Só o capitalismo pode ser verde
Os que hoje saem à rua exaltados a defender o ambiente devem ter consciência deste trilema: entre o Anti-capitalismo, Ambientalismo e Democracia só podem escolher dois. Para mim é uma escolha fácil.
Há pouco tempo a esquerda portuguesa exigia estímulos ao consumo. A solução para a crise económica passava por mais consumo e investimento público. Sobre investimento público estamos conversados: os 4 anos de orçamentos aprovados à esquerda com recordes negativos de investimento público falam por si. Mas agora também muitos dos que ainda há pouco tempo defendiam estímulos ao consumo para estimular a economia, hoje defendem, por motivos ambientais, uma política de “Decrescimento”. Esta política de decrescimento consiste numa redução à escala mundial da produção e, consequentemente, do consumo.
Matematicamente, há duas formas de reduzir a produção à escala global: reduzindo a população ou reduzindo a quantidade produzida por pessoa. A primeira foi tentada pela China com algum sucesso, mas vou dar crédito suficiente aos defensores da teoria do decrescimento, assumindo que não defendem restrições à procriação só possíveis em regimes altamente autoritários. Resta então a redução da produção por pessoa, ou seja, do PIB per capita.
Para percebermos o que isto significa para Portugal, temos que olhar para o PIB per capita mundial. Segundo o Banco Mundial, o PIB per capita mundial é de $17913 (à volta de 16 mil euros). É a partir deste valor que é preciso reduzir. Obviamente, não podemos pedir aos países mais pobres que o façam. Esses já estão abaixo da média e deve-lhes ser permitido crescer um pouco mais. Será a países como Portugal que a teoria do decrescimento exigirá que “decresçam” pelo menos até à média mundial, ou seja, que ajustem o seu nível de vida pelo do Gabão (cujo PIB per capita é de exactamente a média mundial). No caso de Portugal isso exigiria um decrescimento de 46%. Se este decrescimento fosse dividido por 15 anos, isso exigiria um decrescimento anual contínuo de 4%.
Vamos fazer aqui uma pausa e voltar a 2012. O desemprego atingia recordes, havia protestos nas ruas todos os dias e relatos de pessoas a morrer no SNS por falta de investimento (entretanto deixaram de morrer apesar de o investimento ter baixado). Em Outubro aconteceu o famoso cerco ao parlamento. A polícia passou horas a levar pedradas, acabando por perseguir os manifestantes à bastonada pela cidade de Lisboa. Inúmeros colunistas e académicos do CES anunciavam ao mundo que a austeridade matava.
As políticas de austeridade na sequência da intervenção da Troika levaram ao maior decrescimento do PIB de que há memória: 4%. Para que Portugal produza o mesmo por habitante que a média mundial precisaríamos de 15 anos seguidos como 2012. Quinze anos. Nem com toneladas de propaganda um regime democrático suportaria 15 anos seguidos com decrescimento ao nível de 2012. Seria o fim da democracia. E estes cálculos são optimistas porque o objectivo dos defensores do decrescimento não é manter a média mundial, é baixá-la. Por isso em vez de 15 anos, poderíamos ter 20 anos semelhantes a 2012.
Há uma alternativa a este cenário que é continuar a crescer a produção e o consumo, mas utilizando menos recursos. Curiosamente, aumentar a produção utilizando menos recursos é o objectivo de qualquer sociedade de base capitalista. Desde que o custo dos recursos sejam devidamente cobrados (algo que, assumidamente, muitas vezes não tem sido feito no caso dos recursos naturais e ambientais), o objectivo das empresas num mercado livre é precisamente fazer mais com menos, utilizar menos recursos para produzir mais.
O desenvolvimento de tecnologias limpas, desde a investigação à produção, também exige investimentos avultados, ou seja, exige acumulação de capital. Sem acumulação de capital não há aperfeiçoamento de tecnologias que permitam continuar a crescer utilizando menos recursos. Ou seja, sem capitalismo não há ambientalismo. Pelo menos em democracia. Ambientalismo em democracia só com uma sociedade capaz de acumular capital e investi-lo de forma livre em métodos de produção cada vez mais eficientes que permitem crescimento com menos recursos. Os que hoje saem à rua exaltados a defender o ambiente devem ter consciência deste trilema: entre o Anti-capitalismo, Ambientalismo e Democracia só podem escolher dois. Para mim é uma escolha fácil. Não sei se será para todos.
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