Entre tantos países no mundo, porquê escolher Portugal para lançar startups?
Portugal continua a atrair grandes empresas, mas não só: cada vez mais há uma preocupação para com as startups, prestando todo o apoio necessário para que se estabeleçam em Portugal.
Portugal foi considerado pela Forbes como “o novo destino para investir”. E, nos últimos meses, tem vindo a receber cada vez mais multinacionais, desde a Google ao centro de operações da Uber, por exemplo. Mas as empresas não se medem aos palmos: o ecossistema de startups portuguesas continua a florescer, com empresas como a Indie Campers, Sensei ou Aptoide a destacarem-se como exemplos de sucesso.
E as nacionais não são as únicas. As startups estrangeiras também se têm rendido aos encantos do país, procurando cada vez mais trazer para cá as suas ideias – foi o caso da Secret City Trails e da Datapage. E há cada vez mais instituições que aproveitaram a deixa para lançarem programas de acompanhamento: a Startup Lisboa, por exemplo, avançou ainda esta semana com a segunda edição do Launch in Lisbon, que proporciona, ao longo de três dias, workshops práticos e atividades culturais aos empreendedores que queiram estabelecer-se em terras lusas.
Há 195 países no mundo. Porquê escolher Portugal?
“Portugal é um país incrível, há uma comunidade de startups em grande crescimento e o sol está sempre a brilhar!”, dizem Wendy van Leeuwen e Kristina Palovicova, fundadoras da startup Secret City Trails, ao ECO. Ambas vieram para Lisboa há um ano, a fim de criarem o primeiro jogo para descobrir cidades em Portugal. “Gostámos muito da vibe da cidade, do ecossistema dinâmico de startups e das oportunidades que existem para startups na área do turismo”.
A imobiliária HomeLovers, uma das parceiras da Startup Lisboa no programa, afirma que “Lisboa é, hoje em dia, naturalmente, mais procurada por empreendedores estrangeiros”. A Moss&Cooper, empresa que apoia clientes e parceiros no crescimento dos seus negócios, corrobora, afirmando sentir “um interesse crescente por parte de empreendedores estrangeiros”, que aproveitam “a dinâmica empreendedora que Portugal e Lisboa vivem neste momento”.
Portugal é um país incrível, há uma comunidade de startups em grande crescimento e o sol está sempre a brilhar!
A startup Datapage concorda: ao ECO, contam que escolheram trazer a sua startup para Portugal por este ser um país “dinâmico com uma atitude positiva para com os negócios e para com o empreendedorismo”. Referem também como importante o facto de que Portugal é um “membro da UE politicamente estável”, que “respeita os estrangeiros e vê como bem-vindas as suas ideias”.
A Hays, consultora de recrutamento especializado, realça a qualidade do mercado de trabalho em Portugal: “O mercado laboral português tem, neste momento, uma pool de talento qualificado extraordinária, mas existe muita competição entre as empresas pelos melhores profissionais” e que, por isso, é necessário “saber exatamente como encontrar e atrair estas pessoas”, afirma Ana Cruz, líder de projeto de Talent Solutions da Hays, outro dos parceiros do projeto Launch in Lisbon.
Como “aterrar” em Portugal?
A Secret City Trails chegou a Lisboa há um ano para participar num programa de aceleração na área do turismo chamado The Journey, da Beta-i e do Turismo de Portugal, em parceria com marcas como Airbnb, grupo Pestana e Agência Abreu, entre outras. “Como parte deste programa, começámos a trabalhar com a Cityrama (autocarros de hop on, hop off) para ajudar a resolver o seu principal desafio, que era os autocarros demasiado cheios”, explicam Wendy e Kristina. Solucionaram esse problema criando jogos que serviam, não só para aliviar a confusão nas paragens de autocarro, como para “oferecer algo único em zonas às quais as pessoas só podem aceder a pé”. Depois disso, participaram na primeira edição do Launch in Lisbon, em novembro do ano passado – que consideram “muito útil” –, e criaram uma parceria com a Startup Lisboa para fazer jogos para os empreendedores descobrirem a cidade “de forma divertida”.
A startup Datapage também participou no Launch in Lisbon, e consideraram que Lisboa é “uma cidade linda, cheia de história e de cultura”, que se tem vindo a tornar numa “dinâmica cidade de negócios”. “Embora isto seja bom para a cidade, faz com que o custo de vida aumente o que, na nossa perspetiva, vai ter impacto nos salários num futuro próximo”, explica fonte da startup, acrescentando que “os custos de uma propriedade empresarial, seja ela alugada ou comprada, estão a tornar-se elevados” e que, por todas essas razões, decidiram “não estabelecer a Datapage em Lisboa”.
