Um alerta sobre as exportações

As boas taxas de crescimento das exportações nos últimos anos são uma boa notícia, mas não chega.

A economia portuguesa tem um problema de crescimento de médio e longo prazo, desde há muito diagnosticado (embora as possíveis soluções para esse problema não sejam de forma nenhuma consensuais). Esse problema de médio e longo prazo impede a economia portuguesa de crescer de forma sustentável acima de 2.5%/ano durante períodos relativamente longos.

Isso resulta de o PIB potencial ser muito baixo. Neste momento, o PIB potencial de Portugal ronda os 2%. Basta ver que para a Estónia é de 3.4%, sendo de 3% para a Eslovénia e de 4.5% para a Irlanda. Ora, este baixo PIB potencial resulta sobretudo de dois motivos:

  1. Por um lado, uma baixa produtividade, quer do fator trabalho, quer do fator capital.
  2. Por outro lado, um baixo nível de investimento.

Neste artigo não pretendo olhar para os diferentes motivos que levam a que a produtividade dos fatores da economia portuguesa seja baixo, nem as razões pelas quais o investimento na economia nacional tem estado em valores muito baixos desde há 20 anos. Neste artigo, por razões de limitação de espaço e de foco, pretendo apenas olhar para uma consequência destes fatores, e que se relaciona com as exportações.

Uma grande parte dos economistas nacionais entende que Portugal exporta pouco em termos do seu PIB. Neste momento, as exportações de bens e serviços (será a estas que irei referir-me ao longo do texto) representam 45% do PIB. Basta ver que a maioria das economias da Europa de Leste, com quem competimos, tem níveis de exportações acima dos 80% PIB. Sendo que Irlanda e Malta têm valores acima dos 100%.

Adicionalmente, os países de Leste têm dívidas públicas bastante abaixo do limiar dos 60% (contra os cerca de 120% de Portugal), bem como dívidas externas baixas.

Assim, Portugal precisa de exportar muito mais do que aquilo que faz hoje. E, sobretudo, precisa que as suas exportações cresçam muito acima do seu PIB, por forma a que o peso relativo das exportações no PIB aumente.

Ora, entre 2010 e 2014, a economia nacional fez um esforço muito grande nesse sentido. A retração do mercado interno “obrigou” muitas empresas a procurar mercados externos. O Gráfico 1 mostra a taxa de crescimento das exportações entre 2008 e 2018. Vemos taxas de crescimento bastante elevadas nos primeiros anos da crise. Uma desaceleração nos anos seguintes. E em 2016 e 2017 voltámos a ter um crescimento das exportações bastante razoável.

Gráfico 1 – Crescimento das exportações portuguesas

Fonte dos dados: Pordata (valores das exportações); autor (taxa de crescimento)

O Gráfico 2 mostra o peso das exportações do PIB. De 27% do PIB em 2009, passámos para 45% do PIB em 2017. Um aumento de 18 pontos percentuais (p.p.) do PIB, ou seja, em oito anos, um aumento de quase 70%. Em volume, passámos de cerca de 56 mil M€ de exportações do PIB em 2009 para cerca de 85 mil M€ em 2017. Um crescimento em volume de 50%.

As exportações de bens aumentaram de 39 mil M€ para 55 mil M€, ou seja, mais 40%. Passaram de 22% para 28% do PIB. Mas as exportações de serviços (onde naturalmente o turismo tem um impacto grande, mas não é apenas turismo, mas também outros serviços, nomeadamente tecnologia, saúde, outsourcing, etc) passaram de 18 mil M€ para 30 mil M€, um aumento de 70%. Passaram de 10% para 16% do PIB.

Gráfico 2 – Peso das exportações no PIB

Fonte dos dados: Pordata (valores das exportações e do PIB); autor (peso das exportações no PIB)

Sucede, porém, que quando vemos o aumento do peso das exportações no PIB nos últimos anos, o cenário é bastante menos animador. O Gráfico 3 mostra a variação das exportações em percentagem do PIB. O aumento de 18 p.p. do PIB concentrou-se sobretudo nos anos da crise (2010-2013). Esses 4 anos representam 13 p.p. de aumento. Ou seja, ¾ do aumento resultaram desses anos. Desde então o peso das exportações no PIB subiu muito menos. Praticamente estagnou entre 2014 e 2016. Recuperou em 2017, mas volta a estagnar em 2018 (e em 2019 tendo em conta as previsões do OE/2019).

Gráfico 3 – Variação do peso das exportações em p.p. do PIB

Fonte dos dados: Pordata (valores das exportações e do PIB); autor (variações)

Em síntese, as boas taxas de crescimento das exportações nos últimos anos são uma boa notícia, mas não chega. Precisamos de ter taxas de crescimento das exportações que permitam que o seu peso no PIB cresça, pelo menos, 2-3 p.p. por ano. Para isso, as exportações têm de crescer acima dos 10% ao ano. Sei que é difícil, porque o mercado interno dá dinamismo e isso naturalmente ocupa parte da atividade das empresas nacionais, e por outro lado a previsão para os próximos anos é de desaceleração económica na Europa.

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