Prova dos 9: A economia não estava a arrancar em 2015, como diz Centeno?

Mário Centeno foi convidado do Governo-Sombra da TVI e afirmou que a economia não estava a arrancar em 2015 e havia dúvidas em 2016. Será mesmo?

Mário Centeno foi o convidado do último Governo-sombra do ano, um programa da TVI, e afirmou que a a economia portuguesa não estava a arrancar em 2015 e não estava a crescer em 2016. O ECO faz a Prova dos 9 desta afirmação do ministro das Finanças.

A frase

“Em 2015, a economia estava com dúvidas, a economia não estava a arrancar. Eu acho que nós não temos a perceção perfeita disso. Por isso é que o conceito do diabo apareceu na primavera de 2016” (…) Porque a economia portuguesa não estava, de facto, a crescer em março de 2016, e não era por causa do Governo que tinha tomado posse há cinco meses”.

Os factos

O Governo de António Costa tomou posse no dia 26 de novembro de 2015, e o último trimestre de 2015 já é de desaceleração em relação aos três primeiros trimestres de 2015. De acordo com os números oficiais do INE divulgados em 2017, a economia portuguesa tinha crescido 1,8% em 2015 e, depois, em 2016, no primeiro ano de governação de António Costa, o Produto Interno Bruto (PIB), em volume, tinha abrandado, para 1,6%. Ainda assim, posteriormente, em setembro deste ano, os números foram corrigidos, com a inclusão de informação mais recente.

De acordo com a notícia divulgada, então, pelo ECO, a economia tinha crescido, afinal, 1,9% em 2016, uma décima mais do que em 2015. “O PIB cresceu 1,9% em 2016 e 2,8% em 2017. Os números são novos e foram publicados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Estes valores revelam que a economia esteve melhor do que se pensava até agora e que, afinal, entre 2015 e 2016, a economia não travou. Antes pelo contrário – acelerou, ainda que ligeiramente”.

Porquê? O INE explicava, no relatório sobre as contas anuais de 2016, que a revisão em alta de 0,3 pontos percentuais na variação do PIB de 2016, de 1,6% para 1,9%, resultou da contabilização de mais 986 milhões de euros no PIB nominal, que resultou da inclusão de informação nova e definitiva. “O Investimento e o Consumo Final das Famílias foram as componentes com maior contributo para a revisão do nível do PIB”, justificou o INE.

Já a variação trimestral do PIB, em variação homóloga, teve um comportamento irregular nos anos de 2015 e 2016. De acordo com os números do INE, a economia acelerou 1,9% em cada um dos três primeiros trimestres de 2015, mas abrandou para 1,6% nos últimos três meses do ano, ‘apanhando’ a formação do governo de António Costa e os acordos com o PCP e BE, e a chamada Geringonça. Nos primeiros dois trimestres de 2016, o PIB trimestral abrandou ainda mais, para 1,3%. Foi o período da intervenção do Banif e, depois, quando o Governo apresentou em Bruxelas o primeiro orçamento do ano, que foi devolvido por Bruxelas e que criou dúvidas nos próprios mercados, com os juros da dívida portuguesa a acelerarem para um valor acima dos 3% nas Obrigações do Tesouro a 10 anos. Nessa altura, Mário Centeno agravou os impostos indiretos para responder às exigências da Comissão Europeia e do próprio Eurogrupo. Nos dois trimestres seguintes, já com o orçamento aprovado, e a desconfiança dos agentes económicos e dos mercados dissipada, a economia acelerou, para 2,3% no terceiro trimestre e de forma mais expressiva nos últimos três meses do ano, para 2,8%.

Prova dos 9

A afirmação de Mário Centeno está quase errada. O ministro das Finanças diz que havia dúvidas no primeiro trimestre de 2016, e a economia até já vinha a demonstrar sinais de abrandamento (e de “dúvidas”, nas palavras de Centeno) nos último três meses do ano. É verdade. Mas ao contrário do que afirma o ministro, foi mesmo um resultado direto das incertezas geradas pela formação do governo do PS com o apoio do PCP e BE, depois de António Costa perder as eleições de outubro para Pedro Passos Coelho. Foi nesse período que o crescimento económico abrandou. Antes, em finais de 2014, já tinha mesmo arrancado. A economia já vinha a recuperar desde 2014, quando apresentou um crescimento marginalmente positivo e um acréscimo do PIB já em aceleração em 2015. As dúvidas instalaram-se entre o último trimestre de 2015 e os dois primeiros de 2016, enquanto não era claro qual a política económica e orçamental do governo e a estabilidade política da geringonça.

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