Em vez da capital, a Datapage preferiu apostar no norte do país: “Foi-nos sugerido que pensássemos noutras localizações, como Guimarães, e foi isso que fizemos. Existem muitas instalações a preços acessíveis, e o Município mostrou-se disponível para nos dar apoio”. E concluem: “Tudo indica que vamos começar os nossos negócios nos próximos meses”.
Burocracia, a principal inimiga das startups
”Para os empreendedores estrangeiros, tomar conhecimento de todos os passos que devem ser dados, formalidades a cumprir e interlocutores a quem se dirigir em Portugal para lançar e expandir o seu projeto” é a principal dificuldade, afirma fonte da Moss&Cooper, também parceira da Startup Lisboa na iniciativa, acrescentando que “o programa Launch in Lisbon veio dar resposta a [essa] necessidade”.
Apesar disso, o verdadeiro problema é a burocracia, afirma a PLMJ, “ainda que, nos últimos anos se tenha feito um esforço de desburocratização de alguns serviços”. No entanto, consideram haver ainda “alguns obstáculos consideráveis no caminho de uma pessoa ou empresa que queira desenvolver um projeto de investimento” em Portugal. A sociedade de advogados dá como exemplo os procedimentos de licenciamento, que são ainda “muito morosos e complexos, o que aliás já foi apontado pela Comissão Europeia como um dificuldade que se coloca ao crescimento dos negócios em Portugal”.
Kristina e Wendy concordam. Apesar de referirem a cultura portuguesa e a vida em Lisboa como aspetos muito positivos – com especial destaque para o sol, o estilo de vida, a comida, o vinho e as pessoas –, afirmam que “estabelecer-se em Portugal não tem sido imensamente fácil”. “O mais difícil é organizar todas as questões administrativas. O simples facto de pedir um número de identificação fiscal (NIF) foi mais difícil do que esperávamos, principalmente por causa da barreira linguística”, afirmam as empreendedoras, que realçam que as plataformas financeiras e legais a que precisaram de aceder “apenas estão em português”.
A Datapage acredita que existem dois grandes problemas a ter em conta: a barreira linguística e os incentivos financeiros, que “parecem estar guardados a sete chaves e variar a nível regional”. A startup indiana deixou alguns conselhos a outros empreendedores que estejam a pensar vir para Portugal:
- “Trabalhe com alguém de Portugal para representar os interesses da sua empresa”;
- “Participe num seminário como o Launch in Lisbon”;
- “Absorva a história, cultura e tradição do país”;
- “Dê valor às semelhanças e diferenças culturais”;
- “Valorize as diferenças regionais”.
Portugal quer dar gás às startups
"75% dos participantes [no Launch in Lisbon] revelaram que o programa mudou os passos a tomar para instalarem o seu negócio em Lisboa.”
A Startup Lisboa recebeu 15 empreendedores nos dias 7, 8 e 9 de fevereiro naquela que foi a segunda edição do seu programa Launch in Lisbon. Sobre a primeira edição, o CEO da Startup Lisboa, Miguel Fontes, sublinha que foi “muito positiva”, especialmente devido à “diversidade do background e projetos dos participantes”. Os participantes afirmaram que gostaram muito do alargado leque de conteúdos e da qualidade da formação dada pelos principais parceiros PLMJ, Deloitte, Hays, HomeLovers e Moss&Coopers: “75% dos participantes revelaram que o programa mudou os passos a tomar para instalarem o seu negócio em Lisboa”, revelou Miguel Fontes.
Mas o Launch in Lisbon não é caso único para quem quer lançar startups em Portugal. Além de uma rede de incubadoras espalhada um pouco por todo o país, proliferam projetos ligados à orientação dos primeiros passos a dar quando se trata de lançar uma startup. Liliana Castro decidiu criar uma plataforma que facilitasse a vinda das próximas empresas para o Porto e, por isso, criou uma plataforma chamada Soft Landing Porto. A ideia por trás da plataforma é ajudar as empresas que se querem fixar no Porto a pensar, planear e mudar-se para a cidade, colocando os interessados em contacto com serviços que os ajudam a instalar-se e, depois disso, a divulgar a sua ideia.
A Startup Guide — empresa que cria, desenvolve e comercializa os guias europeus com o mesmo nome — lançou uma plataforma online chamada Startup Everywhere. A plataforma foi criada tecnologicamente em Portugal e pretende tornar mais fácil construir uma startup do zero, em qualquer cidade do mundo.
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