Draghi sinaliza que primeira subida de juros na Zona Euro poderá esperar até 2020

Apesar de o BCE não ter feito qualquer alteração ao plano atual, o presidente confirmou que a opinião do mercado sobre aumento das taxas só no próximo ano alinha com a estratégia.

O plano de compra de dívida e juros em mínimos históricos até, pelo menos, depois do verão deste ano mantém-se, mas o Banco Central Europeu (BCE) poderá esperar até ao próximo ano. Questionado sobre a expectativa dos mercados de que a primeira subida aconteça apenas em 2020, o presidente da instituição, Mario Draghi, explicou que significa que a estratégia foi compreendida.

“Quando os mercados apontam para a primeira subida dos juros em 2020, estão a utilizar a parte de contingência da nossa forward guidance. Avaliam as perspetivas económicas dessa forma e isso mostra que compreendem a nossa função de reação“, disse o italiano, na conferência de imprensa desta quinta-feira que se seguiu à reunião do Conselho de Governadores do BCE.

Os juros de referência da Zona Euro estão em mínimos históricos desde 2015 e, esta quinta-feira, mantiveram-se assim. A taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento continua em 0%, enquanto as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito permanecerão em 0,25% e -0,40%, respetivamente.

O foco é cada vez maior nos juros já que o BCE terminou o programa de compras líquidas de dívida em dezembro, tendo iniciado o reinvestimento de juros e títulos que atingem as maturidades. Não houve alterações no discurso, que indica que os mínimos históricos deverão continuar até, pelo menos, depois do verão de 2019. No entanto, Draghi reconheceu maiores pressões à política monetária europeia.

Economia mais fraca e riscos maiores

“As informações recebidas continuaram a ser mais fracas do que o esperado devido à procura externa mais branda e a alguns fatores específicos de cada país e setor”, afirmou Draghi. “A persistência de incertezas em relação aos fatores geopolíticos e à ameaça do protecionismo está a pesar no sentimento económico“.

O presidente do BCE explicou que os participantes na reunião foram consensuais na opinião sobre o momento económico mais fraco, sobre o aumento dos riscos, bem como as razões para a situação: incertezas relacionadas com a guerra comercial e as implicações do Brexit, a par de problema específicos de países como o travão na economia da China, o desvanecer no impulso da reforma fiscal nos EUA ou a indústria automóvel na Alemanha.

“É uma longa lista de fatores. A ideia geral é que a persistência de incertezas. Caso estas persistam, esperamos que o impulso mais fraco continue”, disse, sublinhando: “Os riscos em torno das perspetivas de crescimento da Zona Euro movimentaram negativamente“.

As palavras mais pessimistas de Draghi levaram a uma quebra nas ações europeias logo após o início da conferência de imprensa. O índice pan-europeu Stoxx 600 anulou os ganhos da sessão e segue a perder 0,05%, às 14h50, enquanto o índice que reúne os maiores bancos europeus atingiu mínimos intradiários. A moeda única deprecia-se 0,11% para 1,1368 dólares.

Implicações por determinar em março

Apesar disso, Mario Draghi considera que “os governos estão a lidar com os riscos”, enquanto as condições de financiamento favoráveis, a dinâmica favorável do mercado de trabalho e o crescimento salarial crescente “continuam a sustentar a expansão da Zona Euro e o aumento gradual das pressões inflacionistas”.

Os governadores que compõem o conselho do BCE admitiram ainda que a desaceleração da economia e o aumento dos riscos poderá vir a ter impacto nos instrumentos de política monetária: taxas de juro e compra de ativos. Draghi atirou os pormenores para março, quando o banco central irá atualizar projeções económicas para a Zona Euro e indicou que poderão já estar a pensar em alternativas para estimular a liquidez.

Draghi explicou que vários membros do Conselho de Governadores referiram a possibilidade de lançar novas operações de refinamento de longo prazo (TLTRO, na sigla em inglês), tal como vários intervenientes do mercado têm indicado esperar. Mas o BCE quer garantir que o programa só será implementado se necessário.

“Os economistas dizem que, se quisermos fazer as TLTRO, deve haver um bom argumento em termos de política monetária. Por outras palavras, queremos ter TLTRO ou LTRO para tratar de casos de fragmentação existente ou provável no espaço da política monetária. Não queremos estar novamente na situação em que estávamos em 2012, 2013 e 2014, quando reduzimos as taxas de juros de referência e não se traduziu em taxas de financiamento mais baixas“, acrescentou Draghi.

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