Seca meteorológica?

É essencial promover a gestão cada vez mais equilibrada e eficiente dos recursos hídricos disponíveis, mas é essencial apostar no aumento claro da capacidade de retenção das águas da chuva.

A seca na região sul da Europa é influenciada pela variabilidade climática anual que se vem agravando e que, de acordo com todos os modelos de previsão, se vai continuar a agravar com as mudanças climáticas globais. Relembremo-nos que ainda há poucos dias vivemos o dia mais quente do planeta. Esta diminuição da quantidade anual de chuva, face à normal climatológica, é habitualmente chamada seca meteorológica. Em função da sua intensidade os efeitos são sentidos em muitos sectores e com diversos impactos.

A nível hidrológico, com redução dos níveis médios da água armazenada nos recursos hídricos superficiais e subterrâneos e com a escassez de água no solo, causando impactos ao nível do abastecimento urbano, da indústria, da produção energética, da atividade turística e da agricultura regadio (com menor área de produção e custos muito mais elevados).

No crescimento vegetativo das plantas, com menor crescimento de culturas anuais de sequeiro, de prados e pastagens (e seu impacto na produção pecuária,) nos olivais, pomares e vinhas e também nas áreas florestais.

No setor florestal com menor crescimento das árvores, aumento da mortalidade de espécies florestais, maior suscetibilidade a doenças e pragas, e aumento do risco de incêndios florestais.

E por último na biodiversidade, pois muitas espécies dependem de condições específicas de humidade, levando assim à perda de habitats e diminuição da diversidade de espécies.

A frequência de situações de seca meteorológica implica, cada vez mais, a seca agrícola associada à falta de água motivada pelo desequilíbrio entre a água disponível no solo, a necessidade das culturas e a transpiração das plantas.

Mas, estamos também perante uma seca económica, uma vez que a diminuição das disponibilidades de água é de tal ordem acentuada que tem consequências negativas ao nível das atividades económicas.

O regadio na agricultura portuguesa é hoje muito contestado, associado frequentemente a culturas modernas e em alguma escala, de olival, amendoal, abacates. Mas não nos esqueçamos que praticamente tudo o que produzimos e que consumimos, mesmo parte dos alimentos importados, é produzido em áreas irrigadas. Sem elas seria hoje menor e praticamente residual a produção alimentar em Portugal e o despovoamento e abandono das áreas rurais ter-se-ia ainda tornado ainda mais severo. E com ele mais abandono, mais incêndios rurais e florestais

É essencial promover a gestão cada vez mais equilibrada e eficiente dos recursos hídricos disponíveis, mas é essencial apostar no aumento claro da capacidade de retenção das águas da chuva com barragens e charcas, promovendo a recarga dos aquíferos subterrâneos (em Portugal Continental apenas 1% da água da chuva é armazenada em albufeiras).

E aqui as boas práticas de gestão do solo e da floresta podem contribuir de forma essencial para a regulação do ciclo da água.

Mais floresta significa maior capacidade de retenção de água, mas também menores riscos de erosão. Por isso, uma estratégia de minimização dos impactos da seca deve incluir a expansão das áreas florestais, especialmente das espécies que melhor se adaptam aos novos desafios climáticos. Esta expansão tem de ser olhada pela sociedade e pelos nossos governantes como estratégia fundamental.

Na floresta, não basta combater os efeitos da seca e do aquecimento global, através de medidas de prevenção e combate aos incêndios. É necessária uma política real de incentivo aos investimentos em novas áreas florestais, nas beneficiações das existentes, com a criação de mais pontos de água que permitam mais biodiversidade, e um apoio de rega nos anos de plantação.

Urge que as medidas de apoio sejam efetivas e programadas, com calendários definidos e com dotações orçamentais adequadas à ambição das nossas necessidades sectoriais, nacionais e cada vez mais globais. Hoje existe uma consciencialização conjunta destas necessidades e não teremos muitas mais oportunidades de agir.

Nota: Por opção o autor escreve ao abrigo do anterior acordo ortográfico.

  • Responsável de Management, Agroforestry & Ecosystem Services do Fundo Land

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