Usar a pandemia para reforçar monopólios

À custa do Covid-19, os gigantes tecnológicos continuam a tentar aumentar o seu poder sobre as instituições democráticas. E desta vez vêm de mão estendida, a pedir subsídios.

Em Nova Iorque, o governador entregou a renovação do estado nas mãos do antigo CEO da Google, Eric Schmidt. A seu cargo vai estar o desenho de como reformatar a economia da metrópole mais importante do mundo no período pós-Covid. Schmidt já lidera um painel governamental sobre inteligência artificial e o outro sobre tecnologias da defesa. Ele está a aconselhar poderes públicos sobre a utilização de empresas onde tem enormes interesses, como a Google e a Amazon, com o apoio desses mesmos poderes públicos.

Depois de estes gigantes monopolistas terem secado o mercado e feito por matar qualquer inovação (seja através da aquisição ou do dumping de preços) querem agora ser sustentados pelos poderes públicos para agigantar ainda mais a sua dimensão e adquirir ainda mais dados. Para isso, não hesitam em usar o medo sobre o crescente poderio chinês nem os benefícios recolhidos com as estratégias de contenção face ao Covid-19.

Os monopólios são a negação do capitalismo. Estas empresas nasceram à sombra de inovações públicas, cresceram à custa de enormes subsídios públicos e agigantaram-se à conta da demissão do dever de escrutínio por parte dos governos em todo o mundo. Foram estas empresas tecnológicas que fundaram o mito da ultragloblobalização que agora morreu com o Covid-19. Nos anos oitenta criou-se o mito de que a vida pública deve ser decidida pelo capital financeiro, algo que reinou até à crise de 2008.

Das suas cinzas nasceu esta nova teoria que entrega o poder nas mãos das igualmente anónimas empresas tecnológicas, que vão aos poucos tomando conta da esfera pública. Precisamente como os mecanismos complexos da finança global, a tecnologia usa e abusa da opacidade sobre os seus métodos para vingar – aproveitando-se da ignorância obtusa de governantes impreparados para ir além de uma apresentação de Powerpoint. A consequência maior de tudo isto é a impossibilidade da democracia. E isso é profundamente anti-liberal.

Sejamos claros: A tecnologia é absolutamente essencial à vida nas cidades e ao futuro da humanidade. Mas é uma tecnologia que tem de ser transparente, devidamente gerida pelos poderes públicos que respondem aos eleitores. E essa tecnologia deverá, já agora, reforçar a nossa humanidade, não destruí-la em nome da eficiência da máquina. É uma ferramenta, não poderá ser nunca uma solução em si mesma.

Ler mais: Está prestes a sair um manifesto anti-monopolista que vai fazer luz sobre o problema. Chama-se Break ’Em Up e é escrito por Zephyr Teachout, uma advogada e especialista em corrupção e monopólios. Mesmo que apresente alguma ingenuidade nas soluções oferecidas – uma “causa política comum” – , vale a pena ler pelo diagnóstico, que é bem real.

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