Construção põe “mãos à obra” com tijolos de cânhamo e lareiras suspensas

Mais de 400 empresas estiveram presentes na Exponor para a maior feira nacional de construção, arquitetura, design e engenharia. Conheça algumas das novidades que prometem "revolucionar" a indústria.

Tijolos de cânhamo, lareiras suspensas giratórias, revestimentos à base dos desperdícios das rolhas de cortiça, coberturas ajardinadas e domos made in Portugal. Estes são alguns dos produtos e sistemas inovadores que prometem “revolucionar” o setor da construção, arquitetura, design e engenharia nos próximos anos e que foram apresentados na 31ª edição da Elétrica e Concreta, a maior feira profissional do setor em Portugal.

O evento voltou a juntar durante esta semana, no recinto da Exponor, em Matosinhos, mais de 400 empresas de países como Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Polónia e Lituânia. Segundo contas da organização, a feira recebeu mais de 27 mil visitantes.

Uma das novidades apresentadas foram os blocos de cânhamo produzidos em Ourique pela Cânhamor. O diretor comercial da empresa, Frederico Barreira, apresenta estes “tijolos” como 100% naturais e “40% mais eficientes energeticamente do que qualquer outra solução”. O gestor diz não ter dúvidas do “potencial do produto” numa altura em que é “urgente mudar o paradigma” do setor da construção.

Estes produtos são compostos por aparas de cânhamo misturadas com argila, cal e água. O preço dos blocos para paredes exteriores varia de acordo com a espessura, mas podem custar entre os 47 e os 70 euros por metro quadrado. Já para revestir as paredes interiores, o mesmo bloco custa 26 euros por metro quadrado.

Feira Concreta e Elétrica - Exponor
Frederico Barreiro, diretor comercial da CânhamorFátima Castro/ECO

Fundada em 2021, a Cânhamor prepara-se para inaugurar no início do próximo ano uma nova fábrica de 26 milhões de euros em Ourique. Neste momento, a empresa só têm capacidade para produzir blocos de cânhamo para quatro casas por mês e, com este investimento, vai aumentar a capacidade para o fornecimento mensal a 250 casas. Com uma equipa de 17 pessoas, prevê contratar mais 33 pessoas para integrar esta nova unidade de produção.

O diretor comercial assegura ao ECO que esta será “a primeira e única fábrica do mundo a controlar todo o processo produtivo”, desde a matéria-prima até ao fabrico e venda final deste tipo de produto, com capacidade para receber anualmente o equivalente a uma área de plantação de 3.000 hectares de cânhamo.

Também o stand da barcelense Geodetic Domo não passou despercebido, mostrando um domo de seis metros quadrados de diâmetro a ocupar uma área significativa num dos pavilhões da Elétrica e Concreta, que terminou este sábado. O modelo Nobilis em exposição, com duas camas, custa 50 mil euros ‘chave-na-mão’, com cozinha e casa de banho equipadas. Mas há domos para todos os gostos e tamanhos: por exemplo, na tipologia T4, com dez metros de diâmetro, pode custar 90 mil euros.

“Esta construção tem a particularidade de ser modelar, usar produtos ecológicos, como madeiras sustentáveis, e ter alta resistência ao tempo”, conta ao ECO Adolfo Stuart, acionista da empresa.

Fundada em 2023 em Barcelos, a Geodetic Domo emprega cinco pessoas e tem capacidade para produzir quatro domos por mês. A empresa já vendeu estas estruturas para aldeamentos turísticos, estúdios de ioga ou stands de vendas de imobiliárias que optam por este produto, em vez dos habituais contentores. Está agora a construir domos para um empreendimento turístico na ilha da Madeira. Tal como as construções mais tradicionais, também têm de ter licença.

Com formação em Economia e em Direito, Adolfo Stuart estima que, perante a aceitação que este produto tem tido no mercado, terá de duplicar a capacidade de produção e montagem já a partir do próximo ano, num investimento que, só em maquinaria, ultrapassa o meio milhão de euros.

Dos telhados verdes às lareiras suspensas

À semelhança da Geodetic Domo, as lareiras suspensas e giratórias da Rescal também chamaram a atenção dos milhares de visitantes. A empresa portuguesa tem, desde o ano passado, uma parceria exclusiva com a francesa Focus para a comercialização deste produto no mercado nacional. As lareiras podem ser alimentadas a lenha, gás e bioetanol. O preço varia entre sete a 25 mil euros.

