflação social, taxas de litígio mais elevadas e alterações legislativas que prolongam os prazos de reclamação;
  • Longevidade e Mortalidade: Embora os avanços na saúde tenham aumentado a esperança de vida, questões como obesidade e acesso inadequado aos cuidados de saúde contrariam esses ganhos, tornando difícil prever as tendências futuras.

Estes desafios não são apenas teóricos ou distantes. Já afetam o dia a dia das operações, das avaliações de risco e da relação com clientes e parceiros. E, acima de tudo, tornam claro que o nível de resistência necessário hoje ultrapassa largamente o que era exigido no passado.

A tendência para uma redefinição ou implementação de cláusulas contratuais e exclusões existe (ex: PFAS, Hours clause, 5 Powers War Clause, entre outras). No passado, estas eram muitas vezes de iniciativa dos resseguradores, que procuravam proteger-se de riscos mal definidos ou emergentes. Hoje, são também as próprias seguradoras que sentem a necessidade de ajustar condições, com base numa leitura mais prudente e atualizada da sua exposição.

A linha entre o segurável e o não segurável está a deslocar-se. Não por falta de vontade de cobrir riscos, mas porque a natureza desses riscos exige inovação, abordagens mais cuidadas e soluções técnicas ajustadas. Isso não significa retroceder na missão do setor — que é proteger — mas sim avançar com mais inteligência e com estruturas mais robustas, que permitam continuar a oferecer respostas viáveis e sustentáveis.

Estamos perante um ponto de inflexão. A capacidade de adaptação que mostrarmos agora determinará não só a resiliência do setor, mas também a sua relevância futura.

  • António Rito Batalha
  • Senior Client Manager Reinsurance & Insurance

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