Sem talento, não há obra

  • Vasco Magalhães
  • 14:00

O setor da construção não pode continuar refém de um modelo ultrapassado, onde o talento é descartável e a formação é um luxo.

Em 2025, o setor da construção em Portugal vive uma contradição: a procura por reabilitação urbana e construção nova está em alta, impulsionada por fundos europeus, políticas públicas de habitação e a crescente exigência por soluções sustentáveis. Mas esta dinâmica esbarra numa realidade dura — não há gente suficiente para responder à procura. E, pior, estamos a perder talento para outras geografias e setores.

A escassez de mão de obra qualificada e a dificuldade em reter profissionais estão a tornar-se o grande desafio da construção em Portugal. A solução não passa apenas por contratar mais pessoas, mas por profissionalizar o setor e valorizar quem nele trabalha. Isso exige um compromisso claro com a formação, a cultura organizacional e a inovação.

Formação: o alicerce que falta

É tempo de investir de forma estruturada e contínua na formação — não apenas na componente técnica, mas também na vertente de gestão. Em particular, destacam-se quatro áreas críticas para quem lidera ou gere negócios na construção:

  • Soft skills: liderar equipas, comunicar com clareza e trabalhar em colaboração;
  • Gestão financeira: controlar custos, planear com rigor e garantir rentabilidade;
  • Marketing e presença digital: posicionar-se online, atrair novos clientes e diferenciar-se;
  • Gestão Comercial: negociar com eficácia e fidelizar clientes.

Na vertente técnica, a formação deve acompanhar a inovação. Novos materiais, técnicas de construção sustentável, eficiência energética, digitalização dos processos e até noções de decoração ou design são hoje fatores diferenciadores. Um bom profissional técnico precisa, hoje, de um olhar mais transversal e atualizado.

Os melhores programas de formação combinam conhecimento prático (transmitido por quem está no terreno) com uma visão externa, atualizada e especializada. É essa abordagem híbrida — que cruza experiência com inovação — que garante programas relevantes, úteis e transformadores.

Cultura e retenção: mais do que formar, é preciso cuidar

Mas não basta formar. É preciso reter. Num setor historicamente marcado pela rotatividade, há que criar condições para que os profissionais queiram ficar. Isso começa por cultivar um sentido de pertença — um alinhamento cultural e estratégico entre equipas, líderes e empresas. Quando há propósito, reconhecimento, desenvolvimento e progressão de carreira, há retenção.

A hora de agir

O setor da construção não pode continuar refém de um modelo ultrapassado, onde o talento é descartável e a formação é um luxo. O futuro constrói-se com profissionais preparados, motivados e valorizados. Formar é construir. Reter é proteger o que se construiu. E esse tem de ser o novo alicerce da construção em Portugal.

  • Vasco Magalhães
  • Diretor-geral MELOM e Querido Mudei a Casa Obras

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