Crédito às famílias atinge máximo de mais de um ano apesar do travão do Banco de Portugal

Apesar da entrada em vigor de regras mais apertadas no crédito em julho, os bancos portugueses continuaram a emprestar cada vez mais dinheiro aos português. Consumo atinge máximos de seis anos.

O consumo continua a impulsionar a concessão de crédito às famílias portuguesas em 2018, ano que está a ser marcado pela recuperação do mercado após sete anos de contração acentuada. O stock dos empréstimos a particulares atingiu um novo máximo de mais de um ano em julho, isto apesar de terem entrado em vigor as recomendações do Banco de Portugal para evitar facilitismos na concessão de crédito.

De acordo com as estatísticas divulgadas esta terça-feira pelo Banco Central Europeu (BCE), o total do crédito à responsabilidade dos portugueses fixou-se nos 116.152 milhões de euros. Isto corresponde ao montante mais elevado desde abril do ano passado e reforça a tendência de recuperação dos níveis de crédito às famílias evidenciada este ano, após um longo período de quebra desde a crise financeira de 2011.

Há seis meses que o stock de empréstimos a este segmento está a crescer, o que mostra que o novo crédito concedido pelos bancos está a ser mais do que suficiente para compensar os empréstimos que entretanto vão vencendo. Os números do BCE mostram que o aumento mensal foi de 107 milhões de euros no mês passado. E, desde o início do ano, o stock aumenta 440 milhões de euros.

Apesar deste aumento, o gráfico em baixo mostra como as responsabilidades das famílias portuguesas com créditos estão bem longe dos valores praticados há sete anos — em abril de 2011, quando Portugal pediu ajuda financeira, o stock total superava os 143 mil milhões de euros.

Ainda assim, para travar facilitismos na concessão de crédito e evitar erros do passado, o supervisor pediu aos bancos para implementarem regras mais apertadas na hora de dar um empréstimo para a compra de casa ou para o consumo. Esta medida entrou em vigor em julho e que, ao que parece, ainda não foram totalmente apreendidas pelas instituições financeiras, numa altura em que a política monetária do BCE mantém condições bastante atrativas no que toca a pedir um empréstimo no banco.

Stock do crédito em máximos de um ano

Fonte: BCE

Crédito ao consumo em plena ascensão

Ainda que a maior parte deste stock de crédito corresponda a empréstimos à habitação –mais de 80% do montante total dos empréstimos são para compra de casa –, é o crédito ao consumo o principal responsável por esta tendência de recuperação do mercado nacional em 2018.

Em julho, o total de crédito para aquisição de bens como eletrodomésticos, carros ou férias fixou-se nos 14.715 milhões de euros, o valor mais elevado desde janeiro de 2012. Há nove meses que o saldo dos empréstimos para consumo aumenta, naquilo que parece ser uma nova aposta dos bancos portugueses este ano — segundo os dados do Banco de Portugal, os portugueses pediram mais de 20 milhões de euros por dia em empréstimos desta natureza na primeira metade do ano.

No que diz respeito ao crédito à habitação, o stock atingiu os 93.768 milhões de euros, após um aumento mensal (o terceiro consecutivo) do saldo em 28 milhões de euros no mês passado. Ainda assim, o nível de crédito para a compra de casa é hoje em dia inferior face ao registado no final do ano passado (-326 milhões de euros), dados que mostram que a nova concessão com esta finalidade não está a ser suficiente para compensar os empréstimos que venceram.

Já o montante dos empréstimos às famílias com outros fins recuou pelo segundo mês, totalizando os 7.669 milhões de euros em julho. E já se encontra num nível inferior ao que era verificado no final de 2017.

Depósitos em novo recorde apesar das OTRV

Nos depósitos, julho registou um novo recorde do montante total depositado pelas famílias portuguesas nos bancos, fixando-se nos 146.639 milhões de euros. O stock de depósitos observou um aumento de 263 milhões de euros no mês passado, um ritmo ainda assim inferior ao verificado nos dois meses anteriores: em maio e junho, o stock de depósitos cresceu em quase três mil milhões de euros à boleia do reembolso do IRS e do pagamento do subsídio de férias.

Outra parte da explicação deste menor crescimento do saldo teve a ver com a emissão de 1.000 milhões de euros em Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV), um produto de poupança do Estado que concorre com outras aplicações de poupança como os depósitos ou certificados.

Desde o início do ano, o saldo dos depósitos das famílias cresce quase quatro mil milhões de euros. Grande responsável por esta evolução: os depósitos à ordem. São já mais de 53.000 milhões de euros que os portugueses têm em depósitos “overnight”, com o saldo a crescer cinco mil milhões entre janeiro e julho deste ano. Já o stock de depósitos a prazo ascendeu a 93.096 milhões de euros.

(Notícia atualizada às 14h56 com dados dos depósitos)

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