DBRS: Malparado é ameaça, mas os juros negativos também

A agência de "rating" diz que o setor financeiro português enfrenta dois grandes desafios. Por um lado o malparado, por outro o risco que os juros baixos representam para os rácios de capital.

A DBRS vê com bons olhos a solução encontrada para a CGD, que vem remover algumas das incertezas sobre o setor financeiro português. No entanto, a agência de notação que mantém Portugal ao abrigo do programa de compras do BCE diz que há ainda dois grandes desafios para a banca nacional. Por um lado o malparado, por outro o risco que os juros baixos representam para os rácios de capital.

As medidas recentemente adotadas pelo Governo português para promover a estabilidade bancária poderão, em parte, remover algumas das incertezas e receios que têm envolvido o setor financeiro português desde a resolução do BES“, diz a DBRS. Entre outras medidas, a agência destaca a capitalização da CGD, “ainda que o ‘timing’ dos termos finais da operação continuem incertos”. Mas a banca continua a enfrentar desafios.

Os bancos portugueses continuam a ser alvo de receios por parte dos investidores relativamente à qualidade dos seus ativos e à adequação dos rácios de capital“, refere a nota emitida pela DBRS.

A DBRS considera que “os bancos portugueses têm um elevado nível de crédito malparado”, mas sublinha que o peso dos empréstimos de cobrança duvidosa não se tem agravado de forma expressiva desde o final de 2014. O valor do malparado está em torno dos 21 mil milhões de euros. De acordo com a EBA, o rácio de malparado era de 19,7% no final de junho e o rácio de cobertura ascendia a 41,7%.

Banca nacional tem dos rácios de malparado mais elevados

Fonte: DBRS, Bancos, EBA (Valores em percentagem)
Fonte: DBRS, Bancos, EBA (Valores em percentagem)

Perante este facto, a DBRS diz que são precisas “medidas legislativas adicionais para acelerar a limpeza do balanço dos bancos e para facilitar a gestão proativa do malparado por parte dos bancos”, notando que em Portugal o processo é excessivamente moroso. Assim, “a criação de um veículo para o malparado poderia acelerar a limpeza dos bancos“.

A banca tem muito malparado e rácios de capital baixos, sendo este o outro desafio do setor, segundo a DBRS, num contexto de juros negativos. “A combinação de baixas perspetivas de lucros com o fato de os bancos portugueses apresentarem rácios de capital abaixo dos dos pares europeus é um grande motivo de preocupação“.

A DBRS prevê que a geração orgânica de capital deverá manter-se limitada em 2016 e 2017, já que a maioria dos bancos deverá voltar a ter prejuízos em 2016″, apontando a dificuldade que o setor tem em lidar com as taxas de juro negativas que arrasam as margens do negócio.

Os bancos portugueses precisam de elevar os rácios de capital para removerem totalmente os receios dos investidores acerca da adequação da qualidade dos ativos do sistema financeiro“, alerta a agência de notação financeira canadiana. Neste sentido, recorda que o BCP poderá ver esse reforço com a Fosun e o BPI através da OPA do CaixaBank.

A DBRS, que manteve no final da semana a notação de Portugal acima de “lixo”, deixou inalteradas as avaliações feitas para os bancos nacionais, apesar de todas as preocupações. CGD, Santander Totta e Popular Portugal têm todos rating de “BBB”, nível de investimento, já o BCP e o Montepio têm notações de “BB”. A do Novo Banco é de “CCC”

(Notícia atualizada às 15h05 com mais informações sobre a nota da DBRS para a banca nacional)

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