Exclusivo Subir rating sem mudar outlook “é pouco habitual”, diz a Standard & Poor’s
A agência de notação melhorou o rating de Portugal, retirando-o de lixo, sem subir primeiro o outlook para positivo. Um movimento que, diz o analista da S&P ao ECO, é "pouco habitual".
A Standard & Poor’s (S&P) admite ao ECO que a subida do rating de Portugal sem alterar primeiro o outlook, para positivo face a estável, “é pouco habitual”, mas “não é rara”. Marko Mrsnik, o analista da agência de notação responsável pelo relatório de Portugal, reconhece, no entanto, que não se lembra quando é que isto aconteceu pela última vez em relação a um soberano.
A S&P surpreendeu ao tornar-se na na primeira das três grandes agências de notação financeira a mudar o rating da dívida portuguesa para fora do nível considerado “lixo”, de BB+ para BBB-, considerando assim que a dívida portuguesa está no nível de investimento. Uma melhoria de que o Governo nunca duvidou.
O Ministério das Finanças referiu que esta decisão baseou-se “no reconhecimento da recente mudança estrutural ocorrida no setor financeiro, na abrangência do crescimento económico, alicerçado numa forte dinâmica de investimento e de exportações, e no controlo da despesa e da dívida pública”.
Mesmo após a Fitch e a Moody’s terem já elevado a sua perspetiva para a dívida portuguesa, embora sem a tirar do “lixo”, não era esperado que a S&P optasse por alterar já a sua opinião sobre a dívida soberana. Há seis meses, a agência tinha decidido não alterar a sua visão sobre a dívida portuguesa, mantendo-a no nível BB+ com outlook “estável”.
A agência norte-americana junta-se assim à DBRS, até agora a única outra agência de notação financeira reconhecida pela Comissão Europeia que considerava a dívida portuguesa investment grade.
Três perguntas do ECO à S&P
A S&P subiu o rating de Portugal sem alterar primeiro o outlook para positivo. Isto é habitual? Quando é que isto aconteceu pela última vez com um soberano?
Alterar um rating sem atribuir primeiro um outlook [positivo] não é habitual, mas também não é raro. Infelizmente, não me lembro da última vez que isso aconteceu recentemente. Mas, mais uma vez, essa alteração não é rara.
Há seis meses, a S&P decidiu manter o outlook da dívida portuguesa. O que mudou durante este período?
Olhando para a revisão de março, projetamos agora que o PIB português cresça, em média, mais de 2% entre 2017 e 2020, em comparação com a nossa previsão de 1,5%. Para além disso, estimamos que o alvo para o défice orçamental deste ano — de 1,5% do PIB — seja alcançado, colocando o rácio dívida/PIB numa trajetória de descida mais sólida. Acreditamos que os riscos de uma deterioração significativa das condições de financiamento externo diminuíram. E que o BCE vai garantir uma transição suave para uma política monetária menos acomodatícia.
Na vossa perspetiva, o que é necessário para Portugal manter o grau de investimento para a S&P?
O nosso outlook é suportado pelas expectativa de um crescimento económico sólido e consolidação orçamental, assim como pela diminuição dos riscos a nível do financiamento externo ao longo dos próximos dois anos.
Podemos reduzir o rating caso assistamos a uma deterioração pronunciada do crescimento económico devido, por exemplo, a um desvio significativo da política económica ou se não forem aplicadas mais reformas estruturas para reforçar o crescimento. Ou caso o Governo adote políticas que possam penalizar o acesso de Portugal aos mercados financeiros internacionais. Ou caso a posição orçamental do Governo se desvie considerável e negativamente das nossas expectativas ou se o ajustamento externo de Portugal for invertido, com a balança corrente a entrar em défice.
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