Uma Europa sem Facebook?

A suspensão dos serviços do Facebook e do Instagram na Europa está em cima da mesa. Infelizmente, é improvável que isso aconteça.

Uma discussão sobre o controlo de dados dos europeus está a pôr em risco a presença do Facebook no espaço da União. A empresa americana já foi avisada das decisões que colocam em risco a sua presença, e o alerta já veio repetido pelos próprios no relatório à Comissão do mercado e nos detalhes regulares aos investidores.

O processo de regulação foi iniciado na Irlanda e prende-se com o desrespeito do Facebook na gestão dos dados dos europeus, que continuam a ser rotineiramente enviados para os Estados Unidos. A decisão vai demorar alguns meses a chegar e deverá ainda envolver o organismo da Comissão que gere a Proteção de Dados, mas o desfecho é inevitável e implicará a criação de centros de dados do Facebook dentro do espaço da União Europeia.

A empresa de Zuckerberg não quer ceder, porque isso implica perder parte do controlo da mais importante componente do negócio: os dados dos europeus. A legislação é incontornável, esses dados passam a ter de estar em solo europeu, geridos sob o GDPR, limitando a capacidade abusiva que o Facebook hoje tem de influenciar os comportamentos dos seus clientes. Mark Zuckerberg, que anda há quatro anos a apregoar a quem o queira ouvir que deseja regulamentação internacional, foi outra vez apanhado nas suas mentiras – e, como todas as outras, esta não demorou a ser desmascarada.

Se o Facebook e o Instagram fossem suspensos na Europa, muita gente perderia linhas de comunicação direta com a família e amigos; alguns negócios perderiam o acesso aos seus clientes; e vários adolescentes e jovens perderiam a sua forma preferida de validação social. Ao mesmo tempo, o impacto das manobras de desinformação iria ser bastante limitado; o espaço público ficaria mais limpo e menos gente seria atraída para teorias da conspiração. Vários protestos iriam ocorrer na Europa, mas a curto prazo todos se iriam adaptar ao desaparecimento destas redes – até porque diversos concorrentes iriam ocupar rapidamente o espaço em aberto. Se a Europa se consegue adaptar à ausência de petróleo russo, também se conseguiria adaptar ao fim do Facebook. No geral, a Europa ficaria melhor – e a médio prazo o efeito seria o equivalente à limpeza ambiental quando ocorre o fecho de uma central altamente poluente.

Infelizmente, isso não acontecerá. Bruxelas não vai ceder, mas irá aceitar um período de transição que permita ao Facebook fazer o que é necessário para manter os 500 milhões de consumidores europeus na mão. Todos os gigantes tecnológicos têm-se adaptado aos diversos mercados onde operam, e têm sempre aceite sempre mudar as regras do jogo de acordo com o que é necessário. O mesmo acontecerá agora, sem necessidade de dramas – mas o alerta está dado para que as empresas que hoje dependem destas plataformas encontrem novos meios de chegar aos seus clientes.

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