Família laranja reunida, uma “maioria maior” e “espírito reformista”. O dia em que Montenegro pediu que ‘deixem o Luís trabalhar’ durante oito anos

Almoço dos ex-líderes do PSD marcou o dia de campanha. Passos Coelho defende que não adianta estabilidade sem reformismo. Mensagem que Montenegro levou ao jantar, onde apontou a um ciclo de oito anos.

Uma família sentada à mesa, primeiro ao almoço e depois ao jantar, unida na crença de que os portugueses terão a “lucidez” de assegurar uma “maioria maior” que permita “estabilidade” para uma governação a oito anos. Um ciclo para executar o espírito reformista a que um dos antigos líderes do PSD (sobre o qual uma parte do partido espera recorrentemente o regresso) apelou e que Luís Montenegro garante que é para cumprir. Em dia do 51º aniversário dos sociais-democratas, a presença dos notáveis foi o marco de uma terça-feira de campanha que de banal teve pouco.

Eram 13:08 horas quando Luís Montenegro chegou à São Caetano para o almoço com os antigos líderes partidários. Vinha de uma ação de rua da AD – Coligação PSD/CDS-PP em Sintra, onde acompanhado pelo líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, pelo ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, e pelo ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento (que pouco antes marcou presença na conferência Banking on Change, do ECO com a KPMG e a PLMJ, e se mostrou confiante num crescimento acima de 2% este ano), distribuiu beijinhos a reformados, trocou palavras com lojistas e até encontrou o histórico social-democrata e antigo ministro António Capucho.

Em dia de festa, o presidente do PSD quis reunir à mesa os antigos líderes, que acederam ao convite, com exceção de Francisco Pinto Balsemão e Rui Machete, por razões de saúde, Durão Barroso, por estar no estrangeiro, e Marcelo Rebelo de Sousa, por ser Presidente da República. Ao encontro que motivou graças da oposição, o candidato presidencial Luís Marques Mendes e Manuela Ferreira Leite foram os primeiros a chegar, em tom de boa disposição.

"Montenegro: O Dr. Luís Marques Mendes está um homem novo. É o primeiro a chegar.
Marques Mendes: Veja bem. A volta que a vida dá.
Ferreira Leite: O que as pessoas fazem para ganhar eleições.
(Risos)
Marques Mendes: Eu quero mesmo ficar em primeiro.”

Os antigos líderes do Partido Social Democrata (PSD), Marques Mendes e Manuela Ferreira Leite, à chegada para um almoço com antigos líderes do partido no âmbito da campanha para as eleições legislativas, Lisboa, 06 de maio de 2025. MIGUEL A. LOPES/LUSA

E não coincidiram apenas no horário, mas também na mensagem. Em declarações aos jornalistas, ambos defenderam a necessidade de estabilidade, que acreditam será a vontade dos portugueses. A antiga ministra dos governos de Cavaco Silva e Durão Barroso considerou que “as pessoas têm a lucidez suficiente para saber que não é possível fazer progredir o país numa instabilidade permanente“.

“Vão ter que ter duas escolhas: ou votar na AD ou entrar numa situação em que provavelmente têm uma divisão na Assembleia que impossibilita qualquer estabilidade nessa governação“, apelou. “Um ato de lucidez da parte dos portugueses”, acrescentou Marques Mendes, para quem, nas eleições de 18 de maio, “uma parte grande dos votos, como talvez nunca tenha acontecido no passado, vai ser a pensar em estabilidade”, faz fé.

As pessoas estão preocupadas com a falta de estabilidade e entendo que uma parte grande dos votos, como talvez nunca tenha acontecido no passado, vai ser a pensar em estabilidade.

Luís Marques Mendes

A presença de quem, apesar de estar em modo de campanha para as presidenciais, não quis deixar de faltar foi justificada precisamente com a mensagem que Luís Montenegro queria passar. “Como é que podia faltar à comemoração do aniversário do partido? Isto é como as famílias. As famílias comemoram os seus aniversários e as famílias juntam-se nestes momentos“, respondeu Marques Mendes.

