EpiPen: A anafilaxia da Mylan

  • Juliana Nogueira Santos
  • 23 Setembro 2016

O medicamento de tratamento de alergia em caso de emergência foi alvo de um aumento de preço de 461%. O Congresso quer saber porquê.

A farmacêutica Mylan e a sua diretora-executiva, Heather Bresch, estão debaixo de fogo depois de, no final de agosto, vinte senadores democratas americanos tornarem pública uma carta enviada à empresa na qual criticavam o aumento de preço de um dos seus fármacos.

A EpiPen, uma caneta de auto injeção de epinefrina indicada para o tratamento de emergência de reações alérgicas aguda, escalou de 56,64 para 317,82 dólares. Esta subida foi gradual e verificou-se desde 2007, ano em que a empresa comprou os direitos do produto à Merck KGaA.

Perfazendo um aumento de 461%, esta escalada torna-se ainda mais chocante, pois as canetas são vendidas em embalagens de duas unidades, num total de 608,61 dólares. A administração da substância torna-se uma questão de vida ou de morte em caso de anafilaxia que causa o inchaço das vias respiratórias e consequente fecho.

A carta, assinada por nomes como Bernie Sanders e Elizabeth Warren, dava também conta que, no mesmo período de tempo, o salário da diretora executiva foi alvo de um aumento de 671%. Era incluída também uma data limite para Bresch apresentar esclarecimentos, 12 de setembro.

O assunto foi ganhando atenção e mediatismo, com Hillary Clinton a juntar-se à lista de críticos através de declarações nas quais afirmava que, se se tornasse a próxima Presidente dos Estados Unidos, iria travar os aumentos de preço de fármacos. Referiu-se também a este assunto da sua conta de Twitter: “As EpiPen podem ser a diferença entre vida e morte. Não há justificação para estas subidas de preço”.

Após o procurador-geral de Nova Iorque, Eric Schneiderman, ter aberto uma investigação sobre o assunto, as senadoras Susan Collin e Claire McCaskill exigiram que Bresch se apresentasse perante a Câmara dos Deputados, no Congresso. Esta exigência foi cumprida esta quarta-feira, marcada pela unanimidade dos senadores que acusavam a empresa de se aproveitar do monopólio que detém e da necessidade dos seus clientes.

A presidente do conselho de administração garantiu que a empresa recebe, pelas embalagens de duas unidades, 274 dólares. Retirando o seu preço de custo, que é de 69 dólares, e custos relacionados, o lucro ficaria nos 100 dólares. Como medida de apaziguamento, anunciou o lançamento de uma versão genérica do produto que se vai situar no patamar dos 300 dólares. Contudo, não foram dadas garantias que o preço se manterá inalterado durante o próximo ano ou nos seis seguintes.

Este não foi o único produto a sofrer aumento: mais de vinte outros foram alvo de subidas de 20%, mas, por serem indicados para o tratamento de doenças menos comuns como bexiga hiperativa, não mereceram tanta cobertura.

Bresch irá apresentar-se novamente no Congresso para detalhar os motivos da subida, bem como os lucros obtidos a partir deste produto.

Em Portugal, cada unidade da EpiPen custa 43,28 euros.

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