Feira Concreta e Elétrica - Exponor
Fátima Castro/ECO

Pela primeira vez na Elétrica e Concreta, o fundador da Rescal menciona que o grande objetivo é “mostrar o produto aos decoradores, designers e arquitetos”. Fundada há 12 anos em Paços de Ferreira por Nuno Pacheco, a empresa importa e instala soluções na área da climatização, emprega 30 pessoas e fatura 2,5 milhões de euros.

Outra solução que está muito em voga no setor da construção são as coberturas ajardinadas e os jardins verticais. Com 29 anos de existência, a Criaverde tem dois hortos em Viseu. Mas a fundadora apercebeu-se, há cinco anos, que os jardins verticais eram uma oportunidade de negócio e, mais tarde, surgiram as coberturas ajardinadas. Sabendo que esta é “uma tendência”, Alice Marques decidiu participar nesta feira.

A empresária detalha que este tipo de solução “aumenta a eficiência térmica das casas e edifícios, tem uma manutenção muito fácil e nada dispendiosa”. A Criaverde já instalou jardins verticais em hotéis como o Viseu Executive Hotel e o Hotel dos Aliados no Porto, ou na sede dos Transportes Urbanos de Braga (TUB), entre outros.

 

A fundadora da Criaverde contabiliza que um jardim vertical custa entre 500 a 700 euros por metro quadrado, com tudo incluído (sistema de rega, fertirrigação, estrutura, substrato, montagem e plantas). Já uma cobertura ajardinada poderá custar 200 euros por metro quadrado, já que “não exige uma estrutura como os jardins verificais”, explica Alice Marques, que dá emprego a 25 pessoas e faturou 1,6 milhões de euros no ano passado.

A empresa dedica-se ainda à construção de jardins, decoração de eventos e aluguer de plantas. Recentemente decorou três stands na Web Summit com plantas naturais de empresas da Sérvia, Brasil e Alemanha. E vai prestes este mesmo tipo de serviços para vários stands da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL). A decoração de eventos já representa 30% da faturação.

Segunda vida aos desperdícios das rolhas

Já a Granorte, que fabrica produtos com os desperdícios das rolhas de cortiça, apresentou na feira soluções como pavimentos, isolamentos, painéis de parede e até mobiliário de cortiça. “Partimos de um produto que já é sustentável e aproveitámos o desperdício do mesmo”, conta ao ECO Eduardo Sousa, responsável de exportação.

Instalada em Santa Maria da Feira, no distrito de Aveiro, a Granorte processa 6.600 toneladas de cortiça por ano e exporta 85% da produção para 55 países (em especial para os EUA, Alemanha e Reino Unido). Emprega 145 pessoas e fatura anualmente perto de 22,5 milhões de euros.

Foi em 1972, quando cada um deles tinha a sua fábrica de produção de rolhas de cortiça, que cincos irmãos decidiram juntar-se para criar a Granorte. O objetivo era reciclar os desperdícios de cortiça da indústria produtora de rolhas.

Feira Concreta e Elétrica - Exponor
Eduardo Sousa, area export manager da Granorte Fátima Castro/ECO

 

Por outro lado, ao contrário destas e de várias outras empresas, que apresentaram ali produtos inovadores para atrair clientes nacionais e estrangeiros, a Tromilux, fabricante de iluminação técnica, aproveitou este certame para “promover a marca”, como indicou ao ECO o presidente executivo, Paulo Grilo.

A Tromilux produziu peças de iluminação específicas para o stand para mostrar aos projetistas e gabinetes de arquitetura a “capacidade de personalização” da empresa. Fundada em 2004 e com sede em São Félix da Marinha (Vila Nova de Gaia), emprega 90 pessoas, fatura oito milhões de euros e exporta 50% da produção para 34 países. Em 2019 investiu seis milhões de euros em novas instalações.

Exponor

O ministro das Infraestruturas e da Habitação, que marcou presença no primeiro dia do evento, destacou na abertura a “dinâmica absolutamente única” desta feira e dos empresários participantes. “Visitei empresas e empreendedores portugueses que hoje dão cartas em Portugal, mas também no mundo todo – e isso está relacionado com as novas necessidades dos setores da habitação, da construção e dos materiais“, sublinhou Miguel Pinto Luz.

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