Uma família com “uma unidade que não é artificial“, segundo Luís Filipe Menezes, que elogiou a capacidade de Montenegro em reunir os antigos líderes. “Tem um valor muito emblemático o atual presidente do partido e primeiro-ministro trazer tantos ex-primeiros-ministros e ex-líderes do partido aqui”.

A pouco e pouco juntaram-se os restantes convidados. Fernando Nogueira, retirado da vida política desde a derrota do PSD nas legislativas de 1996, foi uma das surpresas aquando do anúncio das presenças. Sem querer prestar declarações aos jornalistas, ainda se ouviu um “nem me lembro” quando questionado sobre há quanto tempo não marcava presença num evento do partido. Um silêncio perante os jornalistas replicado pelo antigo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, um dia depois de ter assinado um artigo de opinião no qual defendeu a ética do primeiro-ministro.

Líder do PSD, Luís Montenegro, e antigo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva. EPA/MIGUEL A. LOPES
Luís Montenegro e Pedro Passos Coelho. EPA/MIGUEL A. LOPES

Audível e com eco foi, por outro lado, a “breve reflexão” de Pedro Passos Coelho. O antigo primeiro-ministro, cujas intervenções públicas são escassas, tinha um recado para dar: de nada serve a estabilidade sem reformas. “O meu desejo profundo é que nestes anos que temos pela frente, o PSD possa fazer pleno jus à sua tradição reformista em Portugal. O mundo inteiro vive um período de transformações muito grandes, de grandes incertezas quer a nível de segurança e defesa, quer a nível económico e político, e isso acentua ainda mais a importância de tratar de relevar reformas importantes que o país ainda precisa de fazer para superar vulnerabilidades estruturais que ainda são manifestas”, afirmou.

As duas coisas são necessárias: a estabilidade – para a qual os eleitores podem dar uma contribuição importante através das suas escolhas –, mas também reformismo, que é aquilo que os líderes dos partidos têm de fazer.

Pedro Passos Coelho

Para Pedro Passos Coelho, que chefiou o Executivo durante o período da intervenção da Troika, “isso exige evidentemente estabilidade política, mas é mais importante sublinhar que não depende apenas da estabilidade política”. “É preciso que exista verdadeiramente um espírito reformista que possa estar ao serviço dessa estabilidade”, acrescentou.

“As duas coisas são necessárias: a estabilidade – para a qual os eleitores podem dar uma contribuição importante através das suas escolhas –, mas também reformismo, que é aquilo que os líderes dos partidos têm de fazer. As duas coisas são essenciais para os próximos anos. E é importante que o país não se alheie do que está a acontecer no mundo e se vá preparando para o que aí vem”, rematou.

E se, cá fora, Pedro Passos Coelho deixou implícita a critica à ausência de reformas, terá sido mais explícito sobre o tema durante o almoço. Encontro que durou cerca de duas horas e durante o qual houve tempo para os antigos líderes receberem uma caixa com a fotografia dos fundadores, um cartão dourado de militante, um pin e uma caneta, mas também para gravarem uma pequena intervenção transmitida durante o jantar dessa noite no Centro de Congressos de Lisboa, do qual estiveram ausentes.

O presidente do PSD, Luís Montenegro, durante um almoço com antigos líderes do partido: Santana Lopes, Fernando Nogueira, Marques Mendes, Cavaco Silva, Rui Rio, Luís Filipe Menezes, Passos Coelho e Manuela Ferreira Leite. EPA/MIGUEL A. LOPESMIGUEL A. LOPES/LUSA 6 maio, 2025
O presidente do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro, com os antigos líderes do partido, Aníbal Cavaco Silva, Manuela Ferreira Leite, Fernando Nogueira, Pedro Santana Lopes e Pedro Passos Coelho, no final de um almoço com antigos líderes do partido no âmbito da campanha para as eleições legislativas, Lisboa, 06 de maio de 2025. MIGUEL A. LOPES/LUSA

Após o bolo de aniversário, Montenegro acompanhou os antigos líderes à saída e apressou-se a rejeitar que as palavras de Pedro Passos Coelho tenham sido uma crítica. O líder social-democrata garantiu estar “absolutamente de acordo”, considerando que essa é a “essência do PSD”: “um partido confiável, que assegura a estabilidade”, mas que “nunca está satisfeito” porque quer sempre avançar. “Seremos capazes de fazer ainda mais”, afirmou.

Mensagem que levou ao palanque do jantar. “Temos sempre de estar insatisfeitos, temos de estar à altura da vocação reformista, da vocação transformadora que sempre teve este grande partido. É isso que estamos a fazer no governo de Portugal, é isso que nos propomos para os próximos quatro anos“, afirmou.

Uma noite que arrancou atrasada. Faltavam poucos minutos para as 21 horas quando Montenegro entrou no Centro de Congressos, onde o esperava casa cheia suficientemente munida dos adereços distribuídos à entrada: bandeira com a grafia original do PSD e um pin. Ao som do hino da campanha “Deixem o Luís trabalhar”, o líder do PSD foi recebido por cerca de 1.800 pessoas, entre os quais se contavam figuras do elenco governativo, como os companheiros da ação da manhã em Sintra, mas também Paulo Rangel, Fernando Alexandre ou Maria da Graça Carvalho.

Antes da sua chegada, trocavam-se dedos de conversa, tiravam-se selfies (muitas), discutiam-se sondagens e até se fazia, entre militantes, uma ou outra aposta à boca pequena sobre outras eleições previstas para este ano, as autárquicas.

Grande jantar do 51º aniversario do PSD – Centro de Congressos de Lisboa, 06 Maio 2025. Henrique Casinhas/ECO
Grande jantar do 51º aniversario do PSD – Centro de Congressos de Lisboa, 06 Maio 2025. Henrique Casinhas/ECO
Grande jantar do 51º aniversario do PSD – Centro de Congressos de Lisboa, 06 Maio 2025. Henrique Casinhas/ECO
Grande jantar do 51º aniversario do PSD – Centro de Congressos de Lisboa, 06 Maio 2025. Henrique Casinhas/ECO
Grande jantar do 51º aniversario do PSD – Centro de Congressos de Lisboa, 06 Maio 2025. Henrique Casinhas/ECO

Distribuídos os cumprimentos, guardaram-se bandeiras e serviu-se o jantar. Na mesa presidenciável, ao lado de Montenegro, no sentido do ponteiro do relógio, sentaram-se a sua mulher, Carla Montenegro, José Pedro Aguiar Branco, Paulo Rangel, Pedro Pimpão (presidente dos Autarcas Social Democratas), Pedro Roque (Secretário-geral dos Trabalhadores Social Democratas), João Pedro Louro (líder da JSD), Almiro Moreira (Secretário do grupo parlamentar do PSD), Sebastião Bugalho, Assunção Esteves, Hugo Soares e Leonor Beleza.

Após números musicais e as intervenções de Pedro Pimpão, Pedro Roque e João Pedro Louro, entre o prato principal e a sobremesa limpou-se o palato com vídeos de declarações e imagens de antigos líderes. Se a popularidade fosse medida pelos aplausos dos presentes a cada figura que surgia, Pedro Passos Coelho levava de longe a taça, seguido pela forte ovação à inspiração de Montenegro, Aníbal Cavaco Silva, e a Manuela Ferreira Leite. Já o candidato presidencial pouco mobilizou, ficando apenas à frente de Luís Filipe Menezes e Fernando Nogueira, sendo mesmo ultrapassado nos aplausos a Santana Lopes, que ainda não regressou ao partido.

Grande jantar do 51º aniversario do PSD – Centro de Congressos de Lisboa, 06 Maio 2025. Henrique Casinhas/ECO

A noite já ia longa quando Montenegro finalmente subiu ao palco para o discurso de encerramento, no qual recordou o antigo ministro Miguel Macedo, falecido este ano, e destacou três mulheres: Assunção Esteves, primeira mulher presidente da Assembleia da República, Leonor Beleza, primeira vice-presidente do PSD, e Carla Montenegro. “Eu sei que já gostam tanto dela como de mim”, gracejou, atirando um beijo à mulher.

Com o discurso bem ensaiado, defendeu que o PSD é “um partido popular, do povo”, “aberto”, com “uma visão interclassista da sociedade”, concentrado em “gerar riqueza”. “Não mandamos nas pessoas, não mandamos nas empresas, não mandamos nas organizações, olhamos para o potencial das empresas e das organizações e tentamos tirar tudo o que tem para dar a bem de todos”, argumentou.

A sociedade para crescer tem de produzir, para criar riqueza tem de trabalhar e quem trabalhar tem de ter um rendimento superior a quem não trabalha. E quem trabalhar melhor tem de ser recompensado por isso”, afirmou, não deixando de assinalar também a necessidade de “salvaguardar a autoridade daqueles que defendem a autoridade em nosso nome”.

A sociedade para crescer tem de produzir, para criar riqueza tem de trabalhar e quem trabalhar tem de ter um rendimento superior a quem não trabalha.

Luís Montenegro

O líder do PSD argumentou que no panorama político neste período eleitoral só há um partido e uma força politica a apresentar uma visão para o país, o seu. “E os outros o que fazem? Comentam as nossas propostas. Sempre dizendo mal, sempre com azedume“, criticou.

“Há um ano todos duvidaram do nosso programa económico. Era irrealista, não tinha condições para ser executado. Vinha aí um Governo que ia recolocar Portugal numa situação de desequilíbrio. Um ano depois não só cumprimos, como excedemos as metas. As nossas e as desses profetas da desgraça“, acrescentou.

Foi para continuar as políticas que estão a meio caminho que pediu uma “maioria maior”. “Quem fez o que fizemos em 11 meses, quem conseguiu intervir nestas áreas, imaginem o que não será capaz de fazer nos próximos oito anos“, disse. É por isso que, apesar das sondagens positivas para a AD, apelou à mobilização a 18 de maio. Até, porque, “as eleições só se ganham no dia das eleições e não se corrigem no dia a seguir às eleições”.

Grande jantar do 51º aniversario do PSD – Centro de Congressos de Lisboa, 06 Maio 2025. Henrique Casinhas/ECO
Grande jantar do 51º aniversario do PSD – Centro de Congressos de Lisboa, 06 Maio 2025. Henrique Casinhas/ECO

E deixou a nota: “Hoje, está aqui muita gente hoje que não é militante do PSD, que também não é militante do CDS, que já militou em outros partidos ou, então, que não militou em partido nenhum”, observou, perante uma plateia onde se incluam Nuno Melo e Paulo Núncio, mas também Paulo Carmona, candidato da Iniciativa Liberal nas legislativas de 2019 e nas autárquicas de 2021 e que saiu do partido em maio de 2023, e Carla Castro, ex-candidata à presidência dos liberais que deixou a IL no ano passado.

Desligadas as luzes, no dia em que o aniversário do PSD entrou em força na campanha da AD, Luís Montenegro reuniu o apoio que precisava na fotografia, mesmo com críticas implícitas pelo meio. A caravana segue agora para Setúbal, Montijo e Évora.

Grande jantar do 51º aniversario do PSD – Centro de Congressos de Lisboa, 06 Maio 2025. Henrique Casinhas/ECO
Grande jantar do 51º aniversario do PSD – Centro de Congressos de Lisboa, 06 Maio 2025. Henrique Casinhas/ECO

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