Investir na rentabilidade ou na segurança?

Com a poupança em níveis baixos, muitos portugueses têm optado por aplicar o seu dinheiro em produtos tradicionais de menor risco que, no entanto, nem sempre lhes oferecem a rentabilidade desejada.

Segurança ou rentabilidade? Se os portugueses fossem colocados num trilho em que tivessem de optar por uma das estradas de investimento, a maioria optaria pela segurança. Ou seja, até nem se importavam de ganhar menos dinheiro, desde que não perdessem o capital aplicado.

Mas por que serão os investidores nacionais tão conservadores? As crises recentes que afetaram o sistema financeiro, os baixos rendimentos e a iliteracia financeira são apontados pelos especialistas contactados pelo ECO como alguns dos principais motivos para um perfil de investimento conservador.

Os números dos estudos mais recentes também comprovam este perfil. Segundo o Global Investor Study, desenvolvido pela gestora Schroders e que envolveu 22.000 investidores em 30 países, 29% dos portugueses inquiridos aplica as suas poupanças em depósitos, representando a percentagem mais elevada a nível mundial. Um valor que não deixa de ser surpreendente, sobretudo num contexto de taxas de juro baixas. Ou seja, enquanto globalmente os investidores tendem a preferir o mercado de capitais para conseguir melhores retornos, os portugueses optam por produtos com menos risco e, consequentemente, menos retorno.

“Na sequência das intervenções no sistema financeiro e perdas que daí derivaram, os portugueses mostram-se muito mais sensíveis à segurança, ou seja, proteção do seu património, do que rentabilidade, mesmo que assumindo algum risco”, justificou Pedro Lino, administrador da corretora Dif Broker. A mesma visão é partilhada pelo professor do ISEG, João Duque: “Após a crise bancária e receios profundos de falência das instituições os portugueses (como todos os humanos que são muito influenciados pelas notícias mais recentes) tendem a sobrevalorizar a questão da segurança”.

Já Filipe Garcia, economista da consultora Informação de Mercados Financeiros (IMF), acredita que as “más experiências passadas” são um aspeto muito importante que justifica este comportamento mais conservador, mas “o facto de a maioria dos portugueses não ter, infelizmente, capacidade de acumular muitas poupanças, impele-os a diversificar menos nas aplicações”.

Capacidade de poupança das famílias

Os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) demonstram que a poupança das famílias continua em níveis muito baixos. No primeiro trimestre deste ano, a taxa de poupança situou-se em 5,1% do rendimento disponível, uma redução de dois pontos percentuais em termos homólogos.

Alguns especialistas, defendem que é esta baixa capacidade de poupança das famílias que as impede de aplicar em produtos de maior risco. “Para muitos, infelizmente, pode ser muito difícil poupar dado o seu nível de rendimentos e gastos”, adianta Filipe Garcia. Por essa razão, para Pedro Lino, não é de estranhar que os portugueses optem pelos Planos Poupança Reforma (PPR): “Alguns PPR podem ser abertos com 100 euros e reforços mensais de 10 euros. Não deixa de ser um início, mas que está ao alcance dos portugueses”, acrescentou o administrador da Dif Broker.

Por sua vez, João Duque considera que, mais do que a justificação dos baixos rendimentos, a razão pode estar nas opções que as pessoas fazem e deixa uma questão: “Sabe quanto gasta um fumador em tabaco que fume durante 25 anos um maço de cigarros por dia? Sem tomar em conta o custo de oportunidade do capital ele gasta 45.000 euros! Se em alternativa conseguir investir essa poupança a uma taxa média de 4% ao ano ele chegará ao fim da sua vida de aforrador com um capital de 76.000 euros e com uma saúde muito melhor! Já viu como consegue poupar sem dar por isso mesmo abstendo-se de um pequeno consumo?”.

Informação suficiente, mas complexa

Para os três especialistas contactados, a literacia financeira é também um dos pontos essenciais para que os investidores façam uma avaliação mais completa do binómio risco/retorno. “As limitações em termos de literacia financeira implicam dificuldades de compreensão dessas informações”, o que origina investimentos com “pouco conhecimento” ou então inércia por receio de perder as poupanças, adianta o economista Filipe Garcia. Por sua vez, Pedro Lino admite que a informação prestada é “normalmente complicada” e que esse é um problema não apenas dos emitentes que comercializam os produtos financeiros, mas também de quem faz essa legislação “porque os regulamentos e diretivas também são complicados e não são acessíveis ao comum dos investidores”, conclui o administrador da Dif Broker.

Segundo os resultados do 2º Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa do Banco de Portugal, 82,9% dos inquiridos refere ler a informação pré-contratual e 80,9% a informação contratual dos produtos financeiros que contrata. Contudo, 13% admite que não lê nenhuma das duas, confiando apenas no que lhe é transmitido oralmente pelo emitente.

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