Incerteza no Brexit penaliza crescimento do Reino Unido

Influenciado pela incerteza do Brexit, mas também pelo abrandamento dos restantes parceiros económicos, nomeadamente na UE, o crescimento do Reino Unido em 2019 vai ser “fraco”.

Com o aproximar do dia 29 de março — dia definido para a concretização do Brexit — a economia britânica sofre sem a aprovação de um acordo que defina o rumo das relações comerciais entre o Reino Unido e a União Europeia (UE), mas também resultado do abrandamento da economia europeia que não está imune às pressões da da guerra comercial.

Num dia “chave” para a realização do Brexit, o ECO recuou alguns meses para fazer um ponto de situação no que toca ao crescimento britânico. Afinal de contas, como pára a economia do Reino Unido? O país prepara a saída da União Europeia, mas a incerteza domina, traduzindo-se em quedas da produção industrial e nas próprias previsões de evolução do Produto Interno Bruto — 2019 vai ser um ano de crescimento moderado apontam as organizações internacionais.

O Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de 2018 — os últimos dados disponíveis — cresceu 0,6%, o que consiste numa trajetória de aceleração desde o primeiro trimestre do ano passado, quando a economia cresceu apenas 0,1%, segundo os dados do Eurostat. Mas este desempenho positivo acaba por ser contrariado pelo Gabinete de Estatística Britânico (ONS, na sigla inglesa) que apresenta dados mais recentes. Se for tido em conta o trimestre terminado em novembro, a economia britânica cresceu 0,3%, o que representa um abrandamento face aos 0,4% registado no trimestre terminado em outubro.

Um desempenho que acompanha o aumento da incerteza face ao Brexit, mas também dos restantes parceiros europeus. No terceiro trimestre, a economia a 28 cresceu 0,3%, uma desaceleração face aos 0,5% do segundo trimestre. Na Zona Euro, o abrandamento é ainda maior — um crescimento de apenas 0,2% no trimestre que termina em setembro. O Eurostat só vai revelar a estimativa rápida do PIB no quarto trimestre a 31 de janeiro, altura em que será possível verificar o abrandamento da economia.

A maior queda na produção industrial britânica desde agosto de 2013 registada em novembro não é um bom pronuncio. Em novembro, a produção industrial britânica caiu 1,5%, penalizada pela diminuição da procura externa, sobretudo no que toca às indústrias automóvel e farmacêutica. O crescimento tem sido, assim, sustentado pelos setores dos serviços — que corresponde a cerca de 80% da economia britânica — e da construção.

O Reino Unido não é, contudo, o único país com quebras na produção industrial. Antes, já a Alemanha e a França tinham revelado dados semelhantes. As economias mundiais têm sofrido com a guerra comercial entre os Estados Unidos da América (EUA) e a China, que está ainda em fase de tréguas, mas que já fez mossa no comércio internacional.

Comissão Europeia, FMI e ONS: todos apontam para “fraco” crescimento

Segundo a Comissão Europeia, mesmo que a saída do Reino Unido da União Europeia seja “suave”, 2019 será um ano de fraco crescimento para a economia britânica. Moderado investimento empresarial e fraca procura externa são os dois fatores chaves que o determinam, alertam as previsão da comissão, que antevê um crescimento do PIB de 1,2% em 2019 e 2020.

O mais recente relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre o crescimento das principais economias confirma os sinais de desaceleração no Reino Unido. O final de 2017 foi o ponto em que o crescimento inverteu a tendência, começando a diminui e não tendo, até agora, mostrado significantes mudanças de comportamento.

o Fundo Monetário Internacional (FMI), diz que qualquer quer seja o cenário do Brexit “acarretará custos para a economia”. Contudo, uma saída desordenada terá “um resultado significativamente pior”, refere a dirigente do fundo, Christine Lagarde. O FMI prevê não só uma redução do crescimento, como o aumento do défice, a depreciação da libra esterlina, e a perda de dimensão da economia do Reino Unido.

França ganha terreno graças ao “crescimento moderado” do Reino Unido

Um relatório da consultora PwC mostra que a economia do Reino Unido deverá abrandar, descendo, assim, de posição no ranking internacional. A queda no valor da libra, juntamente com o crescimento lento, fará com que o país desça do quinto lugar no ranking do PIB para uma posição apenas um pouco acima da Itália, que está em oitavo lugar, e do Brasil, em nono.

Este ano, o Reino Unido deverá ficar atrás da Índia e de França, que até agora estavam muito “taco a taco”. “O Reino Unido e França alternam-se regularmente no que toca à maior economia, mas o crescimento moderado no Reino Unido em 2018 e, novamente, em 2019 fará, provavelmente, pender a balança a favor da França. A força relativa do euro em relação à libra é um fator importante aqui”, diz Mike Jakeman, economista da PwC, citado pelo The Guardian (acesso livre, conteúdo em inglês).

De acordo com o relatório da PwC, a economia do Reino Unido deverá começar a acelerar apenas a partir de 2020, à medida que a incerteza em torno do Brexit recua.

O que dizem os especialistas?

Pablo Shah, economista do Centro de Economia e Pesquisa de Negócios (CEBR, na sigla inglesa), diz ao The Guardian que o crescimento britânico deverá permanecer fraco nos próximos meses. “Os números mostram que a economia do Reino Unido entrou agora no que, provavelmente, será um período prolongado de crescimento fraco”, afirmou.

“A CEBR prevê que a economia do Reino Unido irá crescer 1,1% em 2019, o que se traduz no ano mais fraco desde a recessão de 2009, uma vez que a incerteza económica continua a prejudicar o sentimento entre empresas e famílias”, explica Pablo Shah.

A consultora PwC prefere reforçar aqueles quer considera serem os efeitos de um Brexit “desordenado”, que pode “levar a um aumento acentuado do desemprego”. Por outro lado, “assumindo um Brexit ordenado, esperamos que o Reino Unido veja os níveis de emprego estabilizar”.

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