Editorial

Uma EDP+, uma EDP-? De certeza, uma EDP muito diferente

António Mexia está já a pensar no que será a nova EDP controlada em mais de 50% pelo chineses da China Three Gorges. Uma EDP sem o negócio das renováveis nos EUA e com operações na China.

António Mexia respondeu, formalmente, à Oferta Pública de Aquisição (OPA) da China Three Gorges (CTG) a 3,26 euros por ação e, como se esperava, considera que o preço oferecido é baixo e não incorpora um prémio de controlo. Mas a resposta do presidente executivo da elétrica é muito mais do que isso: já é uma resposta a pensar no futuro da EDP pós-OPA. Uma EDP+? Uma EDP-? Seguramente, uma EDP muito diferente.

A empresa pública chinesa CTG — é bom recordar que é uma empresa pública que está a propor-se comprar uma empresa privada — lançou uma OPA sobre a EDP, a empresa-mãe, e outra sobre a empresa-filha, a EDP Renováveis. Na primeira, o Estado chinês já tem quase 30% do capital e, por isso, uma base relevante para assegurar o sucesso da oferta, mas a OPA sobre a segunda – também a um preço considerado baixo pela própria administração – é outra história. E o futuro do chamado grupo EDP vai jogar-se aqui, nas renováveis.

A EDP tem cerca de 82,6% do capital da EDP Renováveis e, por isso, os chineses olharam para a OPA sobre as renováveis ‘apenas’ como uma necessidade, obrigatória. Não apresentaram, sequer, um plano industrial para a EDP Renováveis, porque, na verdade, condicionam uma, a OPA sobre as renováveis, à outra, ao sucesso da OPA sobre a EDP. Só que as renováveis valem 39% do EBITDA da EDP, e estão nos EUA, o mercado de maior crescimento da grupo. E também aquele onde as autoridades regulatórias mais problema vão colocar, por razões óbvias, sobretudo de caráter político.

O que se percebe da resposta da administração executiva da EDP é mesmo isso. O ‘nim’ de Mexia antecipa, por um lado, a não recomendação de venda ao preço oferecido pelos chineses aos acionistas que querem sair, mas fala também para aqueles que vão ficar num pós-OPA bem sucedida. Quer na EDP, quer na EDP Renováveis. Mexia já está a pensar na nova EDP, que será muito diferente daquela que existe hoje, com a CTG a mandar com mais de 50% do capital.

A EDP Renováveis vai ser, tudo indica, obrigada a sair dos EUA, mas poderá herdar negócios da CTG no offshore da China, por exemplo, um dos negócios que os chineses anunciam querer ‘meter’ na EDP. Não é uma mudança neutra, desde logo na relação entre o risco e o retorno. Hoje, a EDP tem mais de 80% das receitas em mercados regulados e, por isso, com um baixo nível de risco. A prazo, com uma nova configuração, este equilíbrio vai manter-se? Ninguém sabe, e os chineses ainda não detalharam suficientemente o plano que têm para isso ser claro.

António Mexia sabe, como ninguém, que tem agora uma oportunidade para pôr essas questões em cima da mesa. Enquanto as OPAs decorrem, tem ‘leverage’ negocial, em nome de todos os acionistas, especialmente os minoritários da EDP Renováveis. E pode, e quer, condicionar o que virá a seguir, mas se não o fizer agora, não o fará mais. Depois, será o comité central em Pequim a ditar as regras.

A OPA dos chineses na empresa-mãe vai ser bem-sucedida, a OPA sobre a EDP Renováveis é outra história. A resposta de Mexia tem de ser vista a esta luz. Já não é, verdadeiramente, uma resposta às ofertas da CTG, mas uma negociação pública ao que virá depois, a uma nova EDP China, muito diferente daquela que existe hoje. Se vai ser melhor, o tempo o dirá.

PS: É uma ironia, a EDP é discutida como se de uma empresa portuguesa se tratasse, e nos últimos dois anos e meio, é uma das bandeiras políticas do governo, numa guerra pública e notória, de que as rendas excessivas são apenas a ponta do icebergue. Mas a EDP não tem nada de português, a não ser a sede, o nome e os gestores portugueses. Não é portuguesa no capital, não é portuguesa no negócio. E o interesse dos chineses, e de outros eventuais noivos, não decorre do que a EDP ganha em Portugal. Noção.

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