Trump, Oprah e Rio

O drama maior é a perda de autoridade moral do inquilino da Casa Branca e isso não tem solução.

Se alguém duvida da crise de liderança das grandes nações, basta falar em Donald Trump e Oprah Winfrey na América. Um maluco e um poço de lugares comuns que muitos aplaudem porque são medíocres e incultos. Essa é a triste realidade. Um mundo sem cultura não tem defesas contra os populistas nem contra a ditadura dos politicamente correctos. O grande desafio da humanidade, para lá das alterações climáticas e da sustentabilidade, é a cultura. Essa devia ser a prioridade e poucos falam dela, exactamente porque são incultos.

O centro de gravidade comunicacional é pontuado pelo barulho, pelo disparate, pela futilidade. E mesmo a Nação mais poderosa do mundo foi enredada pela personalidade de um homem que soma o pior do que descrevi, temperado pela insensatez das redes sociais e da vaidade humana. Se havia dúvidas que Trump tinha diversos defeitos de personalidade, julgo que já não sobram muitas. O Presidente que o ruído sem critério e a democracia das caixas de comentários dos jornais elegeu é manifestamente inapto para o exercício do cargo mais importante do mundo.

E não bastam os resultados da economia que cresce nos Estados Unidos para retirar uma vírgula às cores carregadas com que o caracterizei. Ele, como o El Pais escreveu, é o maior factor de risco para 2018. Diariamente é um buraco negro de “gravitas”, com mudanças de humor bruscas e com um processo de decisão ao nível dos melhores cataventos. Ao contrário do que o próprio escreveu na sua cadeira de poder que é o Twitter, ele não é génio nenhum, é apenas bizarro. É uma criança mimada, ignorante e instável no corpo de um homem que se habituou a ter tudo o que o dinheiro pode comprar.

Estabilidade emocional é um dos requisitos base de qualquer líder, porém, o seu combustível não é a temperança, é apenas o disparate. Um ano depois de ser eleito, o livro fenómeno de vendas de Martin Wolff pincelou a sua personalidade de maneira grotesca. O próprio Secretário de Estado, Rex Tillerson, afirma que é um idiota. Poucos o respeitam, a sua equipa chama-lhe nomes e nas posições de topo do seu staff encontram-se ex-estagiários. «Um homem que não lê e não ouve, e que segue a opinião do último que lhe diz alguma coisa», retrata Wolff. O drama maior é a perda de autoridade moral do inquilino da Casa Branca e isso não tem solução.

Enquanto ocorre esta ópera-bufa nos EUA, a Europa recompõe-se assente na nova grande coligação alemã e numa liderança ambiciosa e dinâmica de Macron. A pairar sobre tudo isto, dois homens inteligentes, que compreendem os balanços do globo e que vão reforçando o seu poder e influência: Vladimir Putin e Xi Jinping. Mas na América persiste um sentimento de orfandade, pois do lado Democrata não há ninguém que emerja como esperança para derrubar Trump. Daí que muitos tenham olhado para o discurso de Oprah nos Globos de Ouro como um farol para os tempos que virão. Confesso que, apesar de conhecer e respeitar toda a força mediática e emocional da apresentadora e actriz, acho muito pouco. Não é bom que pessoas sem preparação, sem conhecimento do mundo e de vários temas políticos, estejam na vanguarda para serem os rostos de uma liderança visionária e moderada. O mediatismo não pode ser a centelha de onde brotam presidenciáveis, isso não basta e já temos exemplos que cheguem para temermos o pior.

Por cá, tudo mais pequenino, o PSD escolheu um novo líder. E quem ganha tem sempre mérito. Vamos dar algum tempo para perceber os primeiros passos, as opções de temas e de personalidades que o acompanharão, observar o ritmo da sua oposição que nos primeiros tempos não pode nunca ser de vender a alma ao Diabo. Mas convido os leitores a voltarem ao primeiro parágrafo deste artigo. É que numa entrevista dada a Clara de Sousa nas primárias, esta perguntou-lhe há quanto tempo não ia ao teatro. Rui Rio respondeu, depois de 10 segundos em silêncio (uma eternidade em televisão): «Bom, vou ao teatro mas não me lembro. Vou mais ao cinema, mas também não me lembro a última vez que fui. Ah! Já sei, fui ao cinema no dia a seguir a ter abandonado a câmara do Porto». Pois bem, há 5 anos que não vai ao teatro e ao cinema. Pode isto não dizer nada à maioria das pessoas, mas para mim é significativo. Alguém que lhe explique que Cultura não é um gasto, é um investimento numa sociedade melhor. Escrevi lá em cima e repito: «Um mundo sem cultura não tem defesas contra os populistas nem contra a ditadura dos politicamente correctos. O grande desafio da humanidade, para lá das alterações climáticas e da sustentabilidade, é a cultura. Essa devia ser a prioridade e poucos falam dela, exactamente porque são incultos».

Nota: O autor escreve segundo a antiga ortografia

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