Sonae Arauco quer “domesticar as fábricas” para serem mais eficientes

A empresa de painéis derivados de madeira implementou a tecnologia fábrica digital em cinco empresas do grupo, duas das quais em Portugal, num investimento global de um milhão de euros.

Reportagem na fábrica de derivados de madeira da Sonae Arauco, em Oliveira do Hospital - 28MAI24
Angel Garcia Bombin, responsável pela digitalização da Sonae AraucoRicardo Castelo/ECO

“O que queremos fazer é domesticar as fábricas”. A descrição é feita por Ángel García Bombín, o diretor de transformação digital da Sonae Arauco e o responsável pela implementação da fábrica digital nas unidades do Grupo, a ferramenta de gestão que analisa mais de 2.000 variáveis por cada linha de produção. Com cinco fábricas já equipadas com esta tecnologia, que permite melhorar a eficiência e reduzir as probabilidades de problemas na produção, o grupo de painéis derivados de madeira, que tem 2.600 colaboradores – 800 em Portugal – distribuídos pelas 23 unidades fabris e comerciais nos nove países onde está presente, quer implementar este sistema em todas as fábricas para manter a produção à distância de uma aplicação do telemóvel.

Na fábrica da Sonae Arauco de Oliveira do Hospital, uma das duas fábricas em Portugal onde já foi implementada a fábrica digital [a segunda é a unidade de Mangualde], dois técnicos controlam toda a linha de produção a partir da sala de controlo. As linhas verdes indicam que está tudo a correr conforme o planeado, já os pontos vermelhos são uma indicação de problemas.

Através dos ecrãs espelhados é possível acompanhar todo o processo e identificar eventuais paragens ou problemas na linha de produção, reduzindo eventuais prejuízos ou impactos no negócio. A partir deste sistema é possível verificar em que fase se encontra a produção, seja na área de fabrico dos aglomerados, seja no revestimento, qual o ritmo a que se está a produzir, ou a quantidade de painéis em armazém.

Reportagem na fábrica de derivados de madeira da Sonae Arauco, em Oliveira do Hospital - 28MAI24
Angel Garcia Bombin, responsável pela digitalização da Sonae AraucoRicardo Castelo/ECO

Com um custo médio de implementação de 200 mil euros por cada fábrica, o projeto fábrica digital é uma das apostas do grupo detido pela Sonae Indústria e pela chilena Arauco, que está a acelerar a digitalização, simplificação e automação de processos e sistemas. Até agora, além de Oliveira do Hospital e Mangualde, em Portugal, há outras duas fábricas em Espanha – Linares e Valladolid – e uma na Alemanha (Nettgau) com esta tecnologia instalada, num investimento global de cerca de um milhão de euros.

Esta digitalização, um passo em direção à modernização do processo produtivo, pretende atuar, num primeiro momento, alertando para desvios, em segundo, ajudando a perceber falhas e atuar manualmente para as resolver e, em terceiro, prever as falhas e atuar autonomamente na resolução de problemas. A terceira fase, em que o próprio sistema consegue prever as falhas e atuar autonomamente, o chamado gémeo digital, ainda não está a funcionar, mas é esse o futuro.

Mas como se consegue este big brother da produção? Através da colocação de sensores ao longo da fábrica, são definidas notificações que chegam a uma aplicação. “São definidos alertas e qualquer desvio chega à aplicação. Através do telemóvel é possível ter o controlo online da fábrica“, explica Angel Bombin. O primeiro a ser alertado é o operador responsável, passando depois para o supervisor, caso a situação não seja resolvida, e, em terceiro, para o chefe de manutenção. O objetivo é reagir perante estes alarmes e evitar situações que possam impactar a produção ou atrasar algum processo. “Há um controlo online que permite estar sempre a comparar a produção com os objetivos (KPI)“, acrescenta o responsável pela digitalização do grupo.

Colocamos sensores de vibração nos pontos mais críticos da fábrica. Com estes sensores conseguimos saber que tipo de falhas tem a máquina e antecipar-nos ao problema.

Ángel García Bombín

Diretor de transformação digital do Grupo Sonae Arauco

Ainda que muitos destes sensores não sejam visíveis a olho nu na fábrica, são eles que possibilitam esta automatização que permite, através de uma aplicação, receber notificações que alertam para potenciais problemas. Mas, mais que isso: “permite adiantar-nos aos problemas, com este modelo temos resultados em tempo real”, explica o responsável da Digitalização da Sonae Arauco.

“Colocamos sensores de vibração nos pontos mais críticos da fábrica. Com estes sensores conseguimos saber que tipo de falhas tem a máquina e agir antes de ter o problema”. Antes mesmo que uma máquina se avarie, com esta tecnologia é possível pôr “as máquinas em quarentena, colocamo-las em vigilância e podemos preparar tudo e intervir na próxima paragem de produção”, explica.

A digitalização dos sistemas permite ainda, através dos dados partilhados na nuvem, cruzar dados e comparar resultados nas unidades fabris espalhadas pelo mundo, o que traz ganhos de eficiência. “A equipa ganha uma hora a hora e meia porque não tem que estar a recolher estes dados para a reunião diária“, exemplifica Ángel Bombín. Por outro lado, alguém na fábrica de Oliveira do Hospital ou em Espanha pode ver o tempo de produção de uma determinada máquina na África do Sul, para avaliar se o ritmo de produção na sua fábrica está em linha com a média.

Maior conhecimento sobre a madeira

A fábrica digital tem também um papel na intenção do grupo de reforçar a utilização de madeira reciclada, uma das prioridades do grupo, que está a fazer vários investimentos neste sentido. O mais recente foi feito precisamente na unidade de Oliveira do Hospital, que investiu oito milhões de euros na construção de uma nova unidade de pré-triturado para reforçar a disponibilidade de madeira reciclada, e vai avançar com a construção de dois novos armazéns. O primeiro, de 12.000 metros quadrados, estará pronto até ao fim do ano e, o segundo, de 13.000 metros cúbicos, até 2026, expandindo o espaço da unidade para os terrenos nas imediações. Objetivo é produzir produtos com 85% de madeira reciclada.

Este investimento que está já a arrancar na unidade segue-se a outro, de cinco milhões de euros, em dois novos centros de reciclagem de madeira em Portugal, um no Minho e outro em Lisboa, ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

A tecnologia da fábrica digital ajuda a conhecer melhor a madeira. Através de um sistema digital será possível calcular o volume de madeira quando entra no parque, saber qual a humidade da madeira, qual a quantidade de pinho, eucalipto, etc. A produção “pode ajustar os parâmetros à madeira”, explica o responsável da Sonae Arauco, adiantando que, ao contrário do que acontece na fábrica, a empresa percebeu que nos parques de madeira havia poucos sensores, uma situação que o grupo está a alterar. Na fábrica de Mangualde, os parques de madeira já têm sensores – no próximo ano será a fábrica de Oliveira do Hospital – , que vão possibilitar reforçar este conhecimento da madeira e melhorar os resultados.

Aplicar a inteligência artificial num assistente de manutenção inteligente é o próximo projeto digital em que a Sonae Arauco está a trabalhar, segundo adianta o responsável pela área digital do grupo. Este sistema irá cruzar a informação recolhida pela empresa com os modelos de linguagem de larga escala (LLM), num formato de pergunta e resposta para ajudar a solucionar os problemas de forma ainda mais eficiente. “O que acontece é que dirige-se a pergunta à base de dados – a toda a informação que estamos a captar das máquinas – e depois à inteligência artificial para ter uma resposta. Mas passou pela nossa base de conhecimento”, remata Ángel Bombín